Quem já ganhou um cachorro de presente de aniversário? Pois é, me lembro que –há muito tempo– estava na festa de aniversário de uma amiga quando uma pessoa apareceu com um cachorro de presente. Todo mundo que estava por lá parou pra ver a reação da aniversariante. Ela, muito sem graça com o cachorrinho na mão (um puro vira-lata pequenininho), só conseguia dizer que não poderia aceitar aquele presente, apesar de lindo.
Porém, a pessoa que deu o presente só falava maravilhas do bichinho, alegando inclusive que ele não iria crescer muito, que ficaria no máximo do tamanho de um telefone. Naquela época ainda usávamos telefones fixos. Conclusão, minha amiga acabou cedendo aos encantos do filhotinho, mas principalmente baseada no fato de que ele não iria crescer muito, já que ela morava num apartamento.
Passado um bom tempo encontrei com essa minha amiga na rua e, papo vai, papo vem, lembrei de perguntar do cachorro. Ela fez uma cara de deboche e disse:
– Você precisa conhecê-lo.
Eu, toda cheia da razão, já fui logo falando:
– Ele é uma coisinha fofa e você ficou toda apaixonada, acertei?
Ela riu e respondeu:
– Apaixonada eu estou, mas coisinha ele não é mesmo. Quando me disseram que ele ia ficar do tamanho de um telefone só esqueceram de me falar que esse telefone era um orelhão. E caiu na risada.
Eu acabei rindo junto, porque fiquei imaginando o tamanho que o cachorro deveria estar. Ela explicou que ele cresceu, mas que o amor cresceu junto e que ambos foram se adaptando às situações, como a de passear duas ou três vezes ao dia, dividir o sofá e pedidos para que ele não latisse alto.
Lembrei dessa história porque essa é uma situação recorrente: comprar, adotar ou mesmo ganhar um cachorro com a promessa de que ele vai ficar pequeno, e quando isso não acontece, muitos acabam se desfazendo do animal como se fosse um objeto que não cumpriu a sua função.
Como você ousa crescer?
Eu já ouvi de uma pessoa que o cachorro era pequenininho e bonitinho, mas depois começou a crescer e por esse motivo ela não queria mais ele. Como assim, não é mesmo? Como um cachorro ousa crescer? Ousa deixar de ser filhote e bonitinho?
Nos grupos de adoção de animais, quando aparecem filhotes de cachorro as perguntas mais recorrentes são: Vai crescer muito? Qual o tamanho da mãe? Esse era o menor da ninhada? Claro, algumas pessoas têm problemas com espaço e por isso querem um animal menor, mas a maioria quer mesmo é ter um cachorro que fique com o tamanho e a carinha de filhote para todo o sempre, algo completamente impossível.
Beatriz de Souza, por exemplo, se apaixonou por um filhotinho e ouviu da pessoa de quem estava adotando: fica tranquila que ele não vai crescer nada. Hoje, Arthur –nome do cachorrinho– pesa mais de 30 quilos e, se ficar de pé nas patas traseiras, fica com 1,55m, quase do tamanho da Beatriz.
Claro que ela não esperava que ele fosse crescer tanto, mas em nenhum momento passou pela sua cabeça se desfazer dele. Segundo Beatriz, é um cachorro extremamente dócil, adora brincar com as crianças, com outros cachorros, mas por conta do seu tamanho ela coloca focinheira nele para não assustar as pessoas.
Pata grande, cachorro grande
Para saber se o cachorro vai crescer muito é só ver o tamanho da pata do filhote. Se for uma pata grande e gordinha, pode saber que ele vai ficar grande. Quanto maior a pata, maior o cachorro fica. Existem algumas raças que é possível saber –mais ou menos– o tamanho que o cachorro vai ficar, mas ainda assim eu já ouvi de várias pessoas que não esperavam que o seu cachorro crescesse tanto, e falam isso com um certo ar de desânimo.
Aliás, quem compra cachorro de algumas raças específicas, como lulu da pomerânia, shih-tzu, lhasa-apso, poodle, yorkshire ou maltês, reza para que ele fique o menor possível, pois ficará ainda mais, digamos, “chique”. E a verdade é que, quanto menor, mais caro, já que são os mais desejados.
A maioria dos vira-latas, entretanto, é de porte médio a grande, dificilmente eles ficam pequenos. Então, quando a pessoa vai adotar tem que ter em mente que aquele filhotinho vai crescer e sabe Deus quanto. Mesmo que ela não tenha espaço suficiente, pode se programar e fazer uns passeios para que o animal não fique entediado ou estressado.
O carinho, o amor, vêm de qualquer jeito, não importa o tamanho da sua casa, apartamento ou quintal; a marca do seu carro, moto ou se você anda de ônibus; não importa o que você faz ou deixa de fazer na vida, o que eles querem é alguém para amar. Porque é isso o que os cachorros sabem fazer nessa curta vida deles –sejam de raça ou vira-latas, pequenos, médios, grandes ou enormes, gorduchos ou magrelos–, o que eles têm em comum é amar os seus donos como se fossem deuses. Portanto, o melhor caminho é: se não pode vencê-lo, junte-se a ele e ame-o.
Adote
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.