Foto / Redes sociais/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A concentração comandada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na avenida Paulista, no último domingo (25), foi uma demonstração de força. Até o presidente Lula (PT) foi obrigado a reconhecer o fato em uma frase disparada na terça-feira (27). Ele disse que o ato foi “grande” e que “não é possível você negar um fato”.

Realmente, as imagens mostram um grande trecho da Paulista absolutamente amarelo. Quanto a saber quantas pessoas havia lá, aí são outros quinhentos. O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse que 750 mil pessoas foram ao evento, sendo 600 mil na Paulista e outras 150 mil nas ruas do entorno.

É bom lembrar que Derrite é liderado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que por sua vez é liderado por Jair Bolsonaro. Também é bom lembrar que, oficialmente, a Polícia Militar informou à imprensa que não fazia estimativas desse tipo.

De outro lado, surgiu um grupo da USP (Universidade de São Paulo), o Monitor do Debate Político no Meio Digital, que avaliou o público em 185 mil pessoas. E informou que usou para o cálculo uma metodologia que conta o número de cabeças em imagens ao longo de toda a avenida, sem sobreposição.

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Apesar de existir uma diferença oceânica entre 185 mil e 750 mil –ou mesmo 600 mil pessoas–, o fato é que cada um puxa a brasa para a sua sardinha nessas horas. Como repórter, cansei de ver sindicalistas, políticos, torcedores, artistas, cabos eleitorais, assessores de imprensa e outras fontes de informação chutarem lá em cima o número de apoiadores dos seus chefes.

Isso era muito normal até que o jornal “Folha de S. Paulo”, que passou no início dos anos 80 por uma revolução chamada “Projeto Folha”, resolveu criar um método de avaliação de público em manifestações. A forma de medição era pelo número de pessoas que ocupavam uma área de 1 metro quadrado em uma tomada a partir de imagens aéreas. Foi um avanço enorme na aferição de públicos.

A Polícia Militar de São Paulo também instituiu o seu método, que foi usado durante muitos anos e, um belo dia, abandonado. Confesso que não sei porque. A propósito, o secretário Derrite disse à mesma “Folha” que a PM voltará a fazer a contagem de público de grandes manifestações. É bom que faça mesmo, em vez de deixar seu chefe usar o chutômetro.

Não estou aqui para chamar de mentiroso quem defende o tal público de 750 mil pessoas. Mas aí eu convido você, caro leitor, a imaginar junto comigo o deslocamento de toda a população de São José dos Campos –eu disse toda, com adultos, crianças e idosos– abandonando a cidade, fechando a divisa de Jacareí com a chave e seguindo em caravana em direção à capital. Agora pense nos nossos 730 mil habitantes, do Rio Comprido a São Francisco Xavier, do Urbanova até o Novo Horizonte, ocupando a avenida Paulista e ruas próximas. Fala sério, leitor…

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Neste ano eleitoral, com certeza teremos centenas de eventos públicos até às vésperas da votação. O ato de domingo, mesmo que convocado para defender Bolsonaro e ver o capitão pedir anistia do STF para os envolvidos nos episódios do 8 de Janeiro, foi também o primeiro grande ato da pré-campanha eleitoral.

Outros virão, dos vários candidatos e partidos que irão se engalfinhar em busca da vitória. Os públicos também deverão ser inflados, como quase sempre acontece. E tudo isso deverá acontecer sem grandes tumultos. Até porque, imitando os jogos de futebol atuais envolvendo times grandes –os chamados clássicos–, as multidões reunirão torcida única. A direita vai se juntar para aplaudir os candidatos de direita; e a esquerda fará o mesmo com os seus preferidos da esquerda.

Essa divisão de “torcidas” é natural, além de garantir que milhares de pessoas se reúnam sem grandes incidentes. E cada lado pode exagerar o quanto quiser. Mas, com o nível de polarização existente hoje no Brasil, é praticamente impossível que ocorra o fenômeno da transferência de votos a partir de comícios, carreatas e outras coisas do gênero. A tendência é que o resultado final da “partida” seja definido nos detalhes, mais ou menos como ocorreu na última eleição presidencial.

A única certeza que fica é que o campeonato só será decidido na última partida, quando, aí sim, as multidões irão se juntar em torno das urnas eletrônicas. Como sempre, vai ser emocionante.

– Haja coração, torcida brasileira!

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.

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