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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Um vírus invisível a olho nu transformou o mundo e a forma como vivíamos. Demonstrou uma força tal que foi capaz de mudar uma constante do mundo moderno, a realização das Olimpíadas na data marcada. E ainda por cima no Japão, país reconhecido pelo compromisso e precisão em tudo que faz.

Cancelamento de Olimpíada foi algo só visto em tempos de guerras mundiais, mas, verdade seja dita, estamos em guerra pela sobrevivência humana. Assim, priorizando a vida, as Olimpíadas de Tóquio 2020 estão ocorrendo agora, em 2021.

Pobres japoneses, mesmo com o adiamento ainda estão sofrendo com a rejeição da população de tal forma que até patrocinadores de peso estão pulando fora, no último instante, engavetando propagandas que enaltecem os jogos. Isso porque uma nova onda de Covid pressiona o país, que contabiliza até agora um pouco mais de 15 mil vidas perdidas.

Não tem sido possível programar e prever quase nada diante das incertezas impostas pelo coronavírus, mas quero crer que outra força invisível vai nos surpreender durante a realização dos jogos, como sempre ocorre: a superação. Porque por mais que os atletas de alto rendimento e os patrocínios milionários possam se impor, os jogos olímpicos são acima de tudo sobre não desistir.

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Como esquecer a chegada da suíça Gabriela Andersen-Schiess ao completar em 37º lugar a maratona feminina em 1984, em Los Angeles? O mundo caminhou junto com ela, vencendo a passos trôpegos os últimos metros do longo caminho debaixo de sol escaldante.

Outra história olímpica que prova o espírito dos jogos, declarado pelo fundador das edições modernas, Pierre de Coubertin, é certamente a que Eric Moussambani protagonizou em Sydney, Austrália, em 2000.

A quatro meses do início das competições, Eric ouviu em uma rádio que o Comitê Olímpico da Guiné Equatorial, seu país, procurava nadadores. A ideia do Comitê Olímpico Internacional, o COI, era trazer para a olimpíada países que não tinham tradição na modalidade.

Com 22 anos de idade, Eric fez sua inscrição, mesmo sem nunca ter disputado uma competição profissional. A Guiné Equatorial sequer tinha uma piscina olímpica. Sonhando com os jogos, o jovem treinou em um rio para a prova dos 100 metros nado livre. E foi, confiante, provar que o importante não é vencer, mas competir.

O destino entrou em ação para premiar a superação de tantos obstáculos em busca do sonho. Os dois adversários de Eric foram desclassificados na largada e ele nadou sozinho e completou a prova com um tempo bem acima dos recordes do percurso, mas foi ovacionado pela plateia e se tornou um herói para seu país.

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Sim, tem brasileiro nessas histórias de superação, vários inclusive, mas Vanderlei Cordeiro de Lima é o destaque aqui. Em Atenas, 2004, o Brasil corria junto com Vanderlei o último trecho da maratona masculina, que ele liderava com tranquilidade.

O ouro parecia garantido quando um padre irlandês, maluco, se jogou sobre o atleta e o tirou da pista. O agressor foi contido pelo público que assistia a corrida. Vanderlei se recompôs e terminou a prova, mas chegou em terceiro lugar.

Ao contrário do que se poderia esperar, Vanderlei cruzou a linha de chegada sorrindo, de braços abertos, feliz pela conquista do bronze. Superando com seu estado de espírito inclusive o mal que o doido queria causar ao tentar tirá-lo da corrida. Vanderlei perdeu o ouro, mas ganhou seu nome gravado na história como símbolo de humildade esportiva e foi premiado com a medalha Pierre de Coubertin, uma das grandes honras do esporte.

Entendeu a ideia? Superação é o nome do jogo. Essa força invisível, mas tão real que tem feito das Olimpíadas seu palco maior.

Apesar de todas as dificuldades que o Japão vem enfrentando para realizar a competição, vamos ficar de olho, porque nunca falha. Alguma coisa muito boa, certamente, vamos ter oportunidade de ver nos próximos dias, para guardar na memória e servir de inspiração para que a gente possa superar tempos tão difíceis.

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.