Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Olha, bem, o peixe horroroso que eu pesquei!

Saiu a mulher do mar, trazendo um saco plástico de seus quarenta centímetros, sujo e estourado, no princípio achei que fosse um pedaço de rede de pescar velha. Ela exercendo seu ativismo ecológico, a exibir a façanha virtuosa para o marido.

Caminhava pela areia na belíssima Ubatuba, céu azul, sol pleno, mar calmo, num dos cantos da ótima Praia das Toninhas. Hoje, infelizmente não se vê mais nenhum desses golfinhos característicos no local, assustados pela ação humana.

Porém entrei na água, nesse trecho um verdadeiro laguinho: que maravilha, o pensamento esvaziado das preocupações, sentindo o mar, a praia, as montanhas e o verde da quase intocada Mata Atlântica, sempre exuberante. É o olhar com o lado direito do cérebro, recompondo forças para voltar à cidade.

Na areia, entre os guarda-sóis, boa limpeza, ninguém a jogar lixo no chão. Não é em todo lugar do litoral brasileiro que alguns praticam alienação ecológica e grosseria explícita. O incrível é que mesmo nessa tragédia humana de atitudes contra a natureza se possa ainda cuidar disso com algum humor, talvez masoquista, no entanto fica o recado.

O que, porém, chamou a atenção foi observar esse comportamento desigual das pessoas, aqui ruim, ali bom.

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Na verdade, assistir a boas práticas já é um começo. Quando critiquei e ressalvei o lado cômico da grosseria e da ausência de consciência ecológica, como o comportamento de banhistas mal-educados, o fiz para chamar atenção para o problema. Se fulano defeca no mar, lança a pelota em sua direção ou explode os seus tímpanos com música de baixa qualidade, cicrano já retira do mar o lixo, limpa o seu entorno na praia, respeita os outros banhistas.

A sociedade brasileira avança –embora alguns não acreditem muito–, as estatísticas amparam esta conclusão.  O problema é que poderia evoluir mais rápido, sem ser atrapalhada pelos percalços de políticas ruins, ideologias extremas, polarizações, populismo ou demagogia canalha, entremeados de crimes tolerados, corrupção aperfeiçoada e bossais de todos os matizes.

O meu dia de otimismo exacerbado pela exuberância da natureza não podia, contudo, passar impune. Lamentavelmente. Ao sair da praia, passando por trecho mais plano, levei uma forte bolada nas costas. Surpreso e dolorido, voltei-me para ver qual era o valoroso craque praticante desse proibido futebol na areia. Um jovem de uns vinte anos, que ainda teve o desplante de gritar de longe:

− Foi mal, tio. Devolve a bola pra nóis!

Chutei a pelota para o outro lado e fui embora!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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