Foto / Kelly Neil/Unsplash

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Pau que nasce torto, morre torto. A fatalista profecia, afirmada pelo dito popular, me veio à cabeça ao assistir ao vídeo de um pai esbravejando contra o filho. “Sua mãe te dá rios de dinheiro…/…pra você não roubar ninguém” e finaliza a frase com um tanto de palavrões.

O homem, fora de si, precisa ser contido por policiais, porque tudo indica que a vontade dele é dar umas bordoadas no filho. Decepcionado e envergonhado, não se conteve e, filmado por alguém, seu drama foi compartilhado pelas redes sociais.

Acusado de tentar assaltar um motorista em uma avenida no Guarujá, litoral Sul de São Paulo, o rapaz, de 18 anos, acabou sendo baleado pela polícia porque teria apontado um simulacro de arma para os PMs.

Seria só mais um caso de roubo malsucedido, no qual a polícia frustrou o plano do assaltante, mas o desespero do pai diante de todos foi maior do que qualquer outra informação.

O dia segue, as notícias dançam diante dos meus olhos na tela do computador e me deparo com a informação que a polícia italiana notificou mais de 40 turistas, em 2020, pelo roubo de areia e conchas das praias da Sardenha.

Essa galera pagou multas de até 3.000 euros conforme a quantidade de areia que tentou retirar do país. Desde 2017, a lei prevê multa e até prisão para quem for pego levando para casa esse tipo de lembrancinha, afanada da natureza.

Será que os pais, amigos, parentes, também dão uma bronca nesses energúmenos que roubam areia? Ou só admiram a areia colorida e as conchas esculpidas pelo mar, entre uma taça e outra de vinho, enquanto escutam as memórias da viagem?

Pois é, o desprezo por regras, como essa, não é prerrogativa de brasileiros. Tem gente de toda parte nessa tropa que foi capturada com a boca na botija no aeroporto da Sardenha. Sério, povo? Roubar areia? Tinha até um site por lá dedicado a esse comércio.

Não importa o produto. Seja a areia da Sardenha, as mudinhas da praça do bairro, o travesseiro fofinho do hotel, não tem conversa, amigo; se você pegar é roubo, é furto. E te coloca na mesma posição do rapaz que levou bronca do pai por cima do tiro.

A gente precisa tirar a cabeça da areia e dar nome aos bois. Pegou o que não é seu, é crime. Um delito menor do que assalto, mas, ainda assim, crime.

Ver aquele homem tão angustiado no vídeo, xingando o filho desajustado, dá até um nó na garganta. Quanto sofrimento envolvido. Educar filhos é tarefa estafante, não é fácil mesmo.

Mas é educando os filhos, fazendo devolver até mesmo o apontador que ele pegou do coleguinha na escola e ainda pedir desculpas, que a gente faz uma sociedade melhor.  E com isso outro ditado popular me vem à lembrança: “é de pequenino que se torce o pepino”.

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.