Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Amanhã, quinta-feira, começa mais uma Semana do Meio Ambiente aqui em São José dos Campos. Temos motivos para comemorar. A cidade é privilegiada nesse sentido. Mas, como diz o ditado, “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Não podemos descuidar do nosso paraíso.

Vou me concentrar aqui na arborização, consciente de que meio ambiente tem a ver com destinação do lixo (temos um aterro sanitário de dar inveja ao país todo), saneamento básico (nossa coleta e tratamento de esgotos chega a praticamente 100% dos domicílios), cobertura florestal (estamos cercados de verde por todos os lados, temos reserva florestal e a serra da Mantiqueira passa no nosso quintal). Mas a arborização urbana me preocupa.

Por que me preocupo se estou sabendo que temos uma excelente cobertura arbórea na zona urbana? Me preocupo com alguns critérios usados pela Prefeitura de São José dos Campos na gestão desse assunto. Explico por meio de alguns exemplos.

– Outro dia passei ali pela avenida Ana Maria Nardo Silva, no Jardim Esplanada II, em um trechinho em que ela se encontra com a rotatória da avenida Eduardo Cury. Percebi que a área ficou “careca”. Parei e contei 11 árvores cortadas –a Prefeitura gosta de trocar a palavra corte por supressão, menos dramática. Depois, confirmei que os cortes foram feitos porque no local vai ser construída uma continuação da via Esplanada dando acesso à avenida Linneu de Moura no sentido Urbanova. E quanto às árvores? A Prefeitura informou que será feita uma compensação em dinheiro para o Fundo Municipal de Conservação Ambiental, que irá plantar 5.000 mudas no município.

– Outro exemplo: no início de abril, na praça Bom Jesus do Serimbura, no Jardim Maringá, caiu uma árvore de grande porte, meio sem explicação, já que havia uma chuvinha fraca naquela noite. No dia seguinte, os restos mortais da bela árvore foram retirados e a paisagem ficou mais triste naquele local.

Mais um exemplo, no mesmo bairro: faz uns dois ou três anos, durante a temporada de chuvas, a região central foi castigada por uma tempestade com ventos fortíssimos que derrubou dezenas de árvores. Uma das maiores vítimas foi a rua Euclides da Cunha, que “de uma veizada só” perdeu pelo menos quatro árvores antigas, imponentes e frondosas. Nos dias seguintes, funcionários a serviço da Prefeitura fizeram as destocas e cimentaram por cima para recompor o passeio público. E deixaram a rua “careca”.

Para fechar os exemplos: também entre três e quatro anos atrás, uma árvore altíssima, belíssima e utilíssima que se se destacava na avenida Nove de Julho foi arrancada do terreno onde existe uma agência da Caixa. Depois do trabalho penoso das motosserras para eliminar a vítima gigante, também não se falou mais nisso. Cimento em cima e ponto final.

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Percebeu o que está acontecendo dia após dia e, pior, que situação poderá ser criada ao longo de 10, 20, 30 anos? Respondo a você: a região central da cidade está perdendo muitas árvores adultas e ganhando poucas árvores novas. Bairros hoje considerados privilegiados poderão ser vítimas de grandes claros onde já existiram árvores que protegiam a população do sol, abrigavam pássaros e enfeitavam a paisagem urbana.

Quando questionada, a Prefeitura sempre responde que as árvores suprimidas são repostas. Sobre os cortes na Ana Maria Nardo, a explicação veio seguida do seguinte esclarecimento: “Quando uma obra exige supressão, uma vez autorizada, a compensação ambiental pode ser feita com replantio no local, em outro local ou em pecúnia, ou seja, depósito em dinheiro no Fumcam (Fundo Municipal de Conservação Ambiental), que destina os recursos para conservação de parques, replantio/reflorestamento, áreas verdes, de educação ambiental etc.”.

Beleza. Mas o que menos se vê na região central é o tal “replantio no local”. O que normalmente acontece é o fechamento do buraco com cimento. Nesse caso mesmo da Ana Maria Nardo, a resposta foi que a opção foi compensar “em pecúnia”, ou seja, em dinheiro, que está sendo usado para o plantio, segundo a Prefeitura, de 5.000 árvores.

Uma rápida consulta ao site da Prefeitura, na aba da Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade, mostra que existe em andamento o Plano Municipal de Arborização Urbana (PMAU), criado em 2016, com a meta de plantar 55. 567 árvores na área urbana do município. Até fevereiro desse ano, ou seja, sete anos depois, o PMAU conseguiu plantar 5.023 árvores, o que dá meros 8,88% de cumprimento da meta estabelecida.

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Mas isso não é o pior. Mesmo com lentidão, os plantios estão acontecendo. O que preocupa é onde essas árvores estão sendo plantadas. A planilha da Prefeitura mostra que as regiões central e oeste são as que menos receberam árvores desde 2016. Dessas 5.023 plantadas, 573 foram na região central e 464 na região oeste.

Você provavelmente vai dizer que a região central “chora de barriga cheia” porque sempre foi bem arborizada. Não tiro boa parte da sua razão, mas vou recorrer a um outro ditado: “não se deve desvestir um santo para vestir outro”. Ou seja: o correto é manter o padrão de arborização urbana que você já tem na região central e em bairros tradicionais da cidade e, ao mesmo tempo, ir implantando o mesmo padrão nos novos bairros.

Sou teimoso, admito. Mas nunca vou concordar que uma árvore que caia depois de uma chuva na vila Adyana seja replantada no Urbanova ou em Santana. Que ela seja reposta na mesma rua da vila Adyana e, se possível, exatamente no mesmo local. O mesmo vale para qualquer árvore cortada ou caída em qualquer lugar da cidade.

Dito isto, fica aí a minha contribuição para reflexões durante a Semana do Meio Ambiente. Que a cidade continue mantendo –e até ampliando– a sua cobertura vegetal para continuarmos podendo dizer que “bom, bom mesmo é viver em São José”.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

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