Rubi e Jade são os “chicletinhos” da Paola. Foto / Instagram/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Elas são simplesmente lindas e já foram protagonistas de um filme de animação que fez muito sucesso (com direito a parte 2). São exuberantes nas cores, mas também são barulhentas, cheias de energia, repletas de manhas e de muitas manias. Estou falando das maravilhosas araras, que em tempos de redes sociais estão fazendo muito sucesso como pets de estimação.

Mas e aí, quanto custa ter uma arara dentro de casa? Ou melhor ainda, isso é permitido? O que elas comem? Elas vivem em gaiolas?

Quem vai responder essas e várias outras questões sobre esses bichinhos lindos é a estudante de veterinária Paola Martines, de 29 anos, que é “mãe” de duas araras: Jade, de quatro anos, uma arara-canindé (nome científico Ara ararauna), e Rubi, um macho de sete meses da espécie arara-vermelha (nome científico Ara chloropterus). Mas, para os íntimos, Jade barriga de manga e Rubi barriga de morango.

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Mão na consciência

No filme de animação “Rio”, do brasileiro Carlos Saldanha, as protagonistas são duas ararinhas-azuis, Blu e Jade (espécies extintas no Brasil desde os anos 2000), que sofrem horrores para fugir dos traficantes de aves, uma prática infelizmente muito comum, que retira o animal de seu habitat natural, sem dó nem piedade, para ser vendido. Já no filme “Rio 2”, a história gira em torno do desmatamento desenfreado da Amazônia, o que também contribui para acabar com as espécies nativas.

De qualquer forma, o recado é um só: se você quer ter uma ave, como uma arara, por exemplo, coloque a mão na consciência e jamais –eu disse jamais– compre esse tipo de animal das mãos de atravessadores. Pra você ter uma ideia, de cada 10 aves que são traficadas ilegalmente, apenas três chegam vivas ao seu destino.

Paola conseguiu comprar a Jade e o Rubi em criadouros legalizados. Só eles podem vender esse tipo de ave. E olha só como funciona: a pessoa paga metade do valor enquanto a ave ainda está no ovo e o restante é pago quando vai buscar o animalzinho. Nesse momento, ela recebe todos os papéis necessários para provar que a ave não veio por meio de “mãos sangrentas”. É praticamente uma certidão de nascimento, com todos os dados do animal, tutor e criadouro.

Se você está curioso pra saber o preço dessas aves, olha só: as da espécie arara-canindé –com as penas amarelas e azuis– custam entre R$ 6 mil e R$ 8 mil, e as da espécie do Rubi, araras-vermelhas, são ainda mais caras, custam entre R$ 12 mil e R$ 15 mil.

Mas os gastos não param por aí. É necessário comprar uma ampla gaiola – mesmo que ela vá ficar livre pela casa. Esse tipo de ave necessita ter um local onde se sinta segura e a gaiola é esse local, onde ela não só dorme e come, como também pode se esconder caso se assuste com algo.

Maracujá com ração dentro, para distrair a criança. Foto / Arquivo pessoal

E se você quiser um bichinho feliz, terá que comprar brinquedos, muitos brinquedos. Ou ser muito criativo e fazer você mesmo brinquedos variados e resistentes a bicadas, porque a arara tem muita energia e precisa gastar isso, caso contrário ela acaba se mutilando: arranca as próprias penas, bicando os pés ou o corpo.

Na verdade, Paola nos informa que quem quer ter uma arara deve se preparar para ter um bicho que pode viver até os 80 anos com a energia de uma criança de 3 anos, ou seja, não é mole, não… Além disso, elas berram quando cismam com alguma coisa e, de acordo com Paola, esses berros –quando vêm do fundo da alminha delas– fazem vibrar as janelas, de tão altos. Criá-las em apartamento? Acho que não é uma boa ideia, mas não é impossível.

Pior mesmo é criá-las como se fossem enfeites, objetos de decoração. Quando a decoradora ou o próprio dono da “mansão” olha ao redor e fala: podemos colocar umas aves vivas e coloridas aqui, para dar um charme. E lá vão as araras pagar pela ignorância e pobreza de espírito do ser humano. Porque, como qualquer outro ser vivo, essa ave adora um carinho, um chamego, uma conversa fiada melosa, e simplesmente odeia ficar num canto sozinha, esquecida.

Paola, por exemplo, acorda cedinho, limpa as gaiolas, higieniza todos os brinquedos e fica bolando várias estratégias –às vezes com a própria comida– para distrair Jade e Rubi durante o dia. Ela até me mandou umas fotos com as suas ideias.

Jade tentando soltar a pinha. Foto / Instagram/Reprodução

Em uma delas, Rubi aparece brincando com um maracujá pendurado, onde Paola escondeu vários grãos de ração dentro da fruta. Em outra, Jade tenta soltar uma pinha enrolada numa cordinha. Paola também faz brinquedos com potinhos de iogurte, madeiras, gravetos, tudo que possa chamar atenção de suas aves, distraí-las e fazer com que gastem energia.

E elas bicam? Sim, às vezes arrancam até sangue, conta Paola. E isso também é mais um agravante para deixar a ave trancada, porque as pessoas querem o bicho, mas não querem o trabalho que ele dá, ou as “bad” que ele tem, como qualquer outro ser vivo.

Muitos querem o bicho apenas para se mostrarem e, como eu disse no começo desse texto, por serem maravilhosas de lindas, as araras estão ganhando espaço como pets de estimação até por conta de chamarem a atenção nas redes sociais, onde vale tudo para ganhar seguidores.

Mas posso garantir que esse não é o caso da nossa querida Paola, que além da Jade e do Rubi, tem outras quatro calopsitas e desde os seus 5 anos de idade tem aves como animais de estimação. Aliás, depois de se formar como veterinária, sua intenção é se especializar em pets não convencionais, como répteis, roedores e, claro, as aves. Parabéns, Paola! Que a sua dedicação sirva de exemplo às pessoas que querem ter uma arara como animal de estimação, porque, como eu já disse, não é mole, não…

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.

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