No prédio onde moro, na Vila Adyana, os elevadores sobem e descem com, no máximo, duas pessoas. É regra e todos cumprem. Vez em quando alguém altera a rotina do bom dia, boa tarde, boa noite e o ambiente fica propício ao diálogo.
Normalmente me abstenho da polarização política burra e chata. Às vezes concordo com tudo logo só pra encerrar o assunto por ali mesmo.
Hoje tirei a sorte grande de descer com um antivacina (anti CoronaVac, especificamente). Antitudo, na verdade. Do andar onde moro são apenas 50 segundos até o térreo. Tempo suficiente para ouvir um punhado de abobrinha.
Acredita, por exemplo, que a vacina é invenção de um plano diabólico chinês de conquistar o mundo. De fato, para chegar onde chegou, a ciência sofreu com o ceticismo humano.
Cada um pensa o que quiser. Mas diante dos números da pandemia no Brasil, é recomendável um mínimo de bom senso.
“Eu não acredito nesta vacina chinesa. Aceito tomar a de Oxford, mas não aceito a do Dória. Morte, invalidez ou anomalia. Você escolhe. Esta é a vacina que ele está obrigando todos os paulistas tomar”. Esse foi o tom do monólogo, porque diálogo não ia rolar mesmo.
Voltando à China. Nos casos da CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, já distribuiu quase 200 milhões a 20 países, incluindo a própria China.
Desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantan, a CoronaVac tem taxa de eficiência de 50% em casos leves e 80% em casos graves.
E a vacina de Oxford? Também tem insumos chineses, o chamado IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) necessário para produzir os imunizantes. Eles são fabricados no distrito de Wuhan, curiosamente o primeiro epicentro da pandemia do novo coronavírus.
Mentalmente tinha respondido ao interlocutor. Em 50 segundos. Mas fiquei no “tá certo”. “Tenha um bom dia, passar bem”.
> Isnar Teles é jornalista (MTb nº 22.533) há 34 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Adyana.