Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Esses políticos ou são desonestos, ou são vaidosos, ou são incompetentes! Quando não são as três coisas juntas! Não voto em nenhum!

Assim vociferava a tia Filoca, sempre que o assunto em casa era a política.

Discordo. No seu radicalismo não exatamente democrático, mas sem dúvida rabugento, não enxergava que o tema não podia ser exclusivamente abordado nesse nível emocional de papo caseiro, sendo complexo, embora tivesse alguma razão. Acontece que também não caberia debatê-lo nesta mera crônica, nem dispõe seu autor de autoridade para isso. Apenas para divagar, como sempre.

Pensando bem, as invectivas da tia têm certa procedência. Honestidade é fundamental para pessoas que se candidatam a cargos públicos –mesmo para aqueles que os exercem por concurso ou livre nomeação–, não sendo admissível que você, cidadão, vote em alguém um pouco honesto ou o tal rouba, mas faz. Não há meia honestidade, como não existe meia gravidez!

Por outro lado, a política atrai os vaidosos. E como atrai! O poder é o pomo de ouro, a satisfação do ego, porém −como todos sabemos– pode corromper. Isso se dá na nossa vida particular mesmo, desde a infância, nas mínimas atitudes, há sempre uma tendência para o abuso, que procuramos reprimir. Segundo a sabedoria popular, se você quer saber a verdadeira face de uma pessoa lhe dê um poder, ela vai se revelar.

Finalmente, muito ruim para a sociedade é o político incompetente. Não tem formação educacional mínima, não possui conhecimentos necessários, normalmente de nível superior, para exercer importantes funções, sejam legislativas, sejam executivas. Igualmente acabam sendo um desastre aqueles sem perfil de liderança, sobretudo na Administração Pública.  Ainda que honestos e sem apego ao poder, terminam por não desempenhar a contento as suas tarefas. Pior quando o nível ético é também insuficiente.

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No entanto, o problema é mais complexo, há combinações e gradações.  O malandro pode ser, por exemplo, pouco honesto, vaidoso médio ou mesmo humilde, contudo incompetente. Ou bem canalha, supervaidoso, embora bom administrador.

Enfim, você identifica alguns assim? Pense nas figuraças que protagonizaram no cenário −ou drama− da política brasileira há décadas.

Imagine uma lista pelo menos desde o Juscelino Kubistchek até agora. Passando por Tancredo Neves, Adhemar de Barros, Jânio Quadros, João Goulart, Generais, José Sarney, Ulysses Guimarães, Negrão de Lima, César Maia, Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula Inácio, Enéas, Mário Covas, Paulo Maluf, Antônio Ermírio, Dilma Rousseff, Garotinho, Sergio Cabral Filho, Michel Temer, Jader Barbalho, Romero Jucá, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, José Dirceu, Geraldo Alckmin e Messias Bolsonaro.

Estes são nomes apenas exemplificativos, existem outros, não faço aqui julgamentos, há bons, ruins e mais ou menos. Não se esqueça, na sua lista, dos municipais, os políticos da vizinhança, das feiras-livres, dos clubes e associações de moradores e de categoria. Alguns que o assediam pessoalmente nas épocas das eleições e depois desaparecem.

Imaginado o seu quadro, dê a cada um o seu perfil, utilizando-se dos parâmetros indicados, que evidentemente poderiam ser outros ou diversificados. Seria um exercício de consciência democrática, de preparação para futuras eleições. Talvez descubra que não votou bem muitas vezes –como eu confesso desde logo que não o fiz em várias ocasiões. Nunca é tarde para melhorar, não?

Chato, aborrecido, mero humor? Não sei. Só sei que é muito melhor do que a simplificação da querida tia Filoca!  E não discuta com ela, pois pode ser xingado ou levar um beliscão!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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