Foto / Maria D'Arc Hoyer/Montagem com Canva

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Um tradicional programa jornalístico mostrou há pouco dias a agressão cometida por dois brutos contra um jovem no Maranhão, filmada por câmeras de segurança da rua. O rapaz é arrancado de dentro de um carro, jogado ao chão e espancado sem dó e sem a chance de dizer palavra que pudesse explicar o que fazia no carro.

Foi no Maranhão, mas poderia e pode estar ocorrendo agora mesmo na esquina de cada rua desse Brasil sem compaixão por pessoas consideradas menos favorecidas, seja pela cor da pele ou condição financeira.

Como a notícia tomou vulto nacional, hoje todos sabemos que o carro pertencia ao agredido e que o agressor, deduzindo que ele fosse um ladrão, vestiu sua toga de justiceiro e partiu pra cima dele com o apoio de uma mulher que por ali estava. Não ficou claro se a dupla já estava junta ou se foi a ideia comum da agressão que os aproximou.

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A brutalidade sempre fez parte do caminhar da humanidade. Uma olhada rápida nas histórias do passado, distantes ou nem tanto, nos leva facilmente aos relatos de horror de guerras, conflitos e extermínios macabros de etnias, grupos de interesse ou conhecimento diversos, religião e por aí vai.

Também sempre houve pessoas com covardia para ordenar e covardes para cumprir ordens de torturar e matar, apenas porque sim. Pela ilusão de poder, por dinheiro, por desumanidade pura e simples. No caso do Maranhão, a brutalidade estava de mãos dadas com a estupidez. Não precisou que ninguém mandasse a dupla agredir o rapaz. Eles foram comandados por suas próprias tristes convicções.

Felizmente, na maioria das histórias também é possível encontrar os indivíduos ou grupos que lutam contra a violência, mas quase sempre de forma clandestina. Soterrados pelo medo, compreensível, de também sofrerem agressões ou coisa pior. Curiosamente, parece muito mais fácil que os brutos se encontrem e se reconheçam para que, juntos, barbarizem o mundo.

Os bons e civilizados precisam tatear com cuidado nas sombras indefinidas das relações sociais tentando evitar o risco de revelar sua condição de ser contra brutalidade para um perigoso neutro.

Porque o neutro a gente nunca sabe pra que lado do muro ele vai cair.

Se a pessoa é boa, quer lutar pelo bem e busca parceiros, tem um trabalho árduo para separar o joio do trigo; precisa ter olhos na nuca e faro de perdigueiro para não ser traída por um neutro.

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Algumas pessoas nascem boas e não precisam que ninguém lhes diga o que é certo ou errado. Outras, carecem de muitas camadas de verniz de civilidade para conter um pouco da brutalidade e da imbecilidade de que são acometidas sabe-se lá por quê. Esse verniz deve ser aplicado pela educação farta e pela justiça cega. Dois ativos em falta nos tempos atuais.

Para sorte do rapaz no Maranhão, um homem que não era neutro o acudiu. Teve a coragem de sair de casa e ir até o local do espancamento explicar que ele não era um ladrão. Importante dizer que, mesmo que fosse, espancá-lo não era prerrogativa de ninguém.

A neutralidade mata o que há de humanidade em nós. Quem sabia muito bem disso era o arcebispo Desmond Tutu, ativista sul-africano, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, que morreu no último dia 26 de dezembro. É dele uma das melhores frases de todos os tempos: “Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor.”

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.

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