Ilustração / Maria D'Arc Hoyer

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Hoje quero falar de sorrisos e da falta que eles fazem e começo contando um fato curioso, ocorrido na África Oriental.

Em 1962, uma epidemia de riso incontrolável contagiou centenas de pessoas em um vilarejo chamado Kashasha, localizado na região denominada, hoje, Tanzânia. Tudo começou em uma escola, com três garotas adolescentes, mas se espalhou atingindo centenas de pessoas.

Para conter a epidemia de riso, que se repetiu em ondas ao longo de quase dois anos, foi preciso aplicar quarentena aos locais afetados e chegou a ser proibida a entrada e saída em algumas aldeias enquanto houvesse uma única pessoa sofrendo desse riso histérico.

Alguns estudos foram feitos para saber a causa da epidemia de riso e algumas hipóteses foram levantadas, como estresse coletivo ou dissonância cultural, uma vez que a região passava por grandes mudanças sociopolíticas, mas nada foi conclusivo.

Claro que não deve ser confortável rir sem parar, mas não se tem notícia de mortos nessa epidemia. Então, arrisco dizer que seria melhor se estivéssemos com esse problema em lugar do coronavírus.

As máscaras, tão necessárias, nos protegem ao reduzir o risco de contágio, mas escondem as expressões das pessoas que encontramos por aí. E mesmo que tenhamos aprendido a perceber o sorriso nos olhos, não é a mesma coisa.

Quem nunca chegou a uma repartição pública, comércio, consultório e encontrou um atendente de cara fechada? E não se pode julgar com tanto rigor, afinal cada um é que sabe onde o calo aperta.

O contrário também é verdade. Pode ser eu ou você, cheio de problemas e com a tromba amarrada, sendo tosco com as pessoas que encontra.

É justamente no momento desse encontro carrancudo que um rosto enfeitado com um sorriso, rasgado ou ensaiado, pode fazer toda a diferença e mudar o dia do outro e o nosso.

Tímido ou escancarado, perfeito ou desdentado, sorriso é sempre lindo de ver e dá uma vontade irresistível de retribuir. Porque o riso é contagioso.

Se você aí, sofrendo já com efeitos de isolamento, pensou nos sorrisos sarcásticos e debochados, que podem estragar qualquer vibe, saiba que eles não fazem parte do que falamos aqui. Pois, esses, não são de fato sorrisos.

O gesto de sorrir, quando verdadeiro, é composto por todo o conjunto facial; inclui um movimento harmonioso de covinhas, bigode chinês e até rugas, que podem ser da idade ou esculpidas pelo ato de tanto sorrir.

Sorrir faz bem ao coração e combate o estresse. Estudos apontam que receber um sorriso, mesmo de um completo estranho, espanta a solidão.

Mas fomos obrigados a nos despedir dos sorrisos há mais de um ano. E, se temos juízo, quando alguém nos encontra sem máscara e sorri pra gente, ficamos a distância. Há sempre uma tensão no ar.

A vacinação está devagar e tudo indica que as máscaras cobrirão nossos rostos por um bom tempo ainda. Então, enquanto os sorrisos seguem escondidos, adicione muito açúcar ao olhar.  Acredite, ninguém fica diabético com olhares açucarados.

Como disse uma vez o escritor francês Jean Commerson, o sorriso é o arco-íris do rosto. Achei maravilhoso, porque o arco-íris sempre vem depois das tempestades.

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.