O surgimento da internet afetou tantas áreas das atividades humanas quanto se é possível imaginar. Revolucionou nossas vidas para o bem e para o mal. Minha geração de comunicadores, jornalistas, fotógrafos e demais comunicadores sentiu na carne a grande mudança.
Para os escrevinhadores, como eu, foi saltar das máquinas manuais pretinhas direto para o teclado e para a tela, sem tempo para reclamar. Questão de sobrevivência. Carrego até hoje nos dedos o peso necessário à pressão nas antigas teclas manuais, e catuco o teclado do computador como se ainda estivesse em uma redação barulhenta e cheia de vida.
Os fotógrafos das redações, das agências de publicidade, das lojas de fotografia, de tantos outros espaços, sofreram com uma mudança ainda mais brutal. Principalmente depois que os celulares passaram a portar câmeras que, sem quase nenhum segredo, têm todos os recursos (e muitos outros), das máquinas profissionais antigas. O fotógrafo tinha que carregar o peso de várias máquinas, lentes e acessórios, além da sensibilidade para o momento e a luz certa para a melhor foto.
O peso dos equipamentos quase não mais existe, mas a sensibilidade do olhar ainda não pode ser substituída pelos equipamentos digitais. E é graças a essa sensibilidade que bons fotógrafos têm conseguido se reinventar na era digital. Se os jornais e revistas eletrônicos, e os poucos impressos sobreviventes, já não dependem mais de um bando de fotógrafos fixos ou free-lancers, esses profissionais têm encontrado outros espaços para mostrar sua arte, e certamente a decoração é um desses nichos.
É fato que desde o início a fotografia, além de registro, também foi considerada uma arte. Ao longo do século XX, grandes fotógrafos fizeram história e ficaram conhecidos em todo o mundo, como o francês Henri Cartier-Bresson e o brasileiro Sebastião Salgado, entre os mais consagrados. São artistas que ocuparam e ocupam galerias de arte, livros e as paredes de casas, espaços comerciais e corporativos.
A era digital na fotografia ampliou enormemente a possibilidade de criar o que se convencionou chamar de foto-arte, pintura digital ou pintura fotográfica digital. E além da explosão de criatividade que os recursos digitais permitem, tornando a fotografia passível de inúmeras intervenções nas cores e formas, também aconteceu uma revolução nos meios de impressão fotográfica.
Os velhos laboratórios de ampliação fotográfica, das salas escuras cheirando a produtos químicos, deram lugar a equipamentos sofisticados de impressão fotográfica que permitem reproduções com acabamento de alta qualidade. Também é farta a variedade de papéis disponíveis hoje para impressão com qualidade semelhante às obras de arte.
E graças a toda essa evolução digital que invadiu a fotografia, hoje alguns profissionais se destacam pelo belíssimo trabalho que criam e produzem, imagens que muito bem adornam ambientes interiores. Aqui em nossa região, sem prejuízo de uma mão cheia de profissionais e artistas atuando no mercado, lembro o nome de José Dominguez Sanz, o Pepito, que foi meu colega no INPE por muitos anos. Antes de partir levado pela Covid, Pepito deixou um belo acervo de fotografias e pinturas digitais, que integraram diversas exposições em galerias da região. Outro colega e amigo que se dedica atualmente à fotografia e arte digitais é o José Cláudio Guimarães, que recentemente publicou um belo livro com foto-pinturas sobre Campos do Jordão. Também destaco o trabalho do fotógrafo de natureza Ricardo Martins, de São José dos Campos, que tem rodado o mundo com seu trabalho maravilhoso de imagens da natureza.
Encerro essa coluna de hoje me despedindo de vocês neste espaço. Assumi o compromisso de escrever os textos para o SuperBairro graças à ideia da colega Edna Petri e ao gentil convite do editor e amigo Wagner Matheus.
Acontece que os anos me ensinaram muitas coisas, mas outras ainda me nego a perceber. Fui moça e mulher de muitas atividades simultâneas. Já houve tempo de estar trabalhando em período integral, escrevendo uma tese, cuidando da filha e da casa e ainda me dedicando à atuação política. Não sei como dava conta, não sei como tantas mulheres dão conta. O fato é que agora não dou mais conta. A cabeça não ajuda mais, e no momento preciso me concentrar em uma outra atividade que vai consumir grande parte da minha (limitada) capacidade de foco e atenção.
Agradeço imensamente quem me acompanhou aqui até agora. Teremos outras oportunidades. E desejo ao amigo Wagner e aos colaboradores do SuperBairro crescimento constante e sucesso nesse trabalho tão relevante que é a comunicação dentro de uma comunidade.
> Fabíola de Oliveira é jornalista há 43 anos (MTb nº 11402/65/38/SP) e tem doutorado em jornalismo científico pela USP. Aposentada do INPE, onde era responsável pela área de comunicação, foi depois professora e coordenadora do curso de jornalismo da Univap. Desde a infância é apaixonada por decoração e jardinagem.
Nota do editor
Fabíola de Oliveira não é apenas uma profissional vitoriosa e querida na carreira de jornalista, seja como repórter e assessora de imprensa, seja na academia pela Univap. A Fabíola é nossa amiga de sempre e companheira de lutas pela profissão e pela democracia no Brasil.
Agradeço muitíssimo a sua brilhante contribuição ao Projeto SuperBairro. O SuperBairro existe porque existem profissionais da qualidade e do caráter da Fabíola.
Portas eternamente abertas para o seu retorno, colega.
Wagner Matheus