"Atentado": aliado de Tarcísio quer saber "quem mandou matar" o candidato. Foto / Facebook/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Todo mundo sabe que campanha eleitoral nunca foi uma coisa muito limpa. Algumas chegam a cheirar mal. Mas nada comparado a este ano. Tomando como parâmetro São Paulo, o estado mais desenvolvido do país, os exemplos de golpes abaixo da linha da cintura são inúmeros. Imagine-se então o que deve estar acontecendo nos rincões por aí.

Se não bastassem as fake news, que parecem ter se incorporado ao dia a dia dos brasileiros –chegou-se a criar uma nova escola de fakes chamada “janonismo” para competir com os imbatíveis bolsonaristas das redes sociais–, já é possível identificar uma nova modalidade de golpe sujo: as “oportunews”.

Criado aqui pela coluna, o termo reúne todas as mentiras, exageros, preconceitos, truques, “pegadinhas” e espertezas que invadem os espaços das campanhas na tentativa de criar fatos para causar estragos nas campanhas dos adversários. Esse oportunismo funciona igual a gasolina em palha seca, pega fogo instantaneamente.

Vejamos as mais recentes “oportunews” dessas eleições em São Paulo:

– Lula doente – Um sujeito invade as redes sociais para “alertar” que Lula está doente e que, se vencer, morre e deixa o cargo para Geraldo Alckmin.

Intriga nas redes: se ganhar, Lula não termina mandato e Alckmin governa o país. Foto / pt.org.br/Reprodução

– Bolsonaro pedófilo – Pegaram um modo “malandrão” de se expressar do fanfarrão Bolsonaro sobre jovens venezuelanas na periferia do Distrito Federal e já quiseram impor ao presidente a pecha de pedófilo. Menos…

– Lula e os traficantes – O petista subiu o morro para fazer campanha no Complexo do Alemão, no Rio, colocou um boné usado pela rapaziada e seu adversário correu na mídia para dizer que Lula é amigo de traficantes.

– Bolsonaro e Tarcísio não comungaram – Os dois candidatos foram a Aparecida no dia da padroeira, assistiram a uma missa, mas “rejeitaram” comungar. Não se sabe a religião de Tarcísio, mas quase não restam dúvidas de que Bolsonaro é evangélico –vide o notório pastor Silas Malafaia que não desgruda dele, além da primeira-dama Michelle. Pergunta-se: crente comunga? E numa igreja católica?

– O tamanho do STF – Esta, além de “oportunews”, foi um balão de ensaio, ou no mínimo um discurso para convertidos. O aumento do número de ministros no Supremo Tribunal Federal –de 11 para 16– seria a deflagração de uma guerra contra a instituição. O rojão deu chabu e o presidente teve de desmentir a ameaça.

– Atentado na favela – Assim como o sequestro de Abílio Diniz por uns bonés e camisetas do PT às vésperas do segundo turno da eleição de 1989, quando Lula e Fernando Collor disputavam a presidência –você se lembra?–, o candidato a governador Tarcísio de Freitas não resistiu à tentação de posar como vítima de um atentado político na favela paulistana de Paraisópolis. Na verdade, só faltou “combinar” com os traficantes locais que haveria uma visita do candidato e eles se recolheriam. Até o mais-novo-melhor-amigo de Tarcísio, o “cristão novo” Rodrigo Garcia, ainda governador do estado, desmentiu o chefe.

Algumas “oportunews” não são recentes, mas nem por isso são menos graves. Exemplos: chamar Bolsonaro de genocida é um tiro de canhão do marketing oposicionista contra ele, mas não se enquadra tecnicamente no comportamento do presidente diante da pandemia. Genocidas foram Hitler, Stalin, Mao Tsé Tung, Pol Pot no Camboja, Slobodan Milosevic na Bósnia, entre outros.

Da mesma forma, é até uma tentação chamar Lula de ladrão, assim como se faz com inúmeros representantes da nossa queridíssima –que falso…– classe política. Porém, apesar de mensalão, petrolão, sítio, tríplex etc. etc., o ex-presidente não está condenado em nenhum processo. Então, quem chamar o homem de ladrão pode sofrer processo.

Não é preciso mais exemplos, certo? Coisa feia, campanhas feias. O que se espera é que, faltando dez dias para o segundo turno, os oportunistas sosseguem um pouco e deixem o eleitor em paz.

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JORNAL DA CAMPANHA

Ainda as pesquisas

Com explicações pouco convincentes para as enormes discrepâncias entre as projeções e os resultados de algumas disputas no primeiro turno, os institutos de pesquisas estão mais cautelosos. Os levantamentos mais recentes estão diminuindo a diferença entre Lula e Bolsonaro. Na disputa estadual em São Paulo, a diferença de Tarcísio para Haddad é mais folgada, chegando a 10 pontos segundo o Datafolha.

Descartada, em praticamente todos os casos, a intenção de produzir resultados falsos, a verdade é que os institutos de pesquisas estão correndo em busca de um refinamento de suas metodologias para tentar captar votos “envergonhados” e outros fenômenos que podem interferir nos seus números.

Pesquisas eleitorais: institutos tentam evitar distorções do primeiro turno. Foto / Pixabay

Caminho errado

Em plena campanha, o presidente da Câmara dos Deputados, o “por enquanto” bolsonarista Arthur Lira (Progressistas), um dos líderes do famigerado “centrão”, tenta criminalizar os institutos de pesquisas com um projeto de lei de última hora. O caminho não é esse.

Quer entender melhor? O colunista Eduardo Weiss, do SuperBairro, advogado e jurista, abordou o assunto em uma verdadeira aula na sua coluna do último dia 13. Clique [aqui] e saiba que, juridicamente, o projeto de Lira não deve ter vida longa. Aliás, fica a dica: siga a coluna Entender Direito, publicada às quintas-feiras aqui no SuperBairro.

Weiss: análise sobre a tentativa de criminalizar institutos de pesquisas. Foto / Arquivo pessoal

A propósito, uma discussão que pode ficar para depois dessas eleições é o uso das pesquisas para influenciar eleitores que buscam votar nos líderes para não “perderem” o voto. Talvez se deva voltar ao tempo em que pesquisa eleitoral era uma ferramenta de uso interno de partidos e candidatos. Como fazer isso? É uma tarefa difícil, mas tem que ser encarada.

‘Cumpanheiro’ em SJC

Quem diria. O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), considerado “algoz” do pessoal do Pinheirinho pelos petistas locais, foi recebido como “cumpanheiro” no último sábado (15) no Sindicato dos Petroleiros. Na verdade, a reunião foi pluripartidária, com apoiadores locais e de cidades vizinhas.

Inimigos íntimos: Alckmin e a vereadora Amélia Naomi (PT) brigaram no Pinheirinho e se uniram com Lula. Foto / Cedida

Carreata terá Bolsonaro?

Do outro lado, as campanhas de Bolsonaro e Tarcísio prometem uma carreata neste sábado (22), às 10h. Na equipe da deputada estadual reeleita Leticia Aguiar (Progressistas), a previsão é de uma quantidade superior aos 500 veículos do evento realizado no primeiro turno. Mas, apesar de anunciada, a presença de Bolsonaro ainda não está confirmada. “A agenda dele está bem apertada, oremos”, diz um assessor de Leticia.

Foto / Facebook/Reprodução

Tarcísio e os números

Enquanto isso, o problema com o candidato Tarcísio de Freitas são os números. Não o de votos ou o de veículos na carreata, mas o do seu partido na urna eletrônica. Segundo o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), 521 mil eleitores digitaram, no primeiro turno, o número do partido de Bolsonaro (22) para governador, em vez do 10, do candidato bolsonarista Tarcísio.

Para quem ainda não sabe, 22 é o número do Partido Liberal (PL), enquanto 10 é o número do Republicanos.

Tudo dominado?

Felicio comemora apoios de prefeitos e vereadores na RMVale. Foto / Facebook/Reprodução

Depois de vencerem no primeiro turno na RMVale, Tarcísio e seu vice, o ex-prefeito de São José Felicio Ramuth (PSD), parecem querer dar uma surra histórica no PT neste dia 30. Três dias após a eleição, Felicio comemorou em seu Facebook o apoio de 24 prefeitos dos 39 municípios da região. No dia 11, voltou a soltar rojões virtuais ao anunciar a adesão de 150 vereadores representando 32 municípios. É de assustar…

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 PONTO A PONTO

Câmara na TV aberta

A partir da tarde desta quinta-feira (20) vai estar se realizando o sonho de vários presidentes da Câmara de São José dos Campos, desde Amélia Naomi (PT), que implantou a TV Câmara em 2013, até o atual, Robertinho da Padaria (Cidadania): o sinal na tevê aberta. Às 16h, quando começar a transmissão da sessão, todos os aparelhos de TV poderão sintonizar o canal 12.3 e acompanhar a programação da emissora, que é bastante variada. Detalhe: o sinal continua nas tevês por assinatura Net e Vivo e também no site e redes sociais da Câmara.

TV Câmara: agora em todas as tevês. Foto / Flávio Pereira/CMSJC

BATE-PAPO COM…

Gil Castillo

Gil: “o Brasil é um país conservador desde criancinha”. Foto / Arquivo Pessoal

Baixada a poeira do primeiro turno das eleições e faltando 10 dias para o segundo, a especialista em marketing político Gil Castillo bateu um papo com a coluna sobre o que aconteceu no dia 2 de outubro. Já fica convidada para uma nova conversa após a definição dos vencedores no próximo dia 30.

Confira o que Gil achou do primeiro turno:

“Foi a eleição dos ‘haters’: igual a 2018, votou-se, em sua maioria, pelo medo de que o outro levasse –e provavelmente será assim também no segundo turno.”

“Diferentemente de 2018, o Brasil não sai dividido em três, mas sai mais polarizado, com o menor índice de votos brancos e nulos desde 1994.”

“O Brasil é um país conservador desde criancinha e isso ficou bastante claro.”

“O centro foi o grande prejudicado, mostrando que perdeu seu ‘sex appeal’ e precisa juntar os cacos e reencontrar seu discurso, aprendendo a entender de povo.”

“As pesquisas completas, para uso estratégico, continuam valendo. O erro –que já acho há bastante tempo– é a extensa divulgação de intenção de votos estimulados, que são dados rasos e não captam os sentimentos do eleitorado. Se observarem só os dados espontâneos já dá para ver o empate técnico entre Lula e Bolsonaro confirmando os resultados finais.”

> Gil Castillo é consultora política e diretora da Tupy Company, empresa de marketing político e eleitoral com sede na RMVale.  Foi presidente da Alacop – Associação Latino-Americana de Consultores Políticos e é membro fundadora do Camp – Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político.

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TOQUE FINAL

José Saramago e o respeito

Google / Reprodução
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> Texto atualizado às 19h38 do dia 21/10/2022 para revisão ortográfica, gramatical e de estilo.