No próximo domingo (27), finalmente vai chegar ao final a campanha eleitoral mais vulgar da história recente de São José dos Campos, pelo menos desde 1978, quando o município recuperou a autonomia política e voltou a eleger prefeito.
Até que o primeiro turno foi mais civilizado, com todos os seis candidatos procurando desenvolver seus planos de governo. Mesmo assim, surgiram alguns curtos-circuitos em debates e nas redes sociais. O baixo nível passou a imperar no segundo turno, justamente quando se esperava uma disputa com mais qualidade buscando conquistar corações e mentes dos eleitores.
Na verdade, um único fator levou ao acirramento dos discursos, ao abuso nas ofensas e a uma avalanche de acusações, entre verdadeiras e falsas. O fator foi o rompimento de um grupo político que nasceu por volta de 1995 e, com a exceção de um único intervalo de quatro anos ocupado pelo PT de Carlinhos Almeida, vem comandando a cidade com um estoque de seis governos.
Tudo começou com Emanuel Fernandes, que de ilustre desconhecido e azarão, saiu de cerca de 3% das intenções de voto para vencer a eleição de 1996 pelo raquítico PSDB da época. Seu governo estabeleceu novos paradigmas para a administração pública em São José, virou quase unanimidade e deu início à dinastia que está se dividindo agora.
Veio mais um governo de Emanuel com a vitória em 2000, e mais dois governos do seu herdeiro político, Eduardo Cury, em 2004 e 2008. Depois de um tropeço em 2012, com Alexandre Blanco, jovem herdeiro de Juana Blanco e do padrasto Emanuel, os então tucanos emplacaram mais duas vitórias, em 2016 e 2020, ambas com Felicio Ramuth, herdeiro escolhido por Cury.
Os rumos da política, com o enfraquecimento do principal partido de esquerda, o PT, e uma guinada violenta rumo à direita, levaram o grupo a se dividir desde a eleição para o governo do estado, em 2022, quando Felicio decidiu buscar melhor sorte rompendo a barreira municipal ao se candidatar a governador pelo PSD. Em seguida, a raposa que domina o partido, Gilberto Kassab, garantiu a eleição do ex-prefeito joseense como vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A decisão de Ramuth teve o efeito de um pedido de divórcio litigioso, deixando de um lado Felicio e seu herdeiro Anderson Farias e, do outro, o patrono de todos, Emanuel Fernandes, com o seu afilhado raiz, Eduardo Cury.
Enquanto os parceiros, antes inseparáveis, faziam as malinhas para se fixar nos dois partidos que disputam atualmente a hegemonia na política nacional –PSD, mais ao centro, e PL, mais à direita–, sobrou para o eleitor decidir para que lado vai pender no município.
Até agora, os ventos parecem soprar mais para o lado dos novatos Felicio e Anderson do que para o dos pioneiros Emanuel e Cury [veja nota abaixo sobre a pesquisa eleitoral do jornal/portal O Vale]. O problema é que, como nas brigas entre velhos casais que acabam na delegacia, os dois grupos estariam quase prontos para ceder o poder a qualquer um que não fosse o adversário direto. Isso explica a virulência que está marcando a campanha eleitoral.
No início da noite do próximo domingo (27), o poder estará entregue para uma das duplas pelos próximos quatro anos. Dois ex-tucanos estarão no poder, enquanto outros dois ex-tucanos terão que se contentar com a oposição.
Até lá, o pobre eleitor terá que assistir a este triste espetáculo em que, pelo teor do chumbo trocado, a acreditar nos candidatos, nenhum dos dois vale nada e, em vez de ocuparem a Prefeitura, deveriam ser candidatos a uma cela de prisão.
É claro que esses ataques representam um exagero na busca desesperada pela vitória. Que os quatro líderes políticos da cidade possam, depois de baixada a poeira, comportar-se como legítimos representantes do povo. É o que São José dos Campos merece.
PALANQUE
Boas e más notícias
Quando os relógios entraram no primeiro minuto desta terça-feira (22), o jornal O Vale publicou em seu portal o resultado da pesquisa eleitoral encomendada junto ao instituto Ágili. Os números trouxeram boas notícias para Anderson Farias (PSD), e más para Eduardo Cury (PL). Pelas intenções de voto, Anderson, com 50,2%, seria o prefeito reeleito, enquanto Cury, com 35,3%, seria levado para a oposição. Considerados os votos úteis, Anderson ficou com 58,7% e Cury com 41,3%.
Uma advertência para os fãs dos dois candidatos: pesquisa mede intenção de voto, mas o que decide eleição é o voto registrado na urna eletrônica. Antes da eleição, estão marcados dois debates importantes, do próprio O Vale, e da TV Vanguarda, com direito a divulgação de pesquisa da emissora. Pela pesquisa mais recente, a diferença entre os dois candidatos é um caminhão de votos. Mas a cautela recomenda que se aguarde o resultado oficial.
Na dúvida, não fale (1)
Uma das lições que a campanha eleitoral deste ano está deixando é a falta de cuidado com o que os candidatos dizem coisas e depois querem desmentir o que disseram. O uso intenso das redes sociais virou um prato cheio para desmoralizar candidato que fala mal de antigo adversário e atual aliado. Exemplo: as entrevistas de Cury falando o que pensa sobre Bolsonaro.
Na dúvida, não fale (2)
Do lado de Anderson, as saias justas ficaram por conta de frases soltas que foram usadas pelos adversários, como o “vai pro inferno” contra um vereador e o “chuta o gato” momentos antes de uma gravação.
Daqui por diante, todo cuidado é pouco. As paredes –e os celulares– têm olhos e ouvidos.
À vontade demais
Quem tem visto a desenvoltura do candidato do União Brasil a prefeito de São José, Dr. Elton, ao apoiar o candidato Eduardo Cury, pode até se perguntar em quem mesmo ele votou no primeiro turno. A verdade é que, caso Cury vença a eleição no domingo, ainda que isto pareça improvável, o apoio do terceiro colocado no primeiro turno pode sair bem caro, seja em propostas, seja em cargos. Elton cumpriu a promessa e realmente entrou de cabeça na campanha para transferir seus votos a Cury.
Mostrando a cara
Nesses últimos dias, antes da eleição de domingo, as campanhas de Cury e Anderson estão sendo tomadas por declarações de apoio de candidatos a vereador, eleitos e não eleitos. Para os não eleitos, é o momento de aparecer para uma última tentativa de dar a vitória ao candidato e garantir um lugar no futuro governo.
Em SP, últimos lances
Assim como em São José, na cidade de São Paulo a diferença entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) parece difícil de ser eliminada. Pelo menos é o que dizem as pesquisas. Levantamento do instituto Paraná, divulgado nesta terça-feira (22), deu 51,7% das intenções de voto para Nunes e 39,6% para Boulos.
Quem defende que o quadro não irá se alterar até a eleição mostra que, nos três levantamentos que o instituto realizou neste segundo turno, o prefeito oscilou 1,1 ponto para baixo enquanto o deputado variou 0,6 ponto para cima. Ou seja, o quadro é de estabilidade.
TOQUE FINAL
“Eleição e mineração, só depois da apuração.”
Provérbio muito usado na política brasileira, autor desconhecido
*Texto atualizado às 11h37 do dia 24/10/24 após revisão ortográfica e de estilo. O título foi alterado.