Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A música superantiga do Jorge Ben, aquele que virou Ben Jor, bem que merece compor o fundo musical destes últimos dias em São José dos Campos. Até que enfim, estamos engrenando mais de cinco dias com esta bendita invenção do Criador se derramando sobre nós.

Tem gente que não gosta. O próprio Ben Jor, ao que parece, não era muito chegado quando compôs a letra: “Por favor, chuva ruim / não molhe mais / o meu amor assim”, pediu. Na verdade, ele estava mais preocupado com o amor dele do que com a chuva. Ela que usasse capa ou guarda-chuva, pô.

“Quem não gosta de ‘chuva’ / bom sujeito não é / é ruim da cabeça / ou doente do pé”. Opa, desculpe, misturei letras da MPB e acabei trocando “samba” por “chuva”. Acho que o meu subconsciente quis dar uma bronca nesse pessoal que só suporta dez minutos de água caindo.

Tenho certeza de que a chuva não precisa de defensores. Mesmo assim, aí vai: “As chuvas são primordiais para a manutenção da vida no planeta Terra, uma vez que são as responsáveis pelo reabastecimento de aquíferos e mananciais, além de fornecerem água para ecossistemas e atividades humanas essenciais, como as lavouras agrícolas e a geração de energia elétrica”, diz o site Brasil Escola lá no Google. Tanks aos dois.

Eu completaria com as minhas próprias vantagens: uma boa chuva limpa o ar e traz sensação de bem-estar e bom humor; lava as ruas e calçadas; deixa as árvores e outras plantas com cara de novas. E vou além: em mim, a chuva provoca uma sensação de recarga de energias positivas e descarga das negativas.

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Dirá alguém:

– É, jornalista, mas você esqueceu que a chuva piora o trânsito, atrasa nossos compromissos, arruína os cabelos de quem faz progressiva e deixa as roupas com cheiro de cachorro molhado. Ah, falando em cachorro, também atrapalha os nossos pets que querem dar suas saidinhas.

E eu respondo. Mesmo assim, entre vantagens e desvantagens da chuva, as primeiras ganham de lavada –ops, mais água neste texto. Sem falar no romantismo de estar com a pessoa amada, em qualquer lugar e a qualquer hora, abraçadinhos vendo a chuva cair. Dirão que agora eu fui lá no fundo do baú, mas não resisto a lembrar o galã Demétrius, lá nos anos 1960, cantando “Ritmo da Chuva”: “Chuva, traga o meu benzinho / Pois preciso de carinho / Diga a ela pra não me deixar / Triste assim”, diz o refrão.

O fato é que estamos nos desacostumando dessa abençoada força da natureza. Com as bobagens que a Humanidade vem fazendo, principalmente depois da chamada Era Industrial, iniciada lá na Inglaterra por volta de 1760, estamos pagando a conta na forma da crise ambiental que está virando o planeta de cabeça para baixo.

Depois de sofrermos uns bons anos com o El Niño, que traz menos chuvas, mais secas e uma péssima distribuição delas no nosso território, provocando, por exemplo, a última seca na Amazônia e a tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, estamos sendo visitados por esta gracinha chamada La Niña.

A garota é tudo de bom. No Brasil, ela traz chuvas intensas para o Norte e Nordeste, além de aumento dos volumes no Sudeste e Centro-Oeste, com a vantagem de temperaturas mais civilizadas. O Sul recebe mais calor e corre o risco de ter secas, mas La Niña não vai deixar isso acontecer, esperamos.

Não sei por quanto tempo os efeitos de La Niña irão durar, mas enquanto isto acontecer eu vou estar aqui, com o meu guarda-chuva à mão, de ótimo humor, cantarolando algo como “Estrada do Sol”, pérola composta por Dolores Duran e Tom Jobim:

É de manhã, vem o Sol, mas os pingos da chuva que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre que me traz esta canção

E você, qual é a sua trilha sonora para as chuvas que La Niña está trazendo?

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.

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