– Te conheço de outros Carnavais…
Essa era uma frase que gerações anteriores costumavam usar para dizer que conheciam uma pessoa há bastante tempo.
– Te conheço de outras Copas do Mundo…
No país do futebol, essa também poderia ser uma outra maneira de dizer a mesma coisa. Afinal, desde 1930, a cada quatro anos –com exceção do período da 2ª Guerra Mundial– o Brasil sempre esteve envolvido com a disputa do título mundial de seleções de futebol, tendo beliscado cinco títulos nas 21 Copas já realizadas.
Cada Copa do Mundo é única e fica para a História. Esta é a vigésima segunda e, com certeza, também vai deixar a sua marca. Primeiro, por ser a primeira realizada na Península Arábica, onde existe mais areia do que grama; mais petróleo do que bola de futebol; mais intolerância do que liberdade.
A Copa do Catar –alguns escrevem Qatar, é a mesma coisa– pode ser classificada como uma daquelas em que a Fifa, a entidade dona do futebol mundial, busca abrir novos mercados e ganhar dinheiro, muito dinheiro. Para o Catar, cuja capital é Doha, interessou sediar um dos eventos de maior repercussão mundial, já que sua estratégia, assim como de cidades como Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, todas na mesma região, é transformar os lucros com o petróleo, que é uma matéria-prima que um dia vai acabar, em uma estrutura de turismo deslumbrante, que pode nunca ter fim.
Até aí, tudo bem. Mas realizar uma Copa do Mundo não é uma tarefa tão simples, principalmente em um país com tantas diferenças em relação aos maiores mercados do futebol, como a Europa e a América do Sul. Tem também a questão dos países asiáticos e da América do Norte, que mesmo sem um futebol de primeiríssima qualidade geram um grande afluxo de turistas ávidos por se divertir, consumir e, se der tempo, ver um pouquinho de futebol.
Os primeiros dias da Copa nas areias catarenses –ou seriam catarinas? rs…– já justificam alguns acontecimentos que deverão ser lembrados quando o assunto for Copa do Mundo, seja dentro dos gramados, seja fora deles.
– A família Al Thani, que é dona do Catar desde o século 19 e o governa com mão de ferro, deu um golpezinho na Fifa. Esperou as vésperas da competição, quando quase todos os turistas, jornalistas e outros interessados já estavam no país, para “descombinar” algumas coisas proibindo cerveja dentro e no entorno das arenas esportivas e também o uso do símbolo do arco-íris que identifica o movimento LGBTQIA+.
– A Budweiser, cervejaria norte-americana que está entre os patrocinadores desde Mundial e também do de 2026, botou a boca no trombone e avisou à Fifa que os R$ 606 milhões para 2026 serão reduzidos para R$ 351 milhões. O patrocínio deste ano é de R$ 414 milhões. Ou seja, o Catar botou areia no cofre do Infantino, presidente da Fifa.
– Cerveja nos estádios e entornos, somente sem álcool, que é quase o mesmo que ir à balada e só dançar com a irmã. Quem quiser cerveja com álcool só vai encontrar nas Fan Fests e nas áreas VIPs dos estádios. Mas será uma cervejinha bem amarga: além de filas que jornalistas calcularam em mais de 100 metros, um copo de 500 ml está sendo vendido por um preço em torno de R$ 75. Imagine os beberrões ingleses, terão que fazer empréstimos de emergência ou zerar o limite do cheque especial.
Vamos para dentro dos gramados
– O Catar deve ter proibido também a sua seleção de jogar futebol. Perdeu por 2 a 0 do Equador e foi a primeira anfitriã a ser derrotada na partida inaugural da competição.
– Dentro de campo, os ingleses desafiaram as “regras” e fizeram a conhecida pose contra o racismo antes do início da partida em que o leão inglês devorou os iranianos por 6 a 2. Detalhe: a torcida iraniana também protestou nas cadeiras contra o tratamento dispensado às mulheres em seu país.
– E não é que no terceiro dia de Copa no Catar, além dos milhares de camelos que povoam o lugar, uma zebra foi vista galopando entre as torres de petróleo e as dunas de areia? Pois é: a Argentina, uma das favoritas, conseguiu tomar uma invertida de 2 a 1 da Arábia Saudita. Não adianta o choro dos “hermanos” de que o adversário jogou praticamente em casa…
– E a França, hein? Pode até abiscoitar o bi, mas pela maré de azar que está enfrentando é capaz de terminar o Mundial com todos os seus jogadores afastados por lesão. Faltou um pai de santo na delegação.
Uns pitacos sobre o Brasil…
– Depois de amanhã, a seleção de Tite pega a Sérvia em sua estreia. Não vamos esquecer que a Sérvia é sucessora da antiga Iugoslávia, que sempre teve futebol de primeiro mundo. Mas com o elenco que tem o Brasil, não dá para temer ninguém.
– Vocês notaram o reizinho Neymar e seus coadjuvantes chegando ao Catar? Só faltou uma passarela para os caras desfilarem. Até um grande lenço –ou o correto é echarpe?– decorava pescoços e ombros dos canarinhos. O menino Ney liderou os “looks ostentação” e foi fotografado com um relógio Rolex de R$ 250 mil, o que elevou o look a cerca de R$ 300 mil. Além da valise Louis Vuitton, é claro…
– O volante joseense Casemiro também foi notícia. Antes de viajar para o Catar, resolveu presentear a ele e à patroa com carros no valor de R$ 2,7 milhões. Uau…
– Mas como eu não sou colunista de moda e nem de celebridades, vou terminar pitacando no futebol. Se não inventar, o Tite pode levar o Brasil até o sexto título. Porém, já deu entrevista falando em uma tática chamada “Rec 5”, que significa nada menos que “cinco segundos de loucura”. Já pensou?!
Então ficamos assim, torcedor e torcedora do Brasil, iniciando a nossa concentração para a nossa estreia na Copa. Mas antes que eu me despeça, me diga uma coisa: como está a animação da galera aí na sua rua, no seu bairro, no seu prédio? Olha, aqui na minha região, até agora só vi um bar decorado. Será que depois da primeira vitória nós vamos entrar no clima?
Espero que sim. Sem areia e curtindo a nossa cervejinha geladíssima. Afinal, aqui pode…
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 47 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 21 anos.