Estamos a poucos dias das eleições em nosso País e vejo se repetir aquele velho conhecido jogo de palavras. Como se não tivéssemos memória, políticos querem nos fazer crer que o que sai de suas bocas é a verdade pura, absoluta e incontestável. Chovem fake news e edição de vídeos! Com meus neurônios ainda bastante saudáveis, eu leio, pesquiso diferentes fontes, busco o contraditório e tiro minhas próprias conclusões, que podem ou não concordar com o que vejo na propaganda eleitoral.
Conclusões essas que, por vezes, estremecem laços de amizade com quem enxerga a sua verdade como absoluta, ainda que as provas lhe mostrem o contrário –pode ser doído dar razão ao outro e ver cair por terra suas crenças: mudar de opinião exige coragem e ousadia. Tudo na vida tem um preço, inclusive exercer o meu direito constitucional de liberdade de expressão; e com o respeito de sempre, quero exercê-lo até o último suspiro!
Em meio a essa polarização insana que se tornou a eleição presidencial no Brasil, escolhi um belo e sensível filme nacional para esta semana: “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”. Com direção de Cao Hamburger (“Castelo Rá-Tim-Bum”, “Xingu”, “Filhos do Carnaval”), esse drama de 2006 nos apresenta o garoto Mauro (Michel Joelsas: “Que Horas Ela Volta?”, “Eu Fico Loko”), que mora em Belo Horizonte, gosta de futebol e jogo de botão.
Repentinamente, há uma guinada em sua vida: seus pais, Bia (Simone Spoladore: “Insolação”, “Aos Pedaços”) e Daniel (Eduardo Moreira: “Meu Pé de Laranja Lima”, “Antes Que o Mundo Acabe”) saem de férias e o levam para ficar sob os cuidados do avô paterno Mótel (Paulo Autran, inesquecível por sua performance no teatro. Filmes: “Terra em Transe”, O Passado”), em São Paulo. Entretanto, o avô morre pouco depois e Mauro passa a morar com o vizinho Shlomo (Germano Haiut: “Quincas Berro D’Água”, “País do Desejo”), no bairro do Bom Retiro.
Intercalando cenas dos jogos da Copa do Mundo no México e a escalada da violência nas ruas da Capital, o autor nos localiza no tempo: 1970. Na verdade, os pais de Mauro chamam de férias sua fuga à repressão da ditadura e prometem ao garoto voltar durante a Copa. Sensível e tocante ver a inocência do menino enquanto atos políticos fervilham ao seu redor, num Bom Retiro que foi palco de tanta truculência policial.
Assim como o Holocausto, não há como negar que a ditadura militar existiu no Brasil… e pode estar mais perto do que se poderia imaginar. Disponível na Globo Play, convido você a assistir nesta semana de escolha eleitoral!
Série
‘Kleo’
E já que o texto anterior foi sobre política, eis uma boa série para se conhecer os dois lados da Alemanha: “Kleo” é uma divertida série da Netflix que traz a história de uma jovem espiã da Alemanha Oriental. Treinada desde pequena pelo avô Otto Straub (Jürgen Heinrich: “Julgamento em Berlim”, “Totalmente Trocados”), de alta patente da Stasi, Kleo (Jella Haase: “Looping”, “Casulo”) tem um romance secreto com outro agente, Andi (Vladimir Burlakov: “My Zoé”, “Sua Vida me Pertence”), mas ela é presa e condenada por matar um empresário na Berlim Ocidental e não recebe qualquer ajuda do partido, se vendo totalmente sozinha.
Ao ser libertada após dois anos, devido à queda do Muro de Berlim, Kleo tem a vingança como único objetivo e vai eliminando seus traidores, um a um. Há dois personagens que contribuem para a comicidade da série, que está em sua segunda temporada: Sven (Dimitrij Schaad: “Das Boot”, “Killing Eve”), um atrapalhado investigador de crimes tributários que tem certeza de que Kleo é uma assassina, e Thilo (Julius Feldmeier: “Das Boot”, “A Espiã”), um jovem esquálido que acredita ser oriundo de outro planeta, usa drogas, pratica ioga, frequenta discotecas e passa a morar com Kleo para que ela se sinta mais segura, tornando-se seu amigo.
Pegue a pipoca e divirta-se com essa série um tanto surreal, de cenas hilárias!
> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há dez anos na Vila Ema.