Ponte estaiada de São José: muito trânsito em baixo e tranquilidade em cima. Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Será que o povão tinha razão? A belíssima ponte estaiada que une as regiões central e oeste da cidade, batizada pomposamente de Arco da Inovação, parece que está fadada a se tornar um monumento em homenagem à inutilidade.

Quer dizer, não vamos exagerar. Talvez seja melhor dizer que a ponte não vai resolver jamais os problemas mais prioritários daquela travessia que une bairros importantes e de crescimentos contínuo, como Jardim Aquárius, Urbanova e Vila Ema. Será utilizada, é claro, mas sem convencer a ninguém de que foi uma obra bem planejada.

No início deste mês o Tribunal de Justiça de SP acatou um recurso da Defensoria Pública e do Ministério Público estaduais, que questionam o projeto desde o início da obra. O juiz-relator Magalhães Coelho, do TJ, foi implacável nesta nova sentença. Depois de dizer que “ainda que a essa altura não seja possível a destruição da ponte [já imaginaram?!], deve-se reconhecer que os autores estavam corretos desde o início”. E antes de bater o martelo, sapecou o adjetivo de “ineficiente” à obra.

É claro que, na sequência dessa decisão, sempre vem o blablabla de que a Prefeitura não concorda e vai recorrer. A bem da verdade, é um direito legal –talvez até uma obrigação– dela. Mas, convenhamos, o estrago está feito e dificilmente a ponte estaiada vai recuperar a sua imagem.

Bem que o povão caía de pau na obra desde os primeiros dias da entrega ao tráfego. Aliás, antes mesmo, desde o anúncio do projeto, metiam o pau no custo. Mal sabiam eles que o valor final ficaria ainda mais alto, cerca de R$ 68 milhões. Depois, quando veículos começaram a passar por ela, as críticas chegaram ao seu auge.

Todos diziam mais ou menos as mesmas coisas. Que enquanto as avenidas por baixo ficavam cheias e com tráfego lento nos horários de pico, as duas alças da ponte pareciam destinadas a um passeio quase solitário dos poucos veículos que optavam por passar por elas.

– Isso é inveja dessa gente, que não tem um Arco da Inovação passando pertinho de casa –respondiam os defensores da obra, mesmo que sem muita convicção, achando que o tempo –esse remédio milagroso– trataria de curar os males eventuais adquiridos durante o projeto e construção.

Porém, o fato é que o tempo passou e, até hoje, nada mudou. A ponte continua sendo uma via de acesso para poucos –e continua levando bordoadas de cada vez um número maior de joseenses. E o pior é que pouco se poderá fazer, o que está feito, está feito.

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A sentença do juiz de segunda instância foi clara: deu um prazo de dois anos para serem feitas correções que poderão –quem sabe?– melhorar o desempenho do portentoso complexo viário. A Prefeitura, por sua vez, diz que as melhorias exigidas já foram todas feitas. E você já percebeu que esta briga vai longe, consumindo muito mais blablabla e com poucos resultados práticos.

Recorrendo à minha memória de velho jornalista, lembro-me de uma conversa informal que tive com a arquiteta Juana Blanco, que hoje empresta o nome ao Arco da Inovação. Isto se deu, creio eu, por volta de 1996, 97, quando o marido da competente e decidida Juana, Emanuel Fernandes, venceu a eleição e tornou-se prefeito de São José.

Juana disse que tinha uma solução para o caótico cruzamento onde hoje está a ponte e onde, naquele momento, não existia nada. Ao ser perguntada por mim, ela respondeu, enigmática: – Você vai ver a beleza que aquilo vai ficar.

De fato, tempos depois estava construída a bela rotatória que durante anos aliviou com eficiência o tráfego naquela região. Com o toque final de um belíssimo paisagismo que seria a marca da dupla Juana Blanco e Eliana Pinheiro em vários outros projetos que mudaram a cara de São José.

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O que a Juana diria hoje sobre o Arco da Inovação? Nem imagino. Bem, até imagino que não estaria nada satisfeita com o resultado. Mas isso nenhum de nós poderá saber com certeza.

Do meu lado, vou entrar nesta selva de palpites que todos fazem questão de dar sobre a nossa ponte estaiada. Acredito que, antes de ser uma obra para resolver os problemas de fluidez do trânsito, ela foi idealizada com o objetivo de ser o que o próprio nome indica, um portal de entrada na região mais cosmopolita e tecnológica da cidade, com seus prédios inteligentes, seus moradores inteligentes e suas empresas inteligentes.

É isso: um portal que vai levar moradores, visitantes e empreendedores até o mais novo megaprojeto urbanístico do município, a “cidade tecnológica” que vai nascer onde já esteve o “terreno das vaquinhas” e onde hoje está o “terreno dos girassóis”, dois nomes execráveis que só serviram até agora para desviar a atenção da maciça ocupação que o lugar vai receber.

Estou certo? Estou errado? Convido você a comentar esta crônica/artigo na postagem do Facebook. Afinal, opiniões são o que não falta sobre a nossa bela, porém ineficiente obra: a ponte da discórdia.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.

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