Jane Fonda e Robert Redford estão em "Nossas Vidas", um filme belo e sensível. Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Ainda que se passem décadas, fato é que sempre há espaço para o amor em nossas vidas. Há quem tenha saudade da juventude, quando a cintura era mais fina, flacidez não existia, as rugas, cabelos brancos e calvície se restringiam aos nossos avós. Nesse tempo, em que sonhos permeavam nossos pensamentos, o amor –ou o que julgávamos sê-lo– era o alimento diuturno da poesia.

Habitando entre a ansiedade e o desespero, quando minutos nos pareciam horas, aquele sentimento descontrolado fazia o coração disparar à simples menção de um nome e, literalmente, perder o equilíbrio diante do ser amado.

Os anos transcorrem e mudamos, inclusive de escola, de bairro, cidade, até de país; com isso, fatos e pessoas passam por nós. Algumas permanecem, outras zarpam –ou zarpamos, talvez juntos, quiçá em diferentes embarcações. Perdura, entretanto, o amor, nas suas mais diferentes formas; com as experiências acumuladas pelo tempo, ele se apresenta de um modo mais equilibrado –o que não significa em menor intensidade. Mantém-se acesa a chama do querer ficar, aquela vontade de estar junto ao ser amado, compartilhar um fato, um filme, uma taça de vinho, a cumplicidade de um momento ou de toda uma vida.

E já que, em tempos de streaming e de TV a cabo não é imprescindível o “(…) escurinho do cinema, chupando drops de anis”, segue uma seleção de bons filmes e séries, que mostram que o branco (original) dos cabelos e as marcas que o tempo insiste em mostrar na pele vão nos tornando mais sábios e exigentes nas escolhas, porém não menos capazes de amar.

“Nossas Noites”

(“Our Souls at Night”)

Longe do estereótipo da avó norte-americana que faz deliciosas panquecas para os netos e do avô que os ensina a pescar e cavalgar, aqui dois grandes atores maduros protagonizam uma bela história de amor. Inesperadamente, o viúvo e solitário Louis (Robert Redford: “Todos os Homens do Presidente”, “Proposta Indecente”, “Entre Dois Amores”, “O Encantador de Cavalos”) recebe da vizinha –e também viúva– Addie (Jane Fonda: “A Sogra”, “Do Jeito que Elas Querem”, “E Se Vivêssemos Todos Juntos?”) um convite para dormir em sua casa. Relutante e deslocado –tanto pelo hábito à viuvez como pelo temor das línguas alheias–, ele acata a intenção inicial dela de ter uma companhia para as madrugadas insones.

Entretanto, conforme as noites vão se sucedendo, cresce entre eles uma relação de cumplicidade e afeto, fortalecida pela intimidade até o desabrochar do amor. O contraponto do homem sutil diante de uma mulher mais ousada é muito bem explorado pela direção de fotografia (Stephen Goldblatt: “Closer – Perto Demais”, “Julie & Julia”, “Histórias Cruzadas”). Um filme belo e sensível, disponível na Netflix.

> Trailer

PUBLICIDADE

“Alguém Tem Que Ceder”

(“Something’s Gotta Give”)

Mais um casal protagonista que vale o filme: Jack Nicholson (“Um Estranho no Ninho”, “Melhor é Impossível”, “Chinatown”) e Diane Keaton (“Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, “Do Jeito Que Elas Querem”, “O Casamento do Ano”). Ele é Harry, o bem-sucedido executivo que passou dos 60 anos e acumula relacionamentos com mulheres bem mais jovens; ela é Erica, dramaturga de peças teatrais de sucesso e mãe de Marin (Amanda Peet: “O Verão da Minha Vida”, “Melinda e Melinda”, “O Amor Pode Dar Certo”), a mais nova conquista de Harry.

Quando os namorados estão na casa de praia de Erica, com o objetivo de estreitar laços com a família, ele tem uma parada cardíaca e é atendido pelo cardiologista Julian (Keanu Reeves: “Matrix”, “O Advogado do Diabo”, “A Casa do Lago”), que proíbe sua viagem de retorno e recomenda repouso.

Diante desse quadro –e claramente a contragosto– Harry e Erica convivem por uma semana sob o mesmo teto na casa de praia; dentre os repentes de ira, causados pelo hóspede indesejado e pela anfitriã de língua ferina, emerge entre os dois uma paixão incontrolável. Segure bem a bacia para não voar pipocas nas cenas engraçadíssimas, como Harry utilizando de ironia incisiva para apontar os aspectos da idade de Erica.

Diálogos excepcionais! Com tantas opções disponíveis, você não tem desculpa: HBO Max, Prime Video, Globo Play e Looke. Divirta-se!

> Trailer

PUBLICIDADE

“Grace and Frankie”

Grandes nomes de veteranos do cinema e da TV fazem esta série da Netflix ser aclamada desde a sua estreia, em 2015. No auge da maturidade, dois casais amigos se separam e tentam reconstruir suas vidas. O inesperado é que os dois maridos, Robert (Martin Sheen: série “Wet Wing: nos Bastidores do Poder”; filme “Apocalypse Now: Final Cut”) e Sol (Sam Waterston: série “Law & Order”; filmes “Suprema”, “Armas na Mesa”) assumem, diante da família, a sua relação homoafetiva e anunciam que pretendem se casar.

Sob a sombra de tal revelação, as respectivas esposas, Grace (Jane Fonda: “Do Jeito Que Elas Querem”, “Nossas Noites”) e Frankie (Lily Tomlin: “Aprendendo Com a Vovó”, “A Seleção”), dão início a uma nova fase. Apesar das particularidades e enormes diferenças pessoais, elas passam a morar juntas na casa de praia das duas famílias, trazendo a cada episódio um mix de cenas tragicômicas, ligadas às consequências da separação e ao enfrentamento do envelhecimento. Muita pipoca para maratonar, pois são sete temporadas disponíveis na Netflix.

> Trailer

 

> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), atua como redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há nove anos na Vila Ema.

PUBLICIDADE