Faz mais de 15 dias que o nosso dia a dia ganhou uma nova ocupação: acompanhar os dramas humanos que a população do Rio Grande do Sul está vivendo depois da tragédia ambiental que desabou sobre o estado. Mesmo quem vive no mundo da lua não consegue deixar de ser impactado pelas notícias que surgem a todo momento, de todos os meios de comunicação, de todas as redes sociais.
Esse bombardeio de notícias pode incomodar alguns, mas é importante para que ninguém se esqueça do dever de solidariedade que todo o Brasil tem com o povo gaúcho neste momento. É importante para manter as doações, para manter a pressão sobre os governos para que façam o seu melhor, para levar, no mínimo, ondas de boas vibrações e preces para as vítimas da tragédia.
Enquanto isso, porém, é importante também que os brasileiros não afetados pelo que acontece no Sul do país mantenham a sua rotina de trabalho e produção para que a economia brasileira tenha fôlego para gerar riquezas em um momento em que tantos investimentos são –e serão– necessários na recuperação daquele estado.
Para continuar levando vida normal, é importante que tudo o que for possível continue normal no restante do Brasil. Uma atividade que vem sendo questionada, por exemplo, é o futebol. Há quem defenda a paralisação de todos os campeonatos promovidos pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol), da série A até a série D, colocando em “férias” nada menos que 80 clubes e deixando órfãos milhões de torcedores que têm no futebol a sua distração preferida.
Isto me lembra o período dramático e sufocante que vivemos, não faz muito tempo, durante a pandemia de covid-19. Está lembrado? Tudo fechado, tudo cancelado, todos trancados em casa, sem trabalho, sem escola, sem diversão. Até namoros foram desfeitos porque as “partes” não podiam ter contato físico. Fala-se, acredite, em casamentos que terminaram justamente porque os casais foram obrigados a conviver mais no mesmo espaço. Será?
Na época, muita gente ficou deprimida devido ao isolamento forçado, misturado com a gravidade da pandemia, as centenas de milhares de mortos, a sensação de que elas ou gente da família poderiam ser as próximas vítimas. Ou seja, a mudança da rotina não ajudou em nada. Se fosse possível naquele momento, o clima de vida normal teria sido mais benéfico para todos.
Voltando ao futebol –e falando agora para os mais ligados a ele–, apoio os defensores de que nenhum campeonato seja paralisado. Como fazer isso em alguns passos sem prejudicar ninguém? Simples: 1 – Ficam cancelados os rebaixamentos e acessos para todos os clubes, da série A à série D. 2 – Os clubes gaúchos afetados pela tragédia podem se licenciar até o final do ano, sem nenhuma consequência negativa para eles. 3 – Os clubes gaúchos que quiserem aceitar os oferecimentos de clubes de outros estados para usar suas instalações –que têm sido feitos– continuam disputando os campeonatos. É isso. E no ano que vem, se Deus quiser, tudo volta ao normal.
O que não faz sentido é criar um clima de luto no país, afastando as pessoas das suas rotinas, quando o epicentro do problema está em um dos 26 estados brasileiros. Nesse momento, o que nós precisamos é de normalidade, trabalho, produção, enfim, vida normal. No caso do futebol, é bom que se diga, várias promoções já foram feitas revertendo em doações para o povo gaúcho. E podem continuar a ser feitas.
Já que estamos falando em vida normal, vou finalizar esta crônica abordando uma rotina que faria muito bem a todos se fosse abandonada nestes dias difíceis: a rotina da desinformação e da mentira deslavada com propósitos políticos e eleitorais. Clique [aqui] e veja 20 fake news que ignorantes e mal-intencionados profissionais já espalharam para perturbar as operações de socorro às vítimas. Peço a esses espíritos de porco que transformem seu silêncio em uma espécie de doação imaterial. Iriam ajudar muito.
Então, vamos combinar? Vida normal, trabalho, doações, preces, bola rolando e nada de fake news. E que Deus abençoe todo o povo gaúcho!
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.