Até 2044, exportações brasileiras para o bloco europeu devem crescer R$ 52,1 bilhões. Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Redução de tarifas entre os blocos será gradual e terá seu impacto máximo somente em 2044; União Europeia é, hoje, o segundo maior parceiro comercial do Brasil

 

DA REDAÇÃO*

O governo federal estima que o acordo de livre comércio anunciado na sexta-feira (6) entre o Mercosul e a União Europeia (UE) deve aumentar o fluxo de comércio entre o Brasil e o bloco europeu em R$ 94,2 bilhões, o que representa um impacto de 5,1% no comércio atual. O governo ainda estima um impacto de R$ 37 bilhões sobre o Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, cerca de 0,34% da economia brasileira.

Como a redução das tarifas de importação é gradual, o impacto estimado pela equipe econômica é para o ano de 2044. Com a redução das tarifas, o governo calcula que haverá um aumento de R$ 42,1 bilhões nas importações da UE e um crescimento de R$ 52,1 bilhões nas exportações brasileiras para o bloco.

A União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2023, a corrente comercial com o bloco europeu representou 16% do comércio exterior brasileiro.

O professor Giorgio Romano Schutte, membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb), avaliou que o acordo está melhor que o negociado em 2019, entre outros motivos, pelo fato de o Brasil ter colocado salvaguardas para o setor automotivo para impedir que as importações de carros europeus prejudiquem a indústria no Brasil. “Mas isso vai depender do governo de plantão, se ele vai usar ou não o poder de salvaguarda”, disse.

Professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC paulista (UFABC), ponderou que os impactos econômicos do acordo demoram a ser sentidos e são limitados. Ele lembrou que apenas a China tem uma corrente comercial com o Brasil superior aos 27 países da União Europeia somado com o dos Estados Unidos.

“O impacto não é assim tão rápido. A geração de empregos deve demorar a dar resultados. Mas com esse acordo você aumenta o comércio. Além disso, com o acordo aumenta o poder de negociação com a China e os Estados Unidos. Tem um elemento político também nesse acordo, para além do econômico. Agora, algumas poucas empresas brasileiras e do Mercosul vão conseguir aproveitar para fazer negócios na União Europeia, com certeza”, analisou Romano.

O governo brasileiro estima ainda um aumento de R$ 13 bilhões em investimentos no Brasil, o que representa um crescimento de 0,76%. Espera-se também uma redução de 0,56% nos preços ao consumidor e aumento de 0,42% nos salários reais. Tudo apenas para 2044, disse Giorgio Romano.

Cotas

A redução das tarifas que o Mercosul cobra da UE pode ser imediata ou ao longo de prazos, que variam entre quatro e 15 anos. Para o setor automotivo, os períodos de redução tarifária são mais longos, variando de 18 a 30 anos para veículos eletrificados, movidos a hidrogênio e com novas tecnologias.

Do lado da UE, a redução tarifária também pode ser imediata ou por períodos que vão de quatro a 12 anos, a depender do produto.

Estão previstas ainda cotas para produtos agrícolas e agroindustriais do Brasil. Ou seja, acima de determinada quantidade, alguns produtos começam a pagar a tarifa cheia para entrar no bloco. Entram nessa categoria produtos como carne suína, etanol, açúcar, arroz, mel, milho e sorgo, queijos, entre outros.

Para o professor, essa é a principal assimetria do acordo. “No caso dos produtos industriais da União Europeia, eles entram sem cotas, sem restrições ao volume. E no caso dos produtos agrícolas do Mercosul, têm cotas”, lembrou.

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Brasil exporta

O Brasil exportou US$ 46,3 bilhões para a União Europeia em 2023. Os principais:

– Alimentos para animais – 11,6%

– Minérios metálicos e sucata – 9,8%

– Café, chá, cacau, especiarias – 7,8%

– Sementes e frutos oleaginosos – 6,4%

– Ferro e aço – 4,6%

– Vegetais e frutas – 4,5%

– Celulose e resíduos de papel – 3,4%

– Carne e preparações de carne – 2,5%

– Tabaco e suas manufaturas – 2,2%

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Brasil importa

O Brasil importou US$ 45,4 bilhões da União Europeia em 2023. Os principais:

– Produtos farmacêuticos e medicinais – 14,7%

– Máquinas em geral e equipamentos industriais – 9,9%

– Veículos rodoviários – 8,2%

– Petróleo, produtos petrolíferos – 6,8%

– Máquinas e equipamentos de geração de energia – 6,1%

– Produtos químicos orgânicos – 5,5%

– Máquinas e aparelhos especializados para determinadas indústrias – 5,3%

– Máquinas e aparelhos elétricos – 4,7%

– Materiais e produtos químicos – 3,6%

– Ferro e aço – 3,4%

 

*Com informações da Agência Brasil.