Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Quase vinte horas depois do fechamento das urnas e início da apuração dos votos das eleições deste domingo (2), chegou o momento de calcular os estragos da explosão que teve a RMVale como alvo e São José dos Campos como epicentro. O que já se sabe é que a recuperação dessa terra devastada será difícil e demorada.

Nada aqui a comentar sobre a vitória arrasadora de Jair Bolsonaro (PL) e de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em praticamente todas as cidades do Vale do Paraíba. Eleição existe para expressar a vontade do eleitor. E a maioria dos eleitores da São José e RMVale fez a sua escolha.

Mas os resultados que saíram das urnas com a votação para deputado federal e estadual foram desastrosos. Dá para acreditar que 1.968.830 eleitores da região só conseguiram eleger dois deputados estaduais e um deputado federal –este que praticamente só mora aqui?

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Pois é. Agora, só nos restar ir chorar na cama, que é lugar quente. Pelo menos nos próximos quatro anos a região irá depender de migalhas lançadas por deputados eleitos interessados nesse valioso espólio. Obras com recursos estaduais e federais, assim como subvenções para entidades beneficentes podem ficar seriamente comprometidas.

Hoje, neste “dia seguinte” à tragédia, entidades como Gacc, que atende crianças com câncer, o Hospital Pio XII, a Santa Casa de São José dos Campos e dezenas de outras que cuidam das mais variadas necessidades da população na área da saúde, devem estar se sentindo derrotadas.

Existe ainda uma possibilidade desse prejuízo ser amenizado –e isto é uma análise, não uma recomendação de voto. Se o candidato Tarcísio de Freitas vencer a eleição no segundo turno, Felicio Ramuth (PSD) torna-se vice-governador de São Paulo e fica mais próximo do cofre estadual.

É bom repetir aqui: cada eleitor julga o que considera melhor e todo voto deve ser respeitado. Se Fernando Haddad (PT) vencer, certamente surgirão interlocutores entre a cidade e ele. Isso porque, como se costuma dizer, em política não existe o vácuo, todo espaço vazio acaba sendo ocupado.

Vamos então fazer um breve balanço dessas eleições com o foco em São José dos Campos, que é a nossa “aldeia”, como o poeta Fernando Pessoa tinha a sua e a cantava em verso e prosa.

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Vencedores

– Felicio Ramuth – É, até agora, o grande vencedor. Deixou a segurança do cargo de prefeito de uma das maiores e melhores cidades do país para, primeiro, jogar tudo para o alto em uma candidatura a governador pelo PSD que nunca passou dos 3% das intenções de voto; em seguida, o cavalo passou arreado novamente à sua frente e ele se juntou ao bolsonarista Tarcísio de Freitas. Tem chance de tornar-se vice-governador do estado no próximo dia 30, o mais alto cargo político já exercido por um representante de São José dos Campos.

Felicio (à dir.), com Tarcísio: vice-governador? Foto / Facebook/Reprodução

– Leticia Aguiar – Eleita na “onda” bolsonarista de 2018, quase ninguém apostava na continuidade de sua carreira. Mas Leticia Aguiar (PP) mostrou desde o início que sabe o que quer. Tem uma grande capacidade de trabalho e, nesses quatro anos, percorreu praticamente todas as regiões do estado. A reeleição era uma grande possibilidade. Conseguiu 68.556 votos.

Leticia: trabalho duro e reeleição. Foto / Facebook/Reprodução

– Dr. Elton – Perdeu o mandato de vereador ao deixar o MDB, pelo qual foi eleito, para tentar tornar-se deputado estadual pelo PSC. E conseguiu o seu objetivo ao obter 46.042 votos. Teve como apoio importante a Igreja da Cidade, dirigida pelo articulado e influente pastor Carlito Paes.

Dr. Elton: trocou mandato de vereador pelo de deputado. Foto / Facebook/Reprodução

– Milton Vieira – Reeleito deputado federal pelo Republicanos, com 98.557 votos, é um dos vencedores porque reside em São José dos Campos. Tem até um filho vereador na cidade. Mas está focado na população evangélica de todo o estado. Precisa transformar-se em um representante mais presente em São José.

Vieira: mora “na” cidade, mas é “da” cidade? Foto / Facebook/Reprodução

Surpresas

– Anderson Farias e o PSD – O prefeito joseense irá fazer um balanço dessas eleições e, com certeza, irá chegar à conclusão de que o desembarque do grupo do PSDB para embarcar no PSD não transformou o novo partido em uma máquina de votos. Pelo contrário: os três candidatos a deputado federal e o candidato a estadual que compuseram o time joseense não foram bem votados. O prefeito deve avaliar essa questão para a eleição de 2024, quando tudo indica que irá disputar a reeleição.

Anderson (segundo da esq. p/ a dir.) e a dúvida para 2024: partido ruim de voto? Foto / Facebook/Reprodução

– Dudu Sivinski – Sua votação surpreendeu positivamente. Concorrendo pelo inexpressivo Avante, obteve 43.557 votos e parece ter agradado parte da população com seu estilo um tanto truculento de fazer política. Se quiser, deve ser nome certo como vereador eleito em 2024.

Sivinsky: os “brutos” também têm votos. Foto / Facebook/Reprodução

– Carlos Abranches – Lançado de última hora pelo Cidadania, o experiente jornalista, que marcou sua imagem nos telejornais da TV Globo Vale do Paraíba (depois TV Vanguarda), emplacou 39.530 votos e ficou à frente de gente com currículo antigo na política local. Sua estreia nas urnas deve ser elogiada.

Abranches: o “cara” da TV Vanguarda foi bem nas urnas. Foto / Facebook/Reprodução

Derrotados

– Eduardo Cury – O maior derrotado das eleições em São José, evidentemente, é Eduardo Cury (PSDB), prefeito de dois mandatos, que buscava o terceiro mandato como deputado federal. Mais derrotadas que ele, são a cidade e região, que perdem por pelo menos quatro anos um dos mais competentes parlamentares do país. Não custa lembrar que Cury foi o maior prejudicado do arranjo feito por Felicio Ramuth para alçar novos voos.

Cury (com Dulce Rita): por pouco, ficou fora. Foto / Facebook/Reprodução

– Juvenil Silvério – Teve o maior grupo político da cidade, o PSD, trabalhando por uma candidatura única, a sua. Foram três deputados federais, além do candidato a vice Felicio Ramuth. Simpatizantes chegaram a colocar seu nome junto ao do tucano Cury em “colinha” na tentativa de alavancar votos. Mas os 16.558 votos obtidos nas urnas foram decepcionantes. Pior: derrotado, Juvenil terá que encarar agora a Justiça no processo em que o PSDB estadual reivindica o seu mandato de vereador.

Juvenil: derrotado, vai tentar ficar na Câmara. Foto / Facebook/Reprodução

– RMVale – Viveu uma proliferação inédita de candidaturas lançadas porque a regra eleitoral não permite mais coligações nas eleições proporcionais (deputados federais, estaduais e vereadores). É certo que a mesma regra valeu para o país inteiro. Mas o resultado nas urnas é uma grande derrota para a região. Serão dois deputados estaduais e um federal para atender 39 cidades com uma população de 2,6 milhões de habitantes. Será presa fácil dos candidatos de fora, os “paraquedistas”, que se elegeram.

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Segundo turno

No próximo dia 30, o país vai escolher entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Em São Paulo, o novo governador sairá entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT). Que a votação seja tão ordeira e correta como foi no primeiro turno. Afinal, a democracia pressupõe respeito à vontade do eleitor.

 

TOQUE FINAL

Amanhã tem mais Política & Políticos. Não perca!

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