Na última segunda-feira (17), a casa caiu para uma “milionária” de 20 anos de idade, que mora em uma mansão no Urbanova avaliada em mais de R$ 2 milhões, exibe luxuosos carros importados na garagem, faz viagens de causar inveja mundo afora, enfim, tem tudo o que a maioria dos pobres mortais nem sequer sonha acumular durante a vida inteira.
Só que não. A mocinha –nem vou dar o nome porque aqui não é página de notícia policial– não tem profissão declarada e até agora não conseguiu explicar para a Polícia Civil, que cumpriu um mandado de busca e apreensão na sua mansão, como faz para viver como rica.
Os “tiras” já têm pistas: com mais de 300 mil seguidores em redes sociais, a “influencer” ajuda o pessoal dos jogos de azar –como um tal Jogo do Tigrinho– a enganar os trouxas, que vão deixar o seu dinheiro nas mãos deles e nunca irão ganhar nada. E ela deve ficar com uma parte da grana.
Assim vivem algumas subcelebridades do Brasil inteiro, inclusive de São José dos Campos. Já percebeu que o mundo atual é dividido entre quem é conhecido e quem não é? É verdade. Parece que alguns seres humanos são diferentes de outros só porque aparecem um pouco mais que os outros. A pergunta que fica é: conhecidos por qual motivo?
Aí a gente começa a entender a grande injustiça que se comete com quem decide viver tranquilo e longe da muvuca do mundo moderno. Essas pessoas estão condenadas a serem tratadas como “consumidoras” para o resto da vida, babando ovo para quem mostra que está enriquecendo com a maior facilidade.
Os invejados são seres humanos que resolveram “aparecer” a qualquer custo, seja na internet, seja no dia a dia da cidade. Quase sempre essa aparição não aguenta 30 segundos de pesquisa no Google para a gente descobrir que essas pessoas são candidatas a celebridades a partir do zero, sem terem feito nada que justifique a ascensão social.
Não costumo mais frequentar tantos restaurantes e bares como antigamente. Graças a Deus. Se ainda fosse um cliente assíduo dos melhores –e também de alguns dos piores– lugares, a minha vida atual seria um inferno.
Nos poucos e raros lugares que frequento, às vezes tomo um susto com as figuras que “chegam chegando”. Como bom observador, percebo que essa gente faz um planejamento de como vai chegar. Parece que, de repente, uma Anitta cover aparece, ou um Neymar Júnior perna de pau dá as caras.
Essas aparições, é claro, são acompanhadas de pequenos séquitos, gente que faz as vezes de acompanhantes, amiguinhos, priminhos ou sei lá o que, servindo como coadjuvantes. Há também quem sirva como assessor de imprensa, maquiador, cabeleireiro, sommelier e o que mais a “celebridade” precisar.
O que enche a paciência é que donos de bares e restaurantes, gerentes, garçons e tudo o que envolve essa indústria da venda de comida/bebida/música contribuem para essa grande produção fake que cerca uma subcelebridade.
Uma noite qualquer, em um bar noturno qualquer, tive a oportunidade de assistir a uma dessas performances. Eram pouco menos de oito horas da noite quando chegou uma moça loira platinada com pouca roupa e muito charme. Achou que seria recebida por dezenas de amigos/amigas para comemorar o aniversário. Mas, tadinha, se enganou.
E o que fez a moça? Ameaçou fazer um escândalo. E o que fez o séquito? Acalmou a moça do jeito que foi possível e, pelo que entendi, prometeu que ia dar tudo certo. Nos 20 ou 30 minutos seguintes, foram chegando casais e solteiros com caras de assustados. Até que a moça, que estava nervosa no início, foi relaxando e passou a curtir sua noite de gala.
É importante saber que a vida noturna de hoje é muito diferente de antigamente. Até antes da internet, das redes sociais e do celular com wi-fi, éramos todos meros mortais. Depois disso, a vida noturna passou a ser uma passarela para quem quer aparecer. E nós somos os coadjuvantes, os espectadores.
Sei que tem muita gente que se aproveita dessa visibilidade para exercer outras atividades menos convencionais, como a moradora lá do Urbanova do começo desta história. Não tenho nada a ver com a vida dos outros, mas sugiro a você, meu leitor, minha leitora, que tome cuidado. Muitas vezes, quem se senta à mesa ao lado da sua não tem a mesma intenção de só comer, beber e se distrair.
Fica a dica. Em tempo de internet, redes sociais, influencers e outros bichos, curta as suas noites com a máxima atenção. De repente, sem querer, você pode ser levado a fazer parte da superprodução de uma subcelebridade.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.