O desenvolvimento é importante? Sim, mas pode haver limites. Foto / SuperBairro.

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Duas perguntinhas e duas respostas rápidas: o crescimento urbano tem seu preço? Em alguns casos, não. Dinheiro aceita desaforo? Em alguns casos, sim. Uma das áreas mais importantes para qualquer município brasileiro hoje é a gestão de cidades.

O planejamento urbano, o plano diretor, fazem as regras de ocupação, delimitam espaços e criam condições para uma política pública de boa vizinhança, quem nem sempre é tão amigável.

Alguns bairros, como o Jardim Esplanada (região central de São José), onde morei por mais de 15 anos, é um exemplo de resistência à especulação imobiliária e ao desenvolvimento do comércio em suas ruas.

Algumas, porém, já foram ocupadas. O comércio de baixo impacto foi liberado em vários corredores.

Os moradores –por meio de cartazes, placas, banners– demonstram o descontentamento: #contraaconstrucaodepredioseaberturadecomercio.

O bairro é antigo, arborizado, com construções modernas em contraste com outras que lembram as dos “barões do café”.

Moradores ilustres, como o poeta Altino Bondesan, que viveu por muitos anos em um sobrado na praça Nossa Senhora de Fátima, descreveu uma arborização perfeita.

Resistência

A situação lembra a emocionante “UP – Altas Aventuras”, animação da Disney/Pixar, que conta a história de Carl Fredricksen, vendedor de balões que, aos 78 anos, está prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, a falecida Ellie.

O terreno onde a casa está localizada interessa a um empresário, que deseja construir no local um edifício. Ele é considerado uma ameaça pública e forçado a ser internado em um asilo, mas resiste. Vale à pena assistir.

Vida real

“Carls” é o que não faltam na vida real. No contraste das torres de varandas gourmet, Yoko Massuda, 72 anos, mora em uma casa construída em 1946, na rua engenheiro Prudente de Morais, região do Esplanada. As janelas e portões antigos do imóvel nada combinam com os prédios e o comércio ao redor.

Ela já recebeu várias propostas para a venda da antiga casa. Mas, a determinação falou mais alto até agora. Pode ser que, mais lá na frente, os herdeiros não pensem como ela. Hoje, a média de valores do m2 no bairro está entre R$ 6 e R$ 7 mil. Um dos mais caros de São José.

“Meus pais viveram aqui, passei toda a minha infância brincando nas praças do bairro. Tenho uma relação emotiva com este lugar e não gostaria que mudasse”, conta outra moradora, Maria Bernadeth Polesi, que há 45 anos mora na mesma rua do Esplanada.

Pela proximidade com umas das principais vias do bairro, a avenida São João, também recebeu propostas para deixar o imóvel. A resposta óbvia dispensa maiores detalhes.

Resumo da ópera

O desenvolvimento é importante? Sim. É inevitável. Necessário. Não se pode pensar em sustentabilidade, qualidade de vida sem ele. Mas, pode haver limites, bom senso e projetos públicos de preservação.

 

> Isnar Teles é jornalista (MTb nº 22.533) há 34 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Adyana.