Sinceridade demais atrapalha: Tyson está à espera de um lar. Foto / site CCZ-SJCampos/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Visitei o novo site do CCZ – Centro de Controle de Zoonoses, da Prefeitura de São José dos Campos, que dispõe de uma espécie de catálogo on-line, com cães e gatos disponíveis para adoção, e posso adiantar que o que não falta na apresentação dos animais é sinceridade.

É tanta sinceridade que, penso eu, pode até espantar quem visita o site com pretensões de adotar. Vou dar só um exemplo pra você entender melhor: “Jimmy é um cão muito forte, territorialista e temperamental. Animal de manejo difícil e cauteloso, hostil com pessoas e animais. O processo de adoção deve ser gradual e seu novo tutor deverá buscar orientações sobre adestramento para adotá-lo”.

E aí, você adotaria o Jimmy se lesse essas suas características? Claro que transparência é fundamental, mas não estamos falando de um produto que é pronto. O site apresenta um animal, um ser vivo, que pode ser “difícil, hostil, de difícil manejo”, mas será que ele vai ser assim para todo o sempre?

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A ideia da adoção on-line é fantástica, mas é preciso que funcione e, do jeito que está, tenho minhas dúvidas. Para uma cidade que foi certificada como a primeira mais inteligente do Brasil, devo dizer que este site está longe de fazer jus a isso e, pior, mais longe ainda de incentivar a adoção.

A começar pela apresentação da página. As fotos dos animais não são boas e o texto que descreve cada um deles tem as letras em caixa alta (letras maiúsculas), ou seja, algo nada aconselhável para um site, tanto por dificultar a leitura, como pelo fato de que, na internet, textos em letras maiúsculas são o mesmo que gritar.

Sem falar ainda que as informações sobre os bichinhos pontuam algumas situações desnecessárias sobre o seu passado ou comportamento, considerando que esses animais estão em busca de um lar, de carinho. E deixam nas entrelinhas informações legais como o fato de serem castrados, microchipados e estarem com todas as vacinas em dia, por exemplo.

Este é o Jimmy. Foto / site CCZ-SJCampos/Reprodução

Sugestões

Bem sei que ninguém me pediu nada, mas como venho escrevendo semanalmente sobre pets há mais de um ano, seguem aqui algumas sugestões ao CCZ para incentivar a adoção dos pets.

Acho que seria bem legal se o próprio animal se apresentasse, ou seja, um texto na primeira pessoa, com leveza, descrevendo suas principais qualidades, despertando em quem lê a vontade de querer ter aquele bichinho.

Também capricharia nas fotos, até porque bons fotógrafos é o que não falta na Prefeitura. Todo mundo sabe que uma boa foto, além de chamariz, é garantia de, no mínimo, 50% de sucesso na empreitada. Nesse caso, a foto ganha os olhos e, dali, para ganhar o coração pode ser só um pulinho.

Outra sugestão é levar o animal até a casa da pessoa que está querendo adotar, às vezes isso pode ser um impeditivo para quem quer fazer essa ação, pois nem todos possuem carro ou alguém que possa ir buscar o animal. Feita a adoção, fotografar, gravar e postar tudo nas redes sociais, contando a história do animal e o seu final feliz ao encontrar uma família, encorajando outras pessoas a fazerem o mesmo.

E o melhor de tudo seria se esses bichinhos adotados por meio do CCZ tivessem acompanhamento médico gratuito por toda a vidinha deles, já que a maioria das pessoas fica com medo de não conseguir arcar com as despesas de vacinas e outras situações envolvendo o bem-estar do animal. Lembrando ainda que boa parte dos animais que estão para adoção na Zoonose é de velhinhos, e essa ação, com certeza, aumentaria as chances de adoção desses senhores e senhoras.

Por fim, eu faria uma página no site da CCZ com fotos e as histórias dos animais já adotados, com suas respectivas famílias, para aquecer o coração de quem ama os bichos e animar aqueles que pensam em adotar.

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Se a cidade foi certificada como a mais inteligente do Brasil é preciso que se perceba isso, que a gente consiga ver e sentir que isso é realmente verdade. Porque não dá pra explicar uma cidade inteligente com abrigos abarrotados de animais, sem nenhuma ajuda da Prefeitura, além de centenas de animais abandonados pelas ruas, principalmente em bairros da periferia.

Não sei bem qual o conceito da palavra “inteligente” no certificado que a cidade ganhou, mas com certeza nada tem a ver com diminuir, ou mesmo acabar com o sofrimento dos animais abandonados, não do jeito que a coisa está. Nesse caso não falta só inteligência, mas boa vontade em fazer a coisa certa, com toda a sinceridade do mundo.

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.

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