Foto / Wikimedia Commons/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Pier Paolo Pasolini

 

Como um escravo doente, ou um bicho,

vagava por um mundo que me coubera em sorte,

com a lentidão própria dos monstros

da lama – ou da poeira – ou da selva –

arrastando o peito – ou as vãs barbatanas

na terra firme – ou asas feitas de membranas…

Em torno havia taludes, ou calçadas,

ou talvez estações abandonadas ao fundo

de necrópoles – com estradas e passagens subterrâneas

na noite alta, quando somente se ouvem

os trens assombrosamente distantes,

e marulhos de escolhos, no gelo definitivo,

na sombra que não tem futuro.

Assim, enquanto me erigia como um verme

mole, repugnante em sua ingenuidade,

algo se passou em minha alma – como

se num dia sereno o sol escurecesse;

sobre a dor do bicho atormentado

se sobrepôs outra dor, mais negra e mesquinha,

e o mundo dos sonhos se rompeu.

“Ninguém mais o procura por poesia!”

E: “Já passou seu tempo de poeta…”.

“Os anos cinquenta terminaram no mundo!”

“Está ficando velho com suas Cinzas de Gramsci,

e tudo o que foi vida lhe faz mal

como uma ferida que reabre e traz a morte!”

 

Pier Paolo Pasolini foi cineasta, poeta e escritor. Em seus trabalhos, Pasolini demonstrou uma versatilidade cultural única, que serviu para transformá-lo numa figura controversa. Nasceu em 5 de março de 1922, em Santo Stefano (Itália), e morreu, assassinado, em 2 de novembro de 1975, em Óstia (Itália). Fonte: Wikipédia

> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.

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