Rua Euclides da Cunha, no Jardim Maringá: no passado, arborização abundante; hoje, quase um deserto. Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Os bairros Vila Ema e Jardim Maringá perdem mais árvores a cada ano devido a chuvas, supressões por doenças e até pelo crescimento do comércio e a verticalização recente na região. A Prefeitura sinaliza com o plantio de novas mudas, mas não comprova a reposição das árvores perdidas

 

DA REDAÇÃO

A primavera deste ano começou no último dia 22 e logo em seguida vem o verão, que avança sobre o próximo ano com suas chuvas torrenciais. Nos bairros da Vila Ema e Jardim Maringá, na região central da cidade, deve se repetir o que vem ocorrendo ano após ano: muitas quedas e supressões de árvores que, depois, não são repostas na mesma quantidade.

Além da perda de árvores plantadas nas vias públicas por causa das chuvas, uma outra quantidade é suprimida por doenças que atingem principalmente as mais antigas e colocam em risco imóveis, veículos e pessoas.

Aproveitando a proximidade também do Dia da Árvore, comemorado em 21 deste mês, o SuperBairro inicia nesta segunda-feira (26) a série “Salve o Verde”, que irá trazer reportagens sobre a situação da arborização urbana, principalmente na região central da cidade. A primeira reportagem, logo abaixo, tem como foco a Vila Ema e o Jardim Maringá, por serem bairros antigos, com calçadas estreitas, onde a reposição tem sido mais difícil.

Em seguida, será abordada a situação dos demais bairros da região do SuperBairro e, mais genericamente, no restante da cidade. Também será esmiuçado o Plano Municipal de Arborização, criado em 2015 pela Prefeitura de São José dos Campos, com algumas metas para atingir até 2023, e outras até 2035.

A série prossegue com a descrição de boas práticas de proteção da cobertura vegetal na região urbana da cidade, como solicitar e acompanhar serviços de poda e supressão e exemplos de cidadania e respeito pela natureza.

Os seguidores do SuperBairro poderão participar com opiniões e depoimentos sobre o assunto no espaço destinado aos comentários sobre as publicações das reportagens no Facebook. Caso enriqueçam a abordagem do tema, esses depoimentos serão acrescentados ao conteúdo da série.

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Futuro incerto

A Vila Ema e o Jardim Maringá já foram muito mais verdes do que são hoje. Os dois bairros vêm perdendo com velocidade as grandes árvores que fizeram sua fama de localidades com qualidade de vida, beleza e temperaturas amenas. O fato de serem alvos da implantação de novos estabelecimentos comerciais e de serviços, além de puxarem a tendência de verticalização na região central devido à entrada em vigor, em 2019, de uma nova Lei de Zoneamento, torna o problema ainda mais preocupante.

As novas torres residenciais em construção, se ainda não retiraram árvores das ruas, provocaram o corte de muitas delas dos terrenos em que estavam plantadas. Já a expansão do comércio e dos serviços tem sido mais danosa à arborização das vias públicas em razão da busca pelo maior número possível de vagas de estacionamento.

Nos últimos anos, várias árvores de rua foram suprimidas nos dois bairros, especialmente após chuvas fortes. Outras foram removidas sem tantas explicações, a não ser a convencional resposta da Prefeitura de que tiveram laudos de supressão aprovados em razão de problemas fitossanitários que levaram ao risco de queda.

Queda de árvore na rua Padre Rodolfo em dezembro do ano passado: cadê a reposição? Foto / SuperBairro

No verão passado

Um dos verões mais cruéis para a situação arbórea dos dois bairros foi o de 2021. As fortes chuvas do dia 9 de março daquele ano, com ventos de até 95 km/h na cidade, deixaram um rastro de destruição em várias ruas e avenidas. A Euclides da Cunha, no Maringá, foi uma das mais castigadas. Pelo menos cinco árvores de grande porte –ente elas sibipirunas e canafístulas com troncos de mais de 1 metro de diâmetro– foram derrubadas em dois trechos da rua. Em frente ao número 141, duas caíram a uma distância de cerca de 10 metros entre elas.

Rua Euclides da Cunha: três raízes destocadas e cimento em cima. Foto / SuperBairro

Ainda mais destruidora, a chuva do dia 29 de dezembro derrubou árvores nos dois bairros, deixando parte do Maringá durante 52 horas sem energia elétrica. A ocorrência mais grave foi registrada na rua Tomaz Antônio Gonzaga, na Vila Guaianazes, que fica entre a Vila Ema e o Jardim Maringá. Uma árvore de grande porte caiu em frente a uma lavanderia e atingiu três veículos estacionados no local.

Árvores caídas na rua Tomaz Antonio Gonzaga: três carros destruídos. Foto / SuperBairro

A cada chuva forte, árvores caem e precisam ser retiradas. Mas também existem as supressões. Um exemplo foi, primeiro uma poda radical em uma alfeneiro, no dia 10 de julho do ano passado, seguida de supressão total na segunda quinzena de setembro. Acionado por seguidores, o SuperBairro apurou que a poda foi executada pela EDP São Paulo sob alegação de que os galhos estavam prejudicando a fiação elétrica. Dois meses depois, foi a vez da Secretaria de Manutenção da Cidade (SMC), da Prefeitura, fazer a supressão informando que a árvore estava condenada.

Alfeneiro na esquina entre a avenida Nove de Julho e Heitor Villa-Lobos: a EDP poda e a Prefeitura suprime. Foto / SuperBairro

Cadê a reposição?

A totalidade das árvores caídas e suprimidas não tem reposição no mesmo local pela Prefeitura. A norma seguida pela SMC é cimentar o canteiro onde estava a árvore. Questionada sobre a falta de reposição por uma nova muda, a Prefeitura respondeu, em setembro do ano passado, que o replantio não pode ser feito no mesmo local.

Segundo a SMC, as destocas são feitas logo em seguida à supressão das árvores e a própria Prefeitura refaz a calçada. Quanto ao replantio, “é realizado sempre, todas as vezes que uma árvore é suprimida, porém não no mesmo lugar, mas em lugares próximos”. A explicação da Prefeitura para esse procedimento é atribuída a questões técnicas. “Não é feito no mesmo lugar porque é preciso abrir uma cova de 60 centímetros e, às vezes, a cova esbarra em outras raízes”.

Interesse econômico: o que era uma árvore na avenida Heitor Villa-Lobos dá lugar ao totem da Drogaria SP. Fotos / SuperBairro

Previsão de plantio

No final da semana passada, o SuperBairro voltou a fazer contato com a SMC com perguntas sobre a arborização urbana na Vila Ema e Jardim Maringá. A assessoria da secretaria respondeu que existe previsão no Plano Municipal de Arborização de realizar, até o ano de 2029, o plantio de “aproximadamente 623 árvores, de um total previsto para a cidade de 56 mil árvores, sendo que nos últimos anos já foram plantadas 28 árvores nesses dois bairros”.

A nota da Prefeitura informou ainda que está programado “plantar em torno de 85 árvores por ano a partir de 2023 para cumprir a meta estabelecida no plano”. E concluiu: “Ao mesmo tempo, será feita uma revisão desses números, pois agora temos uma tecnologia desenvolvida que leva em consideração não só o número, mas a largura da rua, largura da calçada, interferências como esquinas, bocas de lobo, fiação etc. Pode ser que esses números sejam modificados para maior ou menor dependendo das análises”.

O SuperBairro solicitou os locais em que foram plantadas árvores nos dois bairros nos últimos 12 meses, porém não recebeu resposta da Prefeitura. Sem reposição nas mesmas ruas em que árvores foram suprimidas, já é possível notar extensas áreas sem sombreamento e, o que é pior, sem novas mudas crescendo para oferecer sombra, beleza e qualidade de vida nos próximos anos.

Rua do Serimbura: sem sombra, temperaturas mais altas e qualidade de vida afetada. Foto / SuperBairro

NO PRÓXIMO CAPÍTULO, QUARTA-FEIRA (28):

O que pensam moradores da Vila Ema e do Jardim Maringá sobre a preservação da arborização urbana nos dois bairros?

Não perca!

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