Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Boa tarde, amiga. Posso me sentar nesta cadeira para deixar minhas coisas?

Perguntava isso, tempos atrás, a uma dessas rústicas atendentes de quiosques de praia, sondando o quanto me custaria utilizar, com a minha mulher, de cadeiras e guarda-sol na areia da praia.

Era na bela praia do Tenório, em Ubatuba, famosa pelo cantar de sua areia branca e fina, cujo ruído característico emprestou o nome ao local: cantava. Conheci essa praia, bem como as demais, praticamente intactas, atravessando a Mata Atlântica para seu acesso, no início da década de 1960.

A valorosa garçonete do quiosque –era uma mocinha– respondeu curta e grossa, quase caímos para trás:

− Tem uma taxa de cento e vinte reais. Pode ser abatida no fim, mas tem o couvert artístico de trinta contos.

Agradeci e permanecemos sem sentar em cadeira nenhuma –desaforo− lamentando o abuso, não vendo nenhum artista, agravado pelo fato de ser um fim de tarde, o sol quase se pondo, um ou outro freguês remanescente, enfim, lugares à beça.

Não estranhe −os turistas sabem do que falo–, isso já vem desde muito tempo. Muitos anos atrás, em Ubatuba, uma combativa promotora de Justiça estadual –dos maus prefeitos nada se espera– contando ainda com a acolhida essencial do juiz, investiu contra essa exploração, acabando por haver uma proibição de se colocar ou alugar equipamentos nas praias.

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Não durou muito a linha dura e moralizante, que garantia ao banhista ficar a salvo da sanha exploradora, usando sua própria tralha. Voltou pior, mesmo depois que o Ministério Público Federal andou agindo, verdadeira cara-de-pau.

Agora –e provavelmente nas vizinhas Caraguá, São Sebastião, Ilhabela e Bertioga–, Ubatuba é um chapéu velho, como diz o caipira. Os locadores de cadeiras, barracas e guarda-sóis já no estacionamento das praias ocupam o lugar de banhistas. Os donos de quiosques −muitas vezes os seus próprios atendentes– tomam conta da praia, colocam barracas e guarda-sóis, mais cadeiras, para alugar, deixando para o usuário da praia quase nenhum espaço.

Vi hoje no noticiário a bem-vinda proibição, em algumas cidades da Baixada Santista, de se alugar esses equipamentos. Deveria, no caso de Ubatuba, voltar ao regime anterior: a praia é pública, livre o seu acesso, cada usuário, morador ou turista, deve trazer o seu equipamento.

Em tudo é fundamental a fiscalização, notadamente pela Prefeitura, com a cobertura da Polícia Militar. Que força é essa que existe em desfavor da população? Respondam as autoridades.

Como resultante, afinal, dessa minha justa revolta, me dá vontade de trazer a minha irada e rabugenta tia Filoca para aplicar uma boa chinelada em autoridades inertes.

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

 

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