Quase vinte horas depois do fechamento das urnas e início da apuração dos votos das eleições deste domingo (2), chegou o momento de calcular os estragos da explosão que teve a RMVale como alvo e São José dos Campos como epicentro. O que já se sabe é que a recuperação dessa terra devastada será difícil e demorada.
Nada aqui a comentar sobre a vitória arrasadora de Jair Bolsonaro (PL) e de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em praticamente todas as cidades do Vale do Paraíba. Eleição existe para expressar a vontade do eleitor. E a maioria dos eleitores da São José e RMVale fez a sua escolha.
Mas os resultados que saíram das urnas com a votação para deputado federal e estadual foram desastrosos. Dá para acreditar que 1.968.830 eleitores da região só conseguiram eleger dois deputados estaduais e um deputado federal –este que praticamente só mora aqui?
Pois é. Agora, só nos restar ir chorar na cama, que é lugar quente. Pelo menos nos próximos quatro anos a região irá depender de migalhas lançadas por deputados eleitos interessados nesse valioso espólio. Obras com recursos estaduais e federais, assim como subvenções para entidades beneficentes podem ficar seriamente comprometidas.
Hoje, neste “dia seguinte” à tragédia, entidades como Gacc, que atende crianças com câncer, o Hospital Pio XII, a Santa Casa de São José dos Campos e dezenas de outras que cuidam das mais variadas necessidades da população na área da saúde, devem estar se sentindo derrotadas.
Existe ainda uma possibilidade desse prejuízo ser amenizado –e isto é uma análise, não uma recomendação de voto. Se o candidato Tarcísio de Freitas vencer a eleição no segundo turno, Felicio Ramuth (PSD) torna-se vice-governador de São Paulo e fica mais próximo do cofre estadual.
É bom repetir aqui: cada eleitor julga o que considera melhor e todo voto deve ser respeitado. Se Fernando Haddad (PT) vencer, certamente surgirão interlocutores entre a cidade e ele. Isso porque, como se costuma dizer, em política não existe o vácuo, todo espaço vazio acaba sendo ocupado.
Vamos então fazer um breve balanço dessas eleições com o foco em São José dos Campos, que é a nossa “aldeia”, como o poeta Fernando Pessoa tinha a sua e a cantava em verso e prosa.
Vencedores
– Felicio Ramuth – É, até agora, o grande vencedor. Deixou a segurança do cargo de prefeito de uma das maiores e melhores cidades do país para, primeiro, jogar tudo para o alto em uma candidatura a governador pelo PSD que nunca passou dos 3% das intenções de voto; em seguida, o cavalo passou arreado novamente à sua frente e ele se juntou ao bolsonarista Tarcísio de Freitas. Tem chance de tornar-se vice-governador do estado no próximo dia 30, o mais alto cargo político já exercido por um representante de São José dos Campos.
– Leticia Aguiar – Eleita na “onda” bolsonarista de 2018, quase ninguém apostava na continuidade de sua carreira. Mas Leticia Aguiar (PP) mostrou desde o início que sabe o que quer. Tem uma grande capacidade de trabalho e, nesses quatro anos, percorreu praticamente todas as regiões do estado. A reeleição era uma grande possibilidade. Conseguiu 68.556 votos.
– Dr. Elton – Perdeu o mandato de vereador ao deixar o MDB, pelo qual foi eleito, para tentar tornar-se deputado estadual pelo PSC. E conseguiu o seu objetivo ao obter 46.042 votos. Teve como apoio importante a Igreja da Cidade, dirigida pelo articulado e influente pastor Carlito Paes.
– Milton Vieira – Reeleito deputado federal pelo Republicanos, com 98.557 votos, é um dos vencedores porque reside em São José dos Campos. Tem até um filho vereador na cidade. Mas está focado na população evangélica de todo o estado. Precisa transformar-se em um representante mais presente em São José.
Surpresas
– Anderson Farias e o PSD – O prefeito joseense irá fazer um balanço dessas eleições e, com certeza, irá chegar à conclusão de que o desembarque do grupo do PSDB para embarcar no PSD não transformou o novo partido em uma máquina de votos. Pelo contrário: os três candidatos a deputado federal e o candidato a estadual que compuseram o time joseense não foram bem votados. O prefeito deve avaliar essa questão para a eleição de 2024, quando tudo indica que irá disputar a reeleição.
– Dudu Sivinski – Sua votação surpreendeu positivamente. Concorrendo pelo inexpressivo Avante, obteve 43.557 votos e parece ter agradado parte da população com seu estilo um tanto truculento de fazer política. Se quiser, deve ser nome certo como vereador eleito em 2024.
– Carlos Abranches – Lançado de última hora pelo Cidadania, o experiente jornalista, que marcou sua imagem nos telejornais da TV Globo Vale do Paraíba (depois TV Vanguarda), emplacou 39.530 votos e ficou à frente de gente com currículo antigo na política local. Sua estreia nas urnas deve ser elogiada.
Derrotados
– Eduardo Cury – O maior derrotado das eleições em São José, evidentemente, é Eduardo Cury (PSDB), prefeito de dois mandatos, que buscava o terceiro mandato como deputado federal. Mais derrotadas que ele, são a cidade e região, que perdem por pelo menos quatro anos um dos mais competentes parlamentares do país. Não custa lembrar que Cury foi o maior prejudicado do arranjo feito por Felicio Ramuth para alçar novos voos.
– Juvenil Silvério – Teve o maior grupo político da cidade, o PSD, trabalhando por uma candidatura única, a sua. Foram três deputados federais, além do candidato a vice Felicio Ramuth. Simpatizantes chegaram a colocar seu nome junto ao do tucano Cury em “colinha” na tentativa de alavancar votos. Mas os 16.558 votos obtidos nas urnas foram decepcionantes. Pior: derrotado, Juvenil terá que encarar agora a Justiça no processo em que o PSDB estadual reivindica o seu mandato de vereador.
– RMVale – Viveu uma proliferação inédita de candidaturas lançadas porque a regra eleitoral não permite mais coligações nas eleições proporcionais (deputados federais, estaduais e vereadores). É certo que a mesma regra valeu para o país inteiro. Mas o resultado nas urnas é uma grande derrota para a região. Serão dois deputados estaduais e um federal para atender 39 cidades com uma população de 2,6 milhões de habitantes. Será presa fácil dos candidatos de fora, os “paraquedistas”, que se elegeram.
Segundo turno
No próximo dia 30, o país vai escolher entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Em São Paulo, o novo governador sairá entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT). Que a votação seja tão ordeira e correta como foi no primeiro turno. Afinal, a democracia pressupõe respeito à vontade do eleitor.
TOQUE FINAL
Amanhã tem mais Política & Políticos. Não perca!