Foto / Maria D'Arc

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Eu não sei pra você, mas pra mim está complicado ler, ouvir ou assistir a um noticiário. E olha que para jornalistas, ativos ou não, os noticiários são bússolas. A gente quer ter ao menos a ilusão de que sabe o que anda acontecendo por aí.

Mas houve um tempo em que não ocorriam tantas desgraças tão próximas umas das outras para turvar o dia, a semana e os meses. Pelo menos, não tão próximas da gente.

Está certo que não somos a última bolacha do pacote para passarmos a vida sem sofrimentos, mas fico com a impressão de que boa parte do que acontece por aqui poderia ser evitada.

Os mais religiosos têm pregado que são coisas do fim dos tempos, apocalípticas. Apesar de não ser descrente, acredito mais no “faz por ti que te ajudarei”. Acho que é comodismo colocar tudo na conta do destino, do acaso e da vontade de Deus. Isso é negar nosso livre-arbítrio e nossa responsabilidade individual para com a sociedade em que vivemos.

Acho que muita coisa errada acontece pelo descaso daqueles que deveriam cuidar, mas não estão nem aí e também daqueles que deveriam cobrar, mas não estão nem aí.

Pode não estar ao nosso alcance controlar um furacão, mas sem dúvida é possível evitar o excesso de enchentes que assolam as cidades por aí. Com trabalho político, cobrança social e envolvimento da comunidade é possível evitar a ocupação das várzeas dos rios, melhorar os sistemas de drenagens e não jogar lixo nas ruas que vão entupir bueiros.

Com fiscalização e uma justiça mais aguerrida e séria é possível obrigar grandes empresas a cumprirem normas técnicas e não deixarem represas transbordando rejeitos a torto e a direito, enquanto os mortos se empilham nos mausoléus do esquecimento.

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Viver em sociedade é um trabalho que envolve a todos. Não é somente quem perdeu tudo na enchente que deve cobrar solução. Em geral, essas pessoas não têm acesso e conhecimento dos direitos para buscarem a transformação de que necessitam.

Seja qual for a sua parte para transformar, por menor que seja, faça. Se vir alguém sem noção minimizar a morte de centenas de crianças, continue a rezar pelas famílias enlutadas para que recebam o respeito e a visibilidade que merecem.

Se uma família inteira de ambientalistas é assassinada, continue a cuidar do seu jardim e a escolher produtos de empresas que se preocupam com o meio ambiente. O aumento de consumo por produtos que respeitam normas ambientais contribui para reduzir as atividades e os ganhos dos assassinos.

Se ainda encontrar em seu caminho mentecaptos negando a necessidade de usar máscaras e de tomar vacina, use máscara, tome sua terceira dose e, se possível, mantenha distância desta criatura. Não a visite, não dê trela a ela nas redes sociais. Não dê palco, não alimente monstros.

As coisas só vão mudar se cada um que tem consciência fizer sua pequena parte. Hoje, mais do que nunca, é como dizia Tolstói, “se queres ser universal, começa por pintar tua aldeia”. E mesmo que tudo pareça muito cinza, continue a celebrar as flores no caminho. Porque se a gente parar de fazer isso, eles vencem.

 

> Maria D’Arc é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.

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