Por volta das 20h do domingo, mais uma vez o povo brasileiro –e o paulista, no nosso caso– decidiu o seu destino. Se fosse no Vaticano, teria saído uma fumacinha branca do alto da Capela Sistina para anunciar: “Habemus Papam”, ou seja, “temos um papa”. Por aqui, a “fumacinha” saiu dos computadores do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo).
No confronto paulista entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT), a população de São José dos Campos e da RMVale foi beneficiada com a vitória do primeiro, pelo menos devido à proximidade geográfica da chapa vencedora.
Se o domicílio eleitoral de Tarcísio em São José pode ser tratado como uma questão legal –atende à legislação eleitoral–, o vínculo de mais de 30 anos do paulistano Felicio Ramuth com a cidade é bastante forte. Quase seis anos à frente da Prefeitura, além de cargos de secretário municipal e presidente da Urbam (Urbanizadora Municipal), fazem dele um especialista em “assuntos joseenses”.
Felicio passa a ser o representante que mais avançou na história política de São José dos Campos. Tendo como chefe o nosso “vizinho” de Vila Ema, Tarcísio de Freitas, o município só tem a ganhar. É claro que, para merecer investimentos estaduais, o prefeito Anderson Farias (PSD) terá que continuar fazendo o dever de casa.
No plano federal, Luiz Inácio Lula da Silva e o seu PT ganharam a oportunidade de refazer suas histórias na política brasileira. Houve virtudes em governos petistas, principalmente na área social e em diversos indicadores econômicos, mas, na direção do país, deixaram uma imagem manchada por um projeto de eternização no poder baseado em corrupção. Agora, Lula terá quatro anos para realizar um governo de união nacional. Que tenha sucesso e consiga equilibrar a sua biografia política com um governo eficiente e honesto.
No momento em que digito as últimas linhas deste comentário, continuo ouvindo da janela da redação do SuperBairro os ruídos que elementos radicais, reforçados por inocentes úteis e “reféns” de última hora, continuam produzindo na rodovia Presidente Dutra e, especialmente, nas proximidades do DCTA. Até o presidente Jair Bolsonaro (PL) já reconheceu a derrota e está pensando em como será a oposição –que se espera democrática– ao novo governo.
Fica o convite aos manifestantes: cessem seus rojões, tirem as mãos das buzinas, limpem as estradas e continuem a exercer o papel de cidadãos. Fiscalizem os governos, acionem seus representantes e ajudem a escrever um futuro democrático e de progresso para o Brasil.
Wagner Matheus
ESPECIAL
Três perguntas sobre as eleições
A coluna Política & Políticos enviou três perguntas para políticos eleitos, autoridades e presidentes de três partidos políticos de São José dos Campos. O objetivo foi produzir um balanço sobre os resultados das eleições e sua repercussão para a cidade.
Dos convidados, receberam perguntas e não responderam: prefeito Anderson Farias (PSD), deputado federal Eduardo Cury (PSDB) e Wagner Balieiro, presidente municipal do PT. O presidente em exercício do PSD de São José, Sergio Theodoro, retornou e disse que quem responderia seria o prefeito Anderson. A coluna tentou contato com o deputado federal Milton Vieira (Republicanos), mas não obteve retorno.
Em tempo: pelo critério de nomes a serem ouvidos sobre o tema, o deputado estadual eleito Dr. Elton (PSC) deveria ser entrevistado. Porém, por uma falha do colunista ele não foi sequer contatado. O Dr. Elton será convidado a opinar em uma outra data.
Confira a seguir a análise do vice-governador eleito Felicio Ramuth (PSD), da deputada estadual Leticia Aguiar (Progressistas), do presidente da Câmara Municipal, vereador Robertinho da Padaria (Cidadania), do ex-prefeito Carlinhos Almeida (PT) e do presidente municipal do PSDB, José de Mello Correa.
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Qual a sua impressão sobre o resultado das eleições para presidente da República e governador do estado de São Paulo?
Felicio Ramuth – Vivemos uma das eleições mais polarizadas da história no plano federal e um momento importante de confiança em um grande projeto para o estado de São Paulo. Aqui no nosso estado, tivemos um primeiro turno em que terminamos com uma votação acima do que os próprios institutos de pesquisa apontavam. O resultado absolutamente claro apontou que a candidatura de Tarcísio foi a melhor para São Paulo que, depois de 30 anos, tem a oportunidade de um novo governo, com novas ideias, propostas e a chance de realizar o que precisamos em áreas determinantes como saúde, segurança e educação. Fruto do trabalho que realizamos para agregar novas lideranças políticas e buscar mais votos. No plano federal, sabíamos que a eleição presidencial seria muito disputada. A campanha do Bolsonaro começou muito bem no segundo turno, com apoio dos governadores, e depois teve problemas. Mas democracia é assim e alternância de poder acontece. A opção da população foi pelo retorno do ex-presidente Lula, que promete assumir como um “Lula repaginado” e nós vamos acompanhar esse trabalho. Sempre estaremos buscando o melhor para os paulistas e para todos que vivem em nosso estado.
Leticia Aguiar – São Paulo demonstrou ser totalmente contrário ao PT no poder, foi uma resposta contundente nas urnas. A maioria dos paulistas votou em Jair Bolsonaro para presidente. Estou extremamente preocupada com a volta da esquerda ao poder, tendo em vista que o histórico de corrupção foi o único legado dos 14 anos do PT. Tarcísio recebeu uma votação expressiva e teve uma vitória maiúscula nas urnas, isso demonstra que os paulistas não aguentavam mais a polarização entre PT e PSDB. E depois de 28 anos com governadores tucanos, temos pela primeira vez um governo estadual de direita, liberal na economia e conservador nos costumes.
Robertinho da Padaria – Acho que foi uma decisão democrática e defendo que a vontade da maioria é a que deve prevalecer. Agora é olhar para o futuro. Não podemos deixar de considerar que a diferença de votos entre os candidatos foi mínima, o que mostra que o país está dividido e todas as ações do próximo presidente serão acompanhadas e fiscalizadas com afinco pela população.
Carlinhos Almeida – Apesar de não termos atingido o objetivo de vencer no estado, nosso desempenho foi bastante positivo. Haddad foi para o segundo turno e fez uma campanha muito bonita. Lula teve mais de 13 milhões de votos acima do que tivemos no segundo turno em 2018, ganhamos na Capital e na Região Metropolitana de São Paulo e aumentamos nossas bancadas.
José de Mello Correa – Achei fantástico o processo democrático. Para quem me perguntava se eu achava que haveria algum problema, sempre respondi que não. As urnas funcionaram de forma perfeita, diferentemente do que estavam falando. O sistema é muito bom, às 19h30 nós já tínhamos resultados. Tanto para o governo do estado, com a eleição do Tarcísio e do Felicio, quanto no governo federal, com o Lula e o Alckmin, os resultados foram o que as pesquisas já mostravam. São governos que estarão iniciando. A gente deseja todo o sucesso para o Brasil e, principalmente, para São Paulo. E que isso se reflita aqui em São José, afinal teremos o governador e o vice-governador do estado.
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Qual é a sua posição em relação às manifestações de caminhoneiros e de parte da população contra a vitória do candidato Lula?
Felicio Ramuth – O resultado das urnas deixou clara a importância do bolsonarismo para o nosso país. Temos um grupo de pessoas –de direita, de centro-direita e de extrema-direita– que ao longo dos últimos anos passou a se manifestar e ser ativo politicamente. O importante é que esse grupo continue mobilizado na nova gestão do governo do Lula. É importante que o país não retroceda em pautas onde a gente conseguiu avançar muito, a exemplo da reforma trabalhista e da questão do imposto sindical. É importante que o Bolsonaro seja a grande liderança, a sua capacidade de mobilização é incontestável. Agora, isso deve ser utilizado no momento certo. Em minha opinião essa manifestação é precoce e sem motivo real que possa contribuir para o futuro do desenvolvimento. A maioria dos apoiadores políticos de Bolsonaro eleitos já reconheceu os resultados das urnas.
Leticia Aguiar – É garantido pela Constituição que todos podem reunir-se pacificamente, em locais abertos ao público, independentemente de autorização. Só não podemos utilizar os mesmos métodos da esquerda.
Robertinho da Padaria – As eleições acabaram no último domingo e é preciso aceitar o resultado, independentemente de quem o eleitor apoiou. A partir de agora devemos torcer para o nosso país dar certo com o presidente que a maioria escolheu. Nossa missão é acompanhar as ações do próximo governo, fiscalizar e cobrar. Não acho justo uma minoria que não aceita o resultado da eleição prejudicar grande parte da população com esse tipo de ato.
Carlinhos Almeida – Lula venceu as eleições e o resultado foi imediatamente reconhecido pelos presidentes da Câmara, Senado, STF e TSE, além de diversos chefes de Estado e de governo. O vice-presidente e o chefe da Casa Civil já estão tratando da transição. O governo eleito já começou a trabalhar. Vamos unir o país e trabalhar para todos, devolvendo aos brasileiros a tranquilidade para viver, trabalhar e correr atrás dos seus sonhos. Discordar do resultado é um direito, mas respeitá-lo é uma obrigação. O problema dos tumultos em rodovias é assunto a ser resolvido pelas autoridades competentes.
José de Mello Correa – Quando as manifestações são devidas a fatos políticos, ou para atender às necessidades da população, é claro que a gente apoia. Porém, acredito que está existindo um certo exagero. O ministro Alexandre de Moraes já convocou não só a Polícia Rodoviária Federal, que aparentemente não estava fazendo o serviço que se previa, convocou também as polícias militares. O nosso governador Rodrigo Garcia acionou a Polícia Militar e eu acho que os excessos devem ser combatidos. Acho que manifestação tem que ser na hora certa, mas sem atrapalhar. Pode ir para a rua, mas que se faça em uma praça, em locais que não atrapalhem as pessoas. Isso é do processo político, mas entendo que exageros como os que estão ocorrendo não são corretos.
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O que a vitória da chapa Tarcísio/Felicio representa para São José dos Campos?
Felício Ramuth – Primeiramente quero agradecer aos milhões de eleitores do estado de São Paulo, ao Vale do Paraíba e Litoral Norte, e especialmente à cidade de São José dos Campos, que compreendeu o movimento político que eu fiz. Passamos a gestão ao competente Anderson Farias, nosso atual prefeito, que tem feito um grande trabalho. E levamos nossos esforços para continuar ajudando São José dos Campos, ampliando as possibilidades de ajuda ao Vale do Paraíba e a todo o estado de São Paulo. São José dos Campos foi a cidade que deu a maior votação para a nossa chapa se compararmos com os dez maiores municípios do estado, bem como o Vale do Paraíba. A vitória do Tarcísio representa um grande avanço para o nosso estado, para a região e para a nossa cidade, que é exemplo de boas políticas públicas.
Leticia Aguiar – Considero a vitória importante para que São José assuma o protagonismo e o destaque que merece entre os municípios paulistas, e ratifique sua importância nacional e internacional como capital da indústria aeroespacial, do avião, da tecnologia e da inovação. Como deputada da cidade e do Vale do Paraíba, continuarei fazendo o meu melhor pela região e por São Paulo.
Robertinho da Padaria – Nossa cidade e nossa região só têm a ganhar com essa vitória. Além da excelente bagagem que Tarcísio carrega, Felicio conhece de perto nossas necessidades e atributos para colaborar cada vez mais com o crescimento da RMVale e do estado de São Paulo.
Carlinhos Almeida – Uma pena não termos um governador com a qualificação e o conhecimento de nosso estado como o Haddad, mas nós sempre respeitamos a decisão popular. Desejo ao Tarcísio e ao Felicio êxito em seus mandatos. Que façam o melhor por São Paulo e pelo Vale.
José de Mello Correa – Na vitória da chapa Tarcísio e Felicio, a gente pode observar que houve uma conjunção de fatores, de partidos e de pessoas que se juntaram a esse processo, inclusive o governador Rodrigo Garcia e parte do PSDB. Para São José representa muito. O Felicio, que foi prefeito, foi secretário, entende as necessidades, acho que vai ser muito positivo, mostrar que esse novo governo vai trazer investimentos e benefícios para a cidade. Tenho certeza de que isso vai acontecer pelo carinho e amor que especialmente o Felicio tem pela cidade. E, claro, com o Tarcísio, que agora tem o seu domicílio eleitoral aqui em São José.
BATE-PAPO COM…
Gil Castillo comentando o segundo turno
Depois de analisar o primeiro turno das eleições a convite da coluna Política & Políticos, a consultora política Gill Castillo faz o mesmo em relação ao segundo turno, realizado no último domingo. Confira:
“Foi a eleição em que o ‘medo’ venceu a ‘esperança’, o voto da rejeição, em que prevaleceu o ‘nós’ contra ‘eles’. Essa polarização, que ficou bem clara numericamente e vem sendo gestada há muito tempo, chega a 2022 com um estado de tensão que não cabe naquela que é considerada a maior democracia da América Latina e uma das maiores democracias do mundo.”
“Sem sombra de dúvidas, foi a eleição com menor discussão de propostas e que baixou de nível ainda mais no segundo turno. Além de tiro, porrada e bomba, temas como aborto, pedofilia, canibalismo, satanismo e outros ataques, de lado a lado, foram surreais num país que precisa encontrar seu rumo na economia, nas políticas internas e externas. Um viajante do tempo que chegasse para assistir ao último debate, por exemplo, teria concluído que o Brasil não correria ‘o menor risco de dar certo’, como diria Millôr Fernandes.”
“Do ponto de vista da comunicação, o Brasil se converte num caso de estudo, quando vemos que a ‘fermentação social’ causada pelas fake news tomou a proporção que vimos na campanha e que vem tomando agora com as manifestações, suplantando a informação de credibilidade apurada pelos veículos de comunicação. Um fenômeno do nosso tempo, que precisa urgentemente ser combatido com educação, ou os processos eleitorais estarão marcados por guerrilhas digitais que colocam em risco a estabilidade social e a democracia.”
“Lula terá desafios internos e externos, que forçarão (espero) um equilíbrio de forças. Primeiro, porque terá que lidar com um Congresso Nacional que sai das urnas mais à direita, engajado numa oposição ferrenha, como já foi declarado por alguns parlamentares. Segundo, porque para eleger-se precisou congregar uma frente ampla, com muitos atores políticos de centro, incluindo seu vice, Geraldo Alckmin, que buscarão espaço e protagonismo no novo governo. Por esse motivo, Lula terá que negociar também com seu partido e aliados da esquerda, tanto pela agenda política quanto pela participação no staff. Não será fácil, mas pode ser o caminho, mesmo que involuntário, para uma reorganização social.”
“Isso, sem colocar na balança que Lula venceu pela menor margem da História, com apenas 1,8% de diferença para Bolsonaro, e recebe como primeiro ato os protestos nas estradas. Não saiu soberano nas urnas, mas sim herdeiro de um país dividido, que exigirá um ‘mea culpa’ pelo passado e a compreensão de que terá que trabalhar direito se quiser sobreviver aos quatro anos e reescrever sua biografia.”
“Por último, (também espero), a RMVale ganha protagonismo com dois vices: Geraldo Alckmin na esfera federal e Felício Ramuth na estadual, compensando a representatividade menor nas casas legislativas.”
> Gil Castillo é consultora política e diretora da Tupy Company, empresa de marketing político e eleitoral com sede na RMVale. Foi presidente da Alacop – Associação Latino-Americana de Consultores Políticos e é membro fundadora do Camp – Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político.
TOQUE FINAL
> Este texto foi atualizado às 10h11 do dia 3/11/22 para inclusão de informação sobre o deputado estadual eleito Dr. Elton (PSC), além de revisão ortográfica e de estilo.