Carnaval em fevereiro de 1951. Foto / Arquivo/Fourniol Rebello

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

–– Já está tudo certo. Amanhã eu passo aí lá pelas dez da noite, para o baile de carnaval. Vamos à Associação e ao Tênis Clube. Aquela garota bonita, que você paquera, estou sabendo que vai!

Era 1964, o carnaval nos clubes de São José dos Campos fervia. Ainda havia lança-perfume –último ano– e as músicas soavam nos ouvidos de todo mundo:

–– Se a canoa não virar, olê, olê, olá, eu chego lá.

–– Foi bom te ver outra vez, está fazendo um ano, foi no carnaval que passou. Eu sou aquele pierrô, que te abraçou, que te beijou, meu amor.

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Um sonho o carnaval e aí eu volto à infância, quando nos fantasiávamos todos, crianças e adultos. Aguardávamos ansiosamente a vinda do carnaval. Uma sucessão de pierrôs, colombinas e arlequins, chineses, palhaços variados, piratas, capitães e muito mais. Muita serpentina, muito confete, belas marchinhas e sambas:

–– Ó jardineira por que estás tão triste? O que é que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.

Jandira e Pedrina de Barros Fourniol (5/2/1922). Foto / Arquivo/Fourniol Rebello

Lança-perfume enchendo de bons odores os salões, mesmo das matinês infanto-juvenis. É verdade que alguns jovens abusavam do lança-perfume, aquele rodo metálico fantástico, cheiravam um pouco no lenço, isto era o mais inofensivo. Como continha éter, dava aquele fium e tudo ficava lento. O ruim era misturar com bebida alcóolica, o mau uso acabou na proibição. Mas o bom perfume no salão já era suficiente, além das esguichadinhas nas costas das moças, forma de paquera. Hoje os salões cheiram poeira.

Saíamos do Tênis, no meio do baile, naquele salão rústico da rua Euclides Miragaia, e íamos até a Associação (AESJC), na rua Humaitá, de carnaval muito mais animado. No Tênis fiquei, como se diz agora, com uma bela menina, talvez com os mesmos dezesseis anos meus. Em São José, assim como em São Paulo, não havia carnaval de rua mais, ressuscitado anos depois e de grande destaque. Em São José eram só festas de salão, porém bastante animadas.

Vovô Rebello de Fordeco. Foto / Arquivo/Fourniol Rebello

Os antigos corsos ficaram na memória de nossos avós, aqueles desfiles na rua com as baratinhas ou calhambeques, época de início dos anos 1900. Sei disso apenas por fotos e almanaques. Sem falar do velho entrudo, esse velhíssimo, um tal de jogar bolas de cera cheias de água nos outros. Pode?

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Nos anos sessenta peguei os estertores do lança-perfume e dos grandes compositores de carnaval. A proibição do lança se efetivou em 1965, pois já havia sido proibido ainda no tempo do Jânio Quadros na presidência da República, em 1959. Aquele mesmo que teve o desplante de vedar o uso de biquínis nas praias. Imagine.

Atualmente, já se nota uma volta modesta ao uso de fantasias, formando-se blocos com roupas idênticas, fantasias aqui e ali. São José dos Campos − e principalmente a Capital– tem animado carnaval de rua. Aqui, fico com o bloco Engole Sapo do Luiz Paulo Costa.

Nada porém como antigamente, no que se refere ao romantismo, os flertes sutis e as paixões avassaladoras nascidas nas folias do rei momo. Tempos mais ingênuos.

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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