A cachorrinha Milla fez nascer uma nova Sophia. Foto / Arquivo pessoal

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Quando a gente fala que um animal de estimação é capaz de mudar a vida de uma pessoa para melhor, pode ter certeza de que muita gente não tem noção do que isso realmente significa.

Por isso mesmo resolvi contar para você algumas histórias de pessoas que praticamente tiveram suas vidas “salvas” depois que começaram a conviver com um pet de estimação.

Não que eles tenham entrado na frente de um carro, ou pulado em cima de um assaltante para salvar a vida de seus tutores. Nada disso. Eles simplesmente entraram na vida dessas pessoas no momento que elas mais necessitavam.

Algumas dessas pessoas tinham pensamentos suicidas, várias passaram por depressão ou tiveram crises de ansiedade e pânico. Outras passaram pela dor da perda de entes queridos, algumas apresentaram baixa autoestima e até mesmo crianças manifestaram problemas de aprendizado.

Porém antecipo que as histórias dos pets heróis –aqueles que voam pra cima do perigo para defender seu tutor– também existem e serão assunto para uma outra coluna.

Vontade de viver

Parou para salvar a vida de uma gatinha que acabou salvando a sua. Foto / Facebook

Imagina a cena: uma mulher bonita, no auge dos seus 30 anos, sai do trabalho e, a caminho de casa, vem pensando em várias formas de como tirar a própria vida. A depressão e a baixa autoestima estavam levando a escritora Ester de Sá a cometer essa loucura. Foi quando ela começou a ouvir uns miados.

Pensou em seguir em frente, até porque tinha algo muito mais importante a fazer. Porém os miados pareciam tão sofridos que ela foi ficando com pena do pobre animal.

Foi até o local de onde saia o som e encontrou uma gatinha com alguns meses, desesperada, que não demonstrou qualquer resistência ao ser pega no colo (algo muito difícil de acontecer com os gatos).

Ester chegou em casa e ficou tão envolvida em salvar a gatinha que sequer percebeu que a gatinha já havia salvado a sua vida.

Se encantou tanto com a bichinha, se entregou tanto e recebeu tanto amor que, aos poucos, foi recuperando a vontade de viver e de experimentar mais desse remédio com pelos, que miam e salvam vidas.

Hoje, Ester tem três gatos e garante que nunca mais teve qualquer pensamento suicida, muito pelo contrário, só vontade de viver.

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Mãe, me dá um cachorro?

Durante anos a orientadora educacional Amanda dos Santos ouvia o mesmo pedido da sua filha Sophia, hoje com 9 anos: mãe, me dá um cachorro?

A menina apresentava problemas de socialização, baixa autoestima, de aprendizado e, por isso mesmo, Amanda achava que não era a hora e nem o momento para a filha ter um cachorro.

Há pouco mais de ano, entretanto, aconselhada por uma amiga protetora dos animais, a orientadora educacional resolveu ceder aos apelos da criança e a presenteou com uma cachorrinha da raça shih tzu.

Milla, a cachorrinha, fez nascer uma nova Sophia. A mãe conta que a menina se transformou completamente. Passou a interagir mais, ter mais responsabilidade, desenvolveu melhor a fala e apresentou um grande avanço no aprendizado, além, é claro, da felicidade estampada no seu rostinho todos os dias.

Enquanto conta a história dá para perceber que Amanda, até hoje ainda se surpreende com a transformação da filha depois que a Milla entrou na sua vida.

E coincidência ou não, semana passada, como orientadora educacional na escola, Amanda atendeu um casal cujo filho apresentava os mesmos problemas da sua filha e fazia o mesmo apelo aos pais: ter um cachorro.

Claro que ela acabou contando a sua experiência com a filha e aconselhando o casal a também dar esse tipo de remédio para o filho: um cachorro.

Perdas, depressão, ansiedade

Perder um ente querido não é fácil para ninguém, e muitas vezes a dor é tanta que acaba se transformando em depressão ou síndrome do pânico.

Ouvi vários relatos de pessoas que foram salvas desses diagnósticos graças à intervenção de seus bichos de estimação: cachorros, gatos e até mesmo uma maritaca.

Cah Machado, por exemplo, funcionária pública de 30 anos, conta que seu avô deu uma maritaca pra ela há 11 anos, mas faleceu pouco tempo depois.

Por ser muito apegada ao avô, ela sofreu demais, teve crises de ansiedade, começou a entrar em depressão e quem mais a ajudou foi a Taca –nome que ela deu para a maritaca–, que parecia saber da sua dor e ficou o tempo todo junto dela.

Os beijos de Taca fizeram com que a Cah saísse da depressão. Foto / Facebook

Até hoje, quando sente que a Cah está triste, a ave coloca o bico próximo de seu rosto como que querendo beijá-la.

Na verdade, essas atitudes, esses comportamentos de acolhimento dos animais para com seus donos nos momentos em que eles mais precisaram, foi, sem dúvida, uma constante nos relatos.

Piorou na pandemia

AuPacino: o melhor remédio da Thaiz. Foto / Facebook

Outro agravante para quem sofre com esses transtornos foi a pandemia. Thaiz Mello, por exemplo, viu seu quadro psiquiátrico se agravar com o surgimento da automutilação.

As coisas só começaram a melhorar quando o golden retriever de nome AuPacino passou a fazer parte da vida dela, em dezembro do ano passado. Em sua página no Facebook é possível ler vários depoimentos acompanhados de fotos. Em um deles ela termina dizendo assim: eles salvam vidas e eu não tenho a menor dúvida sobre isso.

Parece que entender a dor ou o sofrimento de seu tutor é algo normal para esses bichos. Uns se dedicam a fazer companhia, outros a abraçar e ficar bem pertinho e, outros ainda –pasme–, a fazer gracinhas para que os seus donos saiam daquela tristeza.

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Legalizando o amor

Luciana: lei permite que paciente leve o pet até em viagem de avião. Foto / Arquivo pessoal

Aliás, bichos de estimação são tão bons, mas tão bons, que já são prescritos por psicólogos e psiquiatras como suporte emocional para pacientes com transtornos.

Segundo a psicóloga Luciana Camargo, existe toda uma estrutura legal para isso, uma documentação contendo o laudo dado pelo profissional, mais a carteirinha do animal com todas as informações possíveis (data de nascimento, peso, últimas vacinas etc.).

Com esse documento a pessoa fica autorizada a andar com seu animal de estimação por onde quiser, inclusive viajar de avião com o pet ao seu lado e não no compartimento de cargas.

Enfim, é o mundo aprendendo que os animais são os nossos melhores companheiros, amigos, antidepressivos e nascem carregados com um tipo de amor que a gente custa a entender.

Enquanto isso, eles seguem firmes na missão de amar. Só amar –mas se quiser dar um petisquinho de vez em quando, eles agradecem!

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.

 

*Texto atualizado às 16h59 do dia 16/9/21 para inclusão da foto da psicóloga Luciana Camargo.