Assim como 52.931 joseenses (até sábado, dia 27) já disseram para alguém neste um ano de pandemia que completamos no último dia 17 de março –data em que foi declarado o estado de calamidade no município–, eu também, infelizmente, pude dizer:
–– Peguei covid!
Ou, melhor dizendo, a covid me pegou. Felizmente, como 47.427 pessoas, também até sábado, pude dizer, alguns dias depois:
–– Estou curado da covid!
Diferentemente de tanta gente que relata com minúcias nas redes sociais o passo a passo da tortura de estar enfrentando a covid, eu sou mais reservado e só estou revelando isto aqui e agora. E só com um outro objetivo: refletir um pouco com você sobre o comportamento da Imprensa durante esta pandemia.
Nunca gostei de falar sobre doença, sangue, remédios, sintomas etc. Evito. Já fui pior, já “apaguei” vendo sangue em seringa de injeção. Passava mal ao entrar em hospital, pasmem, como visitante. Passei o vexame de desmaiar na sala de cirurgia do Hospital São Lucas, em Taubaté, em plena noite de sua inauguração, lá no final dos anos 70. kkk…
Agora é sério. Nos nove ou dez dias em que fiquei preso no meu quarto, absolutamente isolado, tomando seis medicações para me recuperar –graças ao bom Deus não fui internado–, pude experimentar a sensação real de um leitor/espectador/internauta/ouvinte ao ser impactado pelo noticiário da pandemia.
Necessitava muito de informação, distração, diversão, qualquer coisa que me fizesse esquecer um pouco as angústias do momento. Mas não tinha jeito. Bastava entrar no UOL e ali estavam todas as piores notícias possíveis sobre a covid-19 e os desmandos das nossas autoridades “competentes”.
Voltando à Taubaté dos anos 70, nunca mais esqueci uma frase que ouvi do então diretor comercial do jornal Diário de Taubaté, em uma época ainda sem internet: “Acho que um bom jornal é aquele que consegue entreter um doente junto ao leito”. Confesso que, todo fogoso e louco por manchetes, na época dei muitas risadas, como se aquilo fosse uma grande bobagem. Hoje me pergunto: será?
Você vai dizer que eu estou defendendo a censura? De jeito nenhum. Só acho que em um momento como este, ninguém precisa de mais dramaticidade do que já tem tido no dia a dia, ao vivo. Então, o noticiário pode ser ainda mais objetivo do que deve ser. Tudo é uma questão de como tratar o assunto.
Por exemplo. Longos depoimentos sobre os sofrimentos dos pacientes, as sensações que experimentaram nos hospitais, não acrescentam muito. As repetidas citações de novas vítimas da covid só se justificam se forem figuras públicas e, mesmo assim, de forma discreta.
Penso que o momento é de os veículos de comunicação darem todas as notícias, como sempre. Porém, as ruins podem ser mais frias, concisas. E as boas podem ser um pouco mais visíveis, sem nenhum excesso de otimismo, é claro.
Façamos como na cobertura das guerras. Primeiro noticia-se o factual, o movimento das tropas, os bombardeios, as perdas em números. Quando termina o conflito, aí vamos dramatizar, contar as histórias pessoais, humanizar a informação.
Isto aconteceu, por exemplo, com a cobertura da Segunda Guerra Mundial. A tradicionalíssima Seleções do Reader’s Digest colecionou histórias pessoais que chegaram aos leitores pelo menos nos 30 anos seguintes ao final do conflito.
Sei que o tema é polêmico. Mas juro que, naqueles dias tensos que vivi, sempre que abria os portais de notícias no meu celular, torcia para não encontrar nada muito trágico. E pensei no que os portadores da infecção e seus familiares também devem sentir durante os momentos graves que viveram ou estão vivendo.
Fica a reflexão. Cada um tire a sua conclusão pessoal.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.