Diane Lane e Richard Gere: ardente paixão enquanto um ciclone não chega. Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Com o passar dos anos, o amor se modifica ou mudamos nós? Cadê a garganta seca e o frio na barriga daquela paixão da adolescência? Quede a falta de apetite e as noites insones à mercê do amor platônico? Onde foi parar a aceleração cardíaca do amor da juventude?

Mudamos nós, creio, e o nosso modo de amar. Já não temos a pressa de outrora nem tememos perder o outro para alguém; ao contrário, temos a coragem de lhe dar, sim, a liberdade de escolha, de ficar ou partir. E, na maturidade, o outro fica não pelo viço da pele ou pelo sex appeal, mas por querer conjugar, com o parceiro ou a parceira, o verbo compartilhar: momentos, risos e lágrimas, saberes, músicas, filmes, cultura, lugares, livros, comidas, vinhos, talvez até filhos e netos.

Ficamos por desejar a companhia do outro, a quem aceitamos tal como é –afinal, a maturidade já nos ensinou que não mudamos ninguém. Ficamos porque a chama do amor aos 50, 60, 70, 80 (e tantos mais) não arde insanamente, mas é intensa o bastante para iluminar a alma e o ambiente; e, por nos aquecer mutuamente, assim queremos mantê-la, acesa, pelo tempo que nos aprouver, seja essa uma parceria recente ou que já tenha completado algumas bodas.

Desejamos ouvir juntos o crepitar do fogo e, sem pressa, desfrutar intensamente da presença do outro, dando vazão à volúpia, se assim o desejarmos, mas longe daquele furor hormonal de dantes –quando a maior (quiçá a única) preocupação era a verificação da potência da voltagem sob os lençóis.

Amar na maturidade é trocar a posse pela liberdade de querer ficar e ter o ardente prazer de dividir com o outro os melhores momentos da vida.

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“Noites de Tormenta”

(“Nights in Rodanthe”)

Este filme de 2008 já valeria apenas pela direção de fotografia, do brasileiro Affonso Beato (“Deus é Brasileiro”, “Tudo Sobre Minha Mãe”, “A Rainha”), que explora as melhores imagens de Rodanthe, a bela cidadezinha litorânea da Carolina do Norte. Ali, Adrienne (Diane Lane: “Infidelidade”, “Sob o Sol da Toscana”, “Paris Pode Esperar”) busca refúgio na pousada de uma amiga, onde se hospeda para refletir sobre o momento caótico em que está a sua vida familiar e que envolve a decisão (unilateral) de se separar do marido.

Também buscando abrigo, mas por uma crise de consciência, chega na mesma pousada o renomado cirurgião dr. Paul Flanner (Richard Gere: “Uma Linda Mulher”, “Sempre a Seu Lado”, “Chicago”). Únicos hóspedes e com um ciclone se aproximando, os dois vão se conhecendo melhor e as agruras de cada um acabam se tornando um ponto em comum entre ambos, florescendo uma ardente paixão que muda o curso de suas vidas. Disponível na Netflix e Amazon Prime Video.

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“Simplesmente Complicado”

(“It´s Complicated”)

Divorciados há 10 anos, Jane (Meryl Streep: “O Diabo Veste Prada”, “A Dama de Ferro”, “A Lavanderia”) e Jake (Alec Baldwin: “Paris Pode Esperar”, “Um Homem Entre Gigantes”, “Para Sempre Alice”) mantêm uma relação forçosamente amigável. Entretanto, quando se encontram numa outra cidade para a festa de formatura de um de seus três filhos, uma faísca reacende entre o casal que –com caricaturas excessivamente adolescentes– tem uma noite sexualmente fantástica.

Jake já está no segundo casamento, com uma mulher bem mais jovem (o que torna a ex-mulher sua amante), enquanto Jane começa a ser cortejada pelo arquiteto Adam (Steve Martin: “A Pantera Cor-de-Rosa – 1 e 2”, “O Pai da Noiva – 1 e 2”, “Doze é Demais”). Algumas cenas são muito engraçadas, mas destaco aquelas em que ambos tentam esconder do outro as partes menos desejáveis de seus corpos –que ultrapassaram há um bom tempo a barreira dos 50 anos de idade– e as de Jane compartilhando com as amigas mais próximas os momentos picantes de seu affair. Disponível no Now e Amazon Prime Video.

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Série

“After Life”

 (“Vocês Vão Ter Que Me Engolir”)

O humor ácido desta comovente série britânica da Netflix não é algo tão evidente. Com episódios que transitam entre a depressão e a melancolia, as falas do protagonista jorram a crueldade que a vida lhe impôs e que nos é apresentada desde o primeiro episódio. Produzida em 2019, “After Life” gira em torno de Tony (Ricky Gervais: “Special Correspondentes”, “O Primeiro Mentiroso”. Série “The Office”), jornalista que muda radicalmente de perfil diante da morte precoce de sua esposa, Lisa (Kerry Godliman: séries “Derek” e “Our Girl”).

Na pequena cidade de Tambury, os moradores possuem histórias estapafúrdias, que anseiam sejam publicadas no único veículo de comunicação do lugar: a Gazeta de Tambury, onde Tony é repórter. Há que se perceber o contraponto da angústia e revolta do protagonista com a gentileza dos diferentes personagens que transitam ao seu redor: o carteiro, o fotógrafo do jornal, a estagiária de jornalismo, o terapeuta desequilibrado, a prostituta, a viúva que visita diariamente o túmulo do marido e a enfermeira que cuida de seu pai numa casa de repouso.

A série, que tem o amor e o luto como pontos nevrálgicos, apresenta outros assuntos igualmente angustiantes, como suicídio, drogas, solidão e envelhecimento, entretanto o faz com texto rico, por vezes cômico, mas real, inteligentemente irônico e sarcástico. Merece especial atenção a sensibilidade do protagonista para se desvencilhar do luto, reaprender a se relacionar e vislumbrar a possibilidade de amar novamente.

Ao lado da bacia de pipoca, sugiro uma caixa de lenços de papel.

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> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), atua como redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há nove anos na Vila Ema.

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