Foto / UOL/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

– Pra colocar meu corpo em forma, me submeti a um regime de 10 horas de sexo por dia –diz uma das candidatas a um certo Miss Bumbum, uma espécie de prêmio Nobel dos glúteos.

– Cheguei a fazer sexo 17 vezes em um só dia –contra-ataca uma concorrente da primeira moça.

– Traí muito –Deborah Secco, atriz de novelas e de filmes como “Bruna Surfistinha”.

– Não estava dando, aí entrei no OnlyFans e estou correndo atrás do meu primeiro milhão. Me chamar de p*ta é publicidade –ex-PM, advogada e professora universitária que mudou de carreira e exibe imagens de sexo real com grupos de homens, mulheres etc. etc.

As frases acima não são literais, mas é basicamente o que esses personagens do grande BBB chamado Brasil estão soltando diariamente nos veículos de comunicação e nas redes sociais. Em vez dos 15 ou 20 moradores da “casa mais vigiada do Brasil”, agora eles são milhares –algum dia serão milhões–, todos devassando as suas vidas em histórias reais ou inventadas com um só objetivo: ganhar a vida.

A epidemia de sincericídio que toma conta da mídia brasileira atende à velha máxima de que “quem não é visto, não é lembrado”. Antigamente, para alimentar a curiosidade popular, bastava dizer qual era o prato preferido, qual o filme inesquecível e por aí afora, chegando-se, no máximo, ao “quem você levaria para uma ilha deserta”.

Hoje esses contos de fada não servem mais para alimentar a fome mórbida por barbaridades que tomou conta de boa parte da população. Chega-se ao ponto de encontrar revelações sobre o tamanho do órgão genital masculino ou a cirurgia no órgão feminino que estava meio “feinho”.

Quer mais?

> A atriz Cláudia Raia vai a um desses podcasts e revela que a cantora Marisa Monte perdeu a virgindade com o seu ex-marido –da Raia–, Alexandre Frota. O mesmo Frota que, depois de estrelar vários filmes pornôs, preferiu fazer sacanagem diretamente na Câmara dos Deputados.

> A bela balzaquiana Maitê Proença revela que engatou um namoro com a cantora gaúcha Adriana Calcanhoto e fala da vida íntima do casal. Ah… para você que segue esse BBBezão, vai aí uma quentinha, como diz o fofoqueiro Nelson Rubens: nesta terça-feira, dia 9 de agosto, o UOL informou que o namoro acabou. Vêm aí centenas de linhas nos próximos dias com elas explicando o desenlace.

> É claro que a fogosa Anitta não poderia ficar fora desta resenha. Para quem achava que ela havia exagerado com a tal tatuagem na “rosquinha”, eis que se chegou a publicar que a moça ameaça colocar ali o nome do seu candidato a presidente. Não estranhe: vai chegar o dia em que a Coca-Cola vai pagar para ter o logotipo lá.

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Um grande negócio

Eu poderia continuar tomando o seu tempo com histórias e mais histórias. A capacidade dos personagens desse BBB gerarem bobagens, escatologias, absurdos e escândalos, é infinita. Mas vamos ao ponto em que eu quero chegar: também é infinita a curiosidade dos milhões e milhões de seguidores desse submundo da mídia. Aí sim podemos falar em “mídia lixo”, não a Globo.

Eu, você e todos os brasileiros somos o cliente, o famoso “mercado” que precisa ser atendido. E quem atender melhor esse mercado pode viver muito bem dele, ou, em muitos casos, até ficar milionário. Graças a quem? Graças a quem dá o like no “Face” e Instagram, a quem segue no Twitter, a quem sintoniza na TV ou clica nos links dos sites e portais.

Você ainda não acredita no poder dessa indústria de destruição de reputações que muitas vezes pode ser classificada como de autodestruição? Ora, recentemente o país ganhou mais uma profissão: o “digital influencer”. É sério: desde o final de fevereiro deste ano o Brasil passou a reconhecer a atividade de “influenciador digital” como profissão registrada na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho.

O que complica ainda mais a situação é que, nas mesmas mídias em que são publicados os horrores desses novos BBBs, estão as provas de que essa porcariada compensa. Influencers mostram suas mansões, que podem ter custado mais de 10 milhões de reais, os carros de mais de 1 milhão, suas viagens pelo mundo onde se hospedam em locais que cobram diárias milionárias. Deve haver muita mentira em tudo isso, mas tudo passa como verdade.

Ou seja, amigos: o “crime” compensa.

Não estou falando aqui sobre os produtores de conteúdo digital, os gestores e criadores de mídias sociais e outros profissionais que atuam no mercado quase sempre sério do marketing digital. Falo dos vendedores de ilusões, propagadores de mentiras ou de verdades escandalosas.

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O que fazer?

E você aí do outro lado, pai, mãe, professor, psicólogo, orientador vocacional, o que vai dizer para esses meninos e meninas que estão quase saindo da adolescência para encarar a vida adulta? Como convencê-los a levar a sério a formação acadêmica, a escolha de uma profissão que contribua para a sociedade e lhes garanta um bom futuro?

Muito difícil. Basta uma última “historinha” aqui para a gente perceber o quanto é árdua a tarefa de encaminhar esses jovens nos dias de hoje:

– Tenho dois pós-doutorados e hoje faço bico em obras para ganhar dinheiro –revela, também no UOL, um engenheiro de produção paulista de 41 anos cujo currículo tem passagens por renomadas instituições de ensino, entre elas, segundo ele, o nosso ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). O desempregado diz que recebe entre R$ 100 e R$ 300 por semana para fazer trabalhos braçais.

Não venho aqui com soluções, mostro o problema. Até porque não sei como o Brasil vai sair dessa encruzilhada em que está atolado. Mas uma das atitudes que você pode tomar para ajudar a melar esse enorme BBB em que o Brasil está se transformando, é não dar prestígio a essa gente: não clicar, não dar “like”, não comprar produtos que eles recomendam e, principalmente, não comentar as barbaridades que eles regurgitam.

Será que um dia voltaremos a ter os pais e professores como os principais “influencers” dos jovens? Tomara que sim.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

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