Foto e ilustração / Maria D'Arc Hoyer

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

“Às vezes a gente parece que finge que trabalha; o leitor lê a crônica e no fim chega à conclusão de que não temos assunto. Erro dele. Quando não tenho nenhum frete a fazer, sempre carrego alguma coisa, que é o peso da minha alma; e olhe lá, José, que não é pouco.”

É isso que me “diz” Rubem Braga, na crônica “Faço questão do Córrego”, em resposta à minha súplica silenciosa, enquanto folheio um dos meus livros preferidos.

Agoniada pela falta de inspiração sobre temas mais leves, uma necessidade que, certamente, todos temos nesse turbilhão de incertezas que a vida se tornou, lá fui eu beber nas fontes dos cronistas que reverencio, em busca de uma fagulha de ideia.

A resposta do velho Braga foi o bastante pra eu sossegar, pois se até um gênio como ele tinha momentos assim, que dirá eu, eterna foca, em busca permanente de aprimorar a arte de desenhar com palavras, as cenas que desejo que os leitores vejam.

E como sei que tenho pelo menos três ou quatro leitores fiéis –e generosos– isso é suficiente para me fazer inquieta quando se aproxima a hora de entregar-lhes um texto e não sinto que tenho algo de valor a dizer.

Mas entendem que o mundo anda pesado? Que por mais paineiras que floresçam, por mais pirilampos que brilhem, temos dias cinzentos, pra muito mais de 50 tons.

Mas entendo ser essencial não permitir que a escuridão tome conta e foi enquanto tentava descobrir, de toda forma, alguma beleza e um sopro de alegria qualquer para dar cor a essas linhas que recebi a mensagem de uma amiga me informando que vai ser avó.

A felicidade estava evidente nas palavras escritas e nos coraçõezinhos azuis, quando ela disse: é menino!! Ô notícia boa. Vida que se renova, espera abençoada.

Numa hora dessas eu paro, respiro fundo e me convenço, sem sombra de dúvida, que a esperança em dias melhores existe e, às vezes, ela tem a forma de uma mensagem assim, com corações azuis na telinha do celular.

É preciso arriar os fardos de nossas almas cansadas; esquecê-los por alguns instantes em um canto qualquer para, por exemplo, olhar a neblina pesada, tão nossa conhecida, em terras joseenses, subir devagarinho, cedendo lugar ao sol.

Afinal, nossa alma, mesmo vergada pelo peso desses dias tão difíceis, precisa ser alimentada com momentos de confiança no futuro.

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.