Ricardo Galvão (à dir.), convidado da estreia, reforçou a relevância da Amazônia para o Brasil e o mundo. Foto / Júlio Ottoboni

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Primeira entrevista do programa da Rádio e TV Imprensa foi com o cientista Ricardo Galvão, ex-diretor geral do Inpe

 

ANA LÍGIA DAL BELLO

O ambientalista André Miragaia, ex-secretário de Meio Ambiente de São José dos Campos e Ilhabela, estreou na quinta-feira (24) o programa Planeta em Foco, transmitido ao vivo pela Rádio e TV Imprensa. Os temas da abordados são meio ambiente, gestão e políticas públicas e turismo.

“A proposta é fazer com que as pessoas entendam que, nas questões ambientais, o planeta está todo interligado”, diz Miragaia.  “Minha expectativa é popularizar os temas ambientais, interagir com o público de forma mais simples e menos técnica, para que cada vez mais pessoas possam entender as transformações que o planeta está passando, os impactos dos eventos extremos, como secas prolongadas e as tempestades violentas que causam deslizamentos e enchentes.”

O Planeta em Foco estreia num cenário em que “a Terra já ultrapassou o ponto de retorno” e os poluentes que produzimos aumentam a temperatura média do planeta de 1,5°C a 2°C. “Daqui para frente, precisamos nos preparar e tornar nossas cidades mais resilientes”, alerta o ambientalista.

“Abordaremos grandes temas mundiais, como as mudanças climáticas, e como isso afetará o Brasil e a todos nós. Vamos tratar de temas nacionais, como os desmatamentos na Amazônia, as queimadas, os “rios voadores” e os impactos econômicos que isso pode trazer para vida de todos, inclusive para nós que vivemos na região Sudeste”, acrescenta Miragaia.

O ambientalista ainda cita a estiagem severa, cujas causas incluem “os desmatamentos na Amazônia e a falta de políticas públicas para proteção e recuperação da vegetação que protege e abastece nossos rios”.

Estreia

O primeiro convidado do Planeta em Foco foi Ricardo Galvão, físico e engenheiro com currículo extenso incluindo a direção do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas; o título de primeiro das dez pessoas mais importantes para a ciência em 2019, pela revista científica Nature; e o Prêmio da Liberdade e Responsabilidade Científica, pela Associação Americana para o Avanço da Ciência.

“O doutor Ricardo Galvão foi o escolhido para a primeira edição exatamente por ter se tornado um dos dez cientistas mais relevantes e respeitados do mundo e também por ser morador daqui de São José dos Campos”, disse Miragaia durante a estreia.

O jornalista científico Júlio Ottoboni –também colunista do SuperBairro– participou da bancada da entrevista.

Ex-diretor do Inpe

Na entrevista, o pesquisador do Laboratório de Física de Plasmas da USP (Universidade de São Paulo) explicou as condições em que foi exonerado do cargo de diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) pelo presidente Jair Bolsonaro, em 2019.

À época, o governo acusou o instituto de publicar imagens falsas de áreas desmatadas e de servir a outros interesses. Cogitou-se até mesmo substituir o Inpe por empresa americana de monitoramento de dados, sem licitação e com dados do Brasil acessíveis a outros países.

O caso teve repercussão mundial e rendeu o apoio de toda a comunidade científica ao então diretor. Os ataques eram constantes, o acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que sempre fora assinado, não foi renovado na nova gestão, as tentativas de diálogo da parte do físico eram ignoradas pelos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações e do Meio Ambiente.

“Enviei ofício ao governo, sugeri desenvolver um novo sistema para facilitar a interpretação dos dados, se fosse necessário, mas não tive uma resposta”, afirmou o professor.

Questionado sobre a onda de negacionismo no país e no mundo, Galvão respondeu que “não é como o obscurantismo do passado, motivado por posições religiosas. O que temos agora é pseudociência sobre assuntos importantes da sociedade”.

“Auxiliados pelas redes sociais, criam ‘fatos’ contrariando a ciência, criam pseudociência com aparência de ciência, que os leigos, ao escutarem, acreditam ser real, até porque aquilo concorda com o que pensam”, lamentou o pesquisador.

Durante a entrevista lembrou-se que a área da Amazônia desmatada, até agora, vai do Maranhão ao Mato Grosso (9.205 Km²) e, por isso, a estação de seca já dura três semanas a mais do que nas áreas ainda preservadas.

O pesquisador agora faz parte do grupo Cientistas Engajados, que busca a representatividade de cientistas na política. “Porque não podemos só criticar a política sentados em casa”, concluiu Ricardo Galvão.

Serviço

O quê – programa Planeta em Foco

Quando todas as quintas-feiras, às 13h. O programa de estreia será reprisado na terça-feira (29), também às 13h

Onde – transmissão pelo site da RTI (Rádio e TV Imprensa): https://www.radioimprensa.tv/ e nas páginas do Facebook de André Miragaia e da Rádio e TV Imprensa.