Em tempos de “fake news”, eis uma comédia da Netflix que pode levar o telespectador a refletir sobre o assunto. Esta refilmagem de “Envoyés Très Spéciaux” (2009) nos conta a história de uma dupla irreverente: o técnico de som Finch (ator, diretor e diretor Rick Gervais: “O Primeiro Mentiroso”, “Uma Noite no Museu”. Série “Vocês Vão Ter Que me Engolir”) e do arrogante locutor Frank (Eric Bana: “A Outra”, “Munique”. Série “Dirty John”).
“Correspondentes Especiais” são dois profissionais que deveriam viajar para fazer a cobertura jornalística de uma zona de conflito no Equador, mas perdem o passaporte e, para manter o emprego na rádio Q365 News, decidem fazer uma falsa transmissão a partir do sótão de um estabelecimento comercial em Nova Iorque.
Ali, criam uma ficção sonora de guerrilha, inventam nomes e narram fatos irreais, fazendo a mentira se agigantar ao ponto de fingir o próprio sequestro para elevar a audiência da rádio. Entretanto, a situação foge do controle e a dupla se vê obrigada a viajar de modo clandestino para a América do Sul, pois o suposto sequestro envolve o governo americano e, se descobertos, serão presos.
A partir desse momento, o filme perde o ritmo, sim, mostrando alguns exageros e tomadas excessivas, mas isso não o desvaloriza na totalidade. Outros personagens dão um toque especial à produção: a infeliz esposa de Finch, Eleanor (Vera Farmiga: “Olhos Que Condenam”, “O Juiz”. Série “Bates Motel”), a preocupada e apaixonada colega de trabalho Claire (Kelly Macdonald: “Holmes & Watson”, “Anna Karenina”, “Onde os Fracos Não Têm Vez”), o estressado editor Geoffrey (Kevin Pollak: “O Favorito”, “Cães de Guerra”. Série “The Marvelous Mrs. Maisel”) e a bondosa equatoriana Brigida (America Ferrera: “Marcados Para Morrer”, “Quatro Amigas e um Jeans Viajante”. Série “Ugly Betty”).
Já preparou a pipoca?!?
Série
“Anatomia de um Escândalo”
O período em que foi repórter do jornal britânico “The Guardian” inspirou Sarah Vaughan a escrever o livro “Anatomy of a Scandal”, lançado em 2018 e que agora chega à Netflix no formato de série –com o mesmo título e a autora como coprodutora.
Um poderoso político da Grã-Bretanha, James Whitehouse (Rupert Friend: “A Morte de Stalin”, “A Jovem Rainha Vitória”, “O Menino do Pijama Listrado”), é acusado de um grave crime que abala seus diferentes pilares: familiar, pessoal, conjugal, profissional e político.
Algum tempo depois do rompimento de um “affair” com sua ex-pesquisadora e assistente Olivia (Naomi Scott: “As Panteras”, “Perdido em Marte”, “Os 33”), ele é acusado de estupro. Até então muito bem casado com Sophie (Sienna Miller: “American Woman”, “A Lei da Noite”, “Snipper Americano”), ele reconhece o adultério, mas rebate veementemente as acusações, sob a justificativa de que teria sido um ato consentido.
As alegações de culpabilidade vêm da promotora Kate (Michelle Dockery: “Sem Escalas”, “Magnatas do Crime”. Série “Downton Abbey”) que, fora do tribunal, tem momentos de fraqueza, dúvidas quanto ao seu futuro profissional, fazendo emergir um ódio visceral junto com a certeza de que o crime é de estupro.
Do outro lado, instigando os episódios emocionais que demonstram a insegurança da vítima quanto a certos fatos, ao trazer à tona a intimidade do casal e por vezes colocando-a em situação vexatória diante do júri, está a defensora Angela Regan (Josette Simon: “Mulher-Maravilha” (2017), “Poder Paranormal”. Série “Absentia”).
Inovadores movimentos de câmera nos contam essa trama intercalando passado e presente, desde a época da faculdade que juntos cursaram James, Sophie… e o primeiro-ministro britânico. Excelentes diálogos e fotografia e um final surpreendente!
> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há dez anos na Vila Ema.