Difícil dar adeus. Foto / Karin Henseler/Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Confesso que não sou a melhor pessoa para consolar alguém que recebe uma notícia ruim. Me lembro que há alguns anos estava com meu cachorro numa clínica veterinária esperando para ele ser atendido quando duas mulheres, que pareciam ser mãe e filha, entraram assustadas carregando um cachorro e passando direto pela recepção.

Permaneci sentadinha e, um bom tempo depois, as duas saem chorando muito. E eu, já imaginando o que tinha acontecido, também comecei a chorar. Me levantei e, num impulso, abracei aquelas duas mulheres e choramos as três juntas.  Meu cachorro, que estava no colo, ficou bem assustado, coitado.

Quando olho para a porta de acesso ao corredor, percebo que o veterinário do meu cachorro estava olhando a cena sem saber se me chamava ou não. Olhei para ele e então ele fez um sinal para eu entrar. Me despedi daquelas pessoas dizendo: Que Deus abençoe vocês com muita força.

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Antes de começar a consulta o veterinário comentou que foi uma pena o que tinha acontecido, então criei coragem e perguntei:

– O que aconteceu com o cachorro?

Ele, sem entender direito, me olhou e perguntou:

– Você não sabe o que aconteceu? Por que você estava chorando?

E eu respondi:

– Elas saíram tão tristes, chorando tanto que eu não me contive e comecei a chorar junto.

– Mas você conhece aquelas pessoas? –perguntou o já indignado doutor, que sempre teve fama de ser um profissional extremamente prático, sem muito lero-lero.

Eu respondi que nunca as tinha visto. Ele balançou a cabeça, deu um sorrisinho e disse:

– Você estava abraçada com pessoas que não conhece, chorando a morte de um cachorro que também não conhece, é isso?

Nesse momento descobri que o cachorro tinha morrido e disparo:

– Sabia que o cachorro tinha morrido, coitadinho –já quase chorando de novo.

Ele então começou a rir pra valer, no que eu falei.

– Doutor, acho que isso não tem graça.

E ele me respondeu.

– Ah, me desculpe, mas tem sim, porque eu achava que você conhecia aquelas pessoas, o cachorro, e por isso estava chorando abraçada com elas.

– Não –respondi. Porque nem eu sei explicar o que acontece. Só sei que não preciso conhecer a pessoa para chorar o problema junto com ela. Choro mesmo. Me emociono até com propaganda na TV, algo que faz marido e filho me zoarem muito. Fazer o que?

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Dá pra entender?

Esse fim de semana uma amiga querida teve que dizer adeus para a sua cachorrinha e me mandou uma mensagem no celular dizendo: “Nina se foi…”. Ah, bastou. Claro que desabei no choro. Fiquei pensando em como a minha amiga estava sofrendo, porque ela e a Nina eram inseparáveis há mais de 11 anos. Eu achava que elas até se pareciam, juro.

Dois dias depois encontrei essa minha amiga na rua. Enquanto andava na sua direção já fui mandando mensagens para o meu cérebro: não vai chorar, não vai chorar, não vai chorar…

Nina: brilha, brilha, estrelinha. Foto / Arquivo pessoal

Abracei minha amiga e ela me disse: se você não chorar eu não choro. Engoli o choro na hora, mas ele abafou a minha voz, que não saia, e fiquei com medo de começar a falar e o choro sair junto. Que situação…

Ela, que estava acompanhada de uma outra amiga, começou a contar dos encontros dos nossos cachorros, das caminhadas que fazíamos com eles, e foi deixando tudo tão leve que aquele nó que eu estava sentindo no estômago foi se desafazendo.

Enquanto minha amiga falava, fui percebendo o quanto ela já havia aprendido com aquele adeus, como ela estava procurando focar nas coisas boas e não nas coisas tristes. É claro que ela vai sentir falta da Nina, vai chorar algumas vezes; e nem tem como ser diferente.

Mas pra que chorar por causa de um cachorro, de um gato, de um passarinho, de um bicho… perguntaria aquela pessoa que não consegue entender o amor entre uma pessoa e seu bicho de estimação.

Porque eles fazem parte da nossa vida durante anos. Comem da nossa comida, dormem no nosso sofá –alguns até na nossa cama– ficam ao nosso lado enquanto trabalhamos, assistimos TV, fazemos comida, enfim, não tem como não sentir falta. Dá pra entender?

Dá, diria o veterinário do meu cachorro. O que não dá pra entender é a pessoa se abraçar com desconhecidas e chorar a morte de um cachorro também desconhecido.

Pois é, como diz a música: não aprendi dizer adeus… pra ninguém, até pra quem eu não conheço. Enfim, essa sou eu, muito prazer!

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.

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