Foto / Facebook/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Você já comeu rã, leitor(a)? Feita assim, de supetão, a pergunta pode parecer boba, mas, se continuar até o final deste texto, verá que ela faz sentido. Então, “vem comigo!”, como dizia um famoso repórter de TV à guisa de “prender” o telespectador para o próximo bloco de sua reportagem.

Se é costumeiro neste espaço, então sabe que de vez em quando eu entro num bar. Pelo simples motivo de que o bar me proporciona boas histórias para contar. A do João Polenta foi uma; a que conto agora, outra.

Conheci bons e marcantes bares do passado, como do Canário, do Mazinho, do Zezinho, do Melosa. Dos atuais, tenho alguns bem sugestivos e interessantes, que não menciono para não ter que dar conta da propaganda indevida.

Nos botecos pretéritos, vejo-me esganiçando a voz no Canário na inútil tentativa de cantar “Fio de Cabelo”, que os irmãos José e Durval, conhecidos artisticamente por Chitãozinho e Xororó, ainda cantam com um pé nas costas; ou discutindo política no Melosa com o Robertão e o Zé Amir.

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Ah! tem também o bar do Taíde, que ficava na mesma calçada no meu caminho para o estádio Martins Pereira, ou para a praça do Jardim Paulista, onde pegava a condução para a Universidade. Devia ter outros, mas lembro bem desse, por motivo relevante. É nesse bar que entro por conta de uma história que aconteceu lá em tempos remotos, que não vi, mas ouvi dizer.

Quando moço eu sempre topava com um sujeito cujo nome não sei até hoje. Digo até hoje porque ainda trombo com ele de vez em quando no Bosque dos Eucaliptos onde moro e, cismo, ele também.

O dito cujo era vizinho do Taíde e não saía do bar. Tratava-se de um galego forte que, em determinada época do ano, dava de caçar rãs nas valetas d’água existentes entre as leiras de batata na antiga fazenda do Marson. Ia à tardinha e voltava no começo da noite com o picuá cheio, antes do Taíde fechar, pra bebericar um pouco.

Certa vez o rapaz meteu-se com outro frequentador do bar numa conversa ilógica sobre qual carne devia ser mais saborosa, se de rã ou frango. Como assim, se era (e ainda é) uma questão de gosto? Mas…

Não sei porque cargas d’água o meu hoje quase vizinho foi desafiado a comer uma rã das que tinha, vivas, no embornal. Como já tinha bebido umas e outras, topou. Desde que o desafiante colocasse sobre o balcão mais um breja e um quebra gelo.

Quer saber como a rã desceu na goela do maluco? Ele tateou com a mão o fundo do cesto, pegou um exemplar pequeno e pôs na boca; ajudou com o indicador e engoliu. Comeu o bicho vivo! E ainda bebeu um gole por cima. Nunca tive coragem de tirar essa história a limpo com o protagonista que, como disse, vejo vez ou outra; mas não posso duvidar de quem me contou: o próprio Taíde.

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Esse caso veio-me à mente numa noite maldormida quando, rodando a telinha do celular, deparei com uma imagem risível e, até por isso, sucesso absoluto no Facebook e nos grupos de WhatsApp: do Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa de Lula à presidência da República, com um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na cabeça.

A foto é a mesma que ilustra este texto. De madrugadinha, vendo aquele click, eu enxergava um grande sapo entalado na traqueia do picolé de chuchu, mas nada com que devesse se preocupar, pensei.

Meu saudoso pai dizia que o político exibe muitas habilidades quando está decidido a alcançar o poleiro, ficando claro para mim, naquela noite de insônia, que engolir sapos é uma delas. Como o sapo em questão é recíproco, imaginei que não seria difícil para o personagem deglutir seu cururu.

Se me fosse dada a oportunidade de ajudar o mais longevo governador de São Paulo a digerir o batráquio sem engasgar, pediria que imitasse o engolidor de rãs do bar do Taíde. Empurre com o dedo e beba um gole, Geraldo!, diria.

A propósito da pergunta/gancho para esta crônica, a carne de rã tem gosto parecido com a de frango, muita proteína e mais cálcio que o leite. Hoje é crime no Brasil caçar esses animais no seu habitat. Antigamente, não. Toda carne de rã oferecida para consumo é proveniente de ranários e tem preço bem salgado.

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.

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