Para quem nunca havia sequer trocado a fralda de nenhum dos filhos, fiquei numa situação sem saída quando me deixaram aquele bebezinho adorável sozinho comigo. Temeridade! E a bebezinha, minha primeira netinha, havia feito o número dois. Não tive saída, pus as mãos à massa (argh), limpei como pude, passei dois lenços umedecidos, lidei com a tal fralda descartável, ufa, suando, consegui a proeza. O anjinho só ria… Hoje ela cursa Odontologia e as preocupações são outras.
A emoção de ser avô é igual ou maior do que ser pai; talvez melhor porque dizem que os avós não têm obrigações primárias como os pais e assim o amor é mais descontraído e desfrutável. Engana que eu gosto. Comigo não está sendo bem assim. Conheço outros que, embora não tenham de correr com obrigações de cuidado e financeiras, em compensação não veem os netos com frequência. Alguns quase nenhuma vez. Seja porque os pais não querem ou não se importam, seja porque esses avós não são chegados nisso.
Não estranhe, aquela história de casar para ter filhos parece ter ficado para trás; muitos casais não querem nenhum. Não julgo. Ter filhos amedronta muita gente e com razão. Num mundo violento e insensível, os casais se questionam: para que pôr filhos neste mundo?
Mas os bebezinhos não são encantadores? Renovam a gente por dentro, parece que acrescentam mais tempo de vida para nós avós babões. É a vida, que tem de continuar. Eu sempre acreditei que a vida é uma só, vai se prolongando nos seres vivos de um para outro, pela reprodução. É a mesma vida, só pegamos o bastão por uns momentos e –fomos– simbora para outra dimensão.
Trocar fralda não foi a única proeza deste vovô, que nunca foi buscar um filho na escola nem assistir àquelas tediosas e intermináveis festinhas, nem cantar músicas infantis e se especializar na Turma do Cocoricó, Chaves e outros programinhas para a tenra idade. Tudo o que não fiz antes, fiz de sobejo depois com os netos e não me arrependo. Pelo contrário, se eu soubesse que era tão gratificante, teria arranjado tempo num tempo em que eu não tinha tempo.
Como diz a tia Filoca: – Agora não adianta mais, Zezinho. Você vai ter de esperar os bisnetos! Mais mole e mais babão!
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.