Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Estive pensando, naquela manhã de um céu de brigadeiro, nem frio nem calor, dia perfeito. Ora, agosto não é um mês agourento? Por que pensei nisso?

É que vinha caminhando despreocupado pelas ruas do bairro, quanto minha atenção foi chamada pelo movimento de vizinhos, que saíam de suas casas e apontavam para o cimo de um prédio de apartamentos.

Não era para menos. Estavam preocupados com os gritos desesperados que vinham de um dos apartamentos, aparentemente de uma criança. Estaria apanhando?  Será que poderia pular da janela do quarto andar?

Como já estavam se movimentando em grande número, continuei minha caminhada diária, só me restando rezar pela infeliz. Na volta o local já estava cheio de gente e cerca de quatro viaturas, da polícia, do resgate e o que mais. Indaguei a um senhor que já estava ali desde o início e ele relatou ter sido não uma criança, mas uma mulher, que surtou, não se sabia o motivo. Porém já havia sido encaminhada para o hospital.  Mais uns instantes de papo com o cidadão e ele comentou:

− É, amigo, agosto é um mês agourento. Não é o tal de agosto, o mês do desgosto?

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Nada respondi e pensei com meus botões: discordo dessa crendice, aliás, sem verdadeiro fundamento. Agosto, mês como outro qualquer, foi criado pelo imperador Augusto, em Roma, levando o seu próprio nome, como julho levava o de Júlio César. Essa má-fama, parece, começou já na antiguidade, associando-se a acontecimentos de azar de cunho religioso. Em Portugal, no tempo dos descobrimentos, era um mês de aflição e considerado de mau agouro porque era quando partiam geralmente os navios para os descobrimentos, inoportuno, pois, para casamentos dos intrépidos marinheiros.

Já atribuir ao coitado do agosto a conta de ser o mês dos cachorros loucos não é difícil rebater: é uma época de muita cadela no cio e o contato entre os animais favorece a contaminação pelo vírus da raiva.

No mundo se atribuem fatos nefastos de agostos, como o início da Primeira Grande Guerra em 1914, o lançamento da primeira bomba nucelar em Hiroshima em 1945. No Brasil associou-se agosto a um mês aziago por ter sido nele que Getúlio Vargas suicidou-se em 1954, falecendo JK no mesmo mês em 1976 e ainda quando renunciou Jânio Quadros em 1961, com consequências nefastas no cenário político. Tudo isso aumentando o folclore popular, como o de ser agosto o mês das bruxas e dos lobisomens. Aliás, muitos destes militando na política, contribuindo para uma virtual metástase antiética na vida nacional.

Quanto ao agouro, pura crendice. Acontecimentos infaustos acontecem todos os meses, basta olhar as datas dos principais eventos históricos. Todo mês morre gente, nasce gente, começa e termina guerra, praticam-se todos os tipos de maldades. Coitado do mês de agosto.

Nada obstante, prefiro setembro, muito mais animador. Lembram-se do romântico filme “Quando Setembro Vier”? Começa nele a primavera, enfim, um mês perfeito. Aliás, o mês do meu aniversário: poderia ser melhor?

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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