Minha neta me perguntou:
− Vô, você já fez o story ou o reels que eu te falei, no Facebook? É muito fácil, você abre a rebimbela, logo aparece uma aba, escolhe as fotos na nuvem, usa os aplicativos de texto, draws e emojis, depois é dar um enter, escolher as opções, formatar e salvar, aguardando os likes.
Eu não me lembro –nem entendi− as palavras exatas da garota, não era exatamente o besteirol acima, é óbvio. O que importa é o meu escasso aprendizado digital, embora tivesse começado a lidar com o computador pessoal em 1991, monitor de fósforo verde, não dispunha do Word 5, nem havia Windows.
Contudo, era uma maravilha para quem tinha de lidar com diários e profusos rascunhos à mão, recortados, rabiscados, para enfrentar uma má datilografia de terceiro na sequência. E toca a revisar para corrigir erros, muitas vezes, com aquela tinta infame em cima do tipo. Nada disso com o computador, rascunho maravilhoso, correção facílima, ajuda ortográfica.
Para os malandros, o tal recorte e cole. Desisti, como professor no Direito, de mandar os alunos fazer trabalhos escritos sobre algum tema. Tem tudo na internet, conquanto de má qualidade na maioria das vezes, ler todas aquelas coisas copiadas e mixadas, acrescidas de asneiras dos alunos, não aguentei! O problema fica não só no computador, também no telefone celular, atualmente um PC nas mãos, carregado no bolso ou na bolsa. Maravilha.
Tudo é assim na vida moderna. Só que exige um conhecimento prévio para lidar com isso e a engenharia complica, não explica. Na realidade, agora tudo é digitalizado. São as repartições públicas, como prefeituras, estado ou União, fóruns, escolas, postos de saúde, INSS e o imenso catatau de siglas para todos os gostos. Reclamar da sua TV paga? Tenha uma boa dose de paciência!
Você reparou que os brasileiros trazem sempre essas modernidades extraordinárias dos países adiantados, mas ficam extremamente mal implantadas e executadas neste país tupiniquim? Não seria se tivéssemos engenheiros, técnicos de informática ou de comunicação preparados e suficientes para fazer funcionar a contento tais supostos benefícios.
Também reparou que tanto o poder público como o particular praticam a digitalização não exatamente para melhorar para o consumidor, porém ficar melhor para eles mesmos ou para seus funcionários? Se não para complicar mesmo. Isto quando não há corrupção, a velha praga.
Voltando às dificuldades das pessoas comuns −não as crianças e os jovens com acesso a tal tecnologia– porém justamente aqueles milhões que não foram instruídos desde cedo a lidar com aparelhos eletrônicos, tendo de aprender esses rudimentos operacionais a duras penas.
É comum ver cursos para ensinar pessoa idosa a lidar com um simples computador, já que, sem isso, ela não interage com nada na vida cotidiana. Não sabe mexer com sua conta no banco, fazer solicitação em qualquer estabelecimento público, como os de saúde, ou mesmo médicos, exames e consultórios. Não viaja para lugar nenhum, não declara imposto sozinho. Um analfabeto digital!
Outro dia –coitada− vi uma velhinha tentando mexer nos botões do elevador, confundindo-o com os terminais do banco. Uma judiação, ela queria ver na tela, ao invés de apertar o número do apartamento. Queria, a infeliz, saber qual senha tinha de colocar.
Ninguém merece, gente!
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.