Quando o abrigo se transforma num inferno de sofrimentos. Foto / Facebook/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Você já assistiu na TV por assinatura aquelas séries sobre acumuladores compulsivos, aquelas pessoas que não conseguem descartar absolutamente nada e vão transformando suas casas em verdadeiros depósitos de lixo?

É de partir o coração ver a situação dessas pessoas que sequer conseguem fazer uma refeição à mesa ou mesmo dormir em suas camas, pois todos os espaços e móveis estão tomados por coisas e mais coisas.

Agora imagine essa pessoa acumulando animais no lugar de coisas. Vivendo num lugar com 15, 20 cachorros e mais uns 30 gatos, num espaço onde mal cabe ela?

Caixas, sacos, papeis, enfim, objetos inanimados não sofrem qualquer dano se ficarem empilhados. No máximo ficarão cheios de pó. Mas quando se acumula animais, que sentem dor, fome, que podem ficar doentes, que podem transmitir doenças não só para o morador local, mas para a vizinhança, a história fica bem mais complicada.

E acredite, infelizmente esse distúrbio mental conhecido como disposofobia, o de acumular coisas –e animais– sem que a pessoa tenha noção do que está fazendo, é muito mais comum do que você imagina.

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Acumulando sofrimento

A maioria das pessoas que possuem esse distúrbio em relação a acumular animais só quer ajudar. A intenção é das melhores. Ela vai resgatando animais de ruas e de maus tratos, geralmente cães e gatos, e os leva para um sofrimento maior, que ela não consegue enxergar.

Esses animais não ficam quietinhos num canto só pegando pó. Eles precisam comer, precisam de vacinas, remédios; dão muito trabalho, porque é necessário limpar o local onde ficam e precisam de banho também. Porém a pessoa que está de posse deles não consegue enxergar nada disso. Ela continua vendo os animais como sendo seus objetos.

E no lugar de protetores essas pessoas acabam se transformando em opressores dos animais, que acabam vivendo um verdadeiro inferno nesses lugares. Passam fome, brigam por conta do estresse, se machucam, alguns acabam morrendo no local por falta de comida e água e, o pior de tudo, seus corpos acabam virando refeição para os outros, desesperados por comida. É um cenário de horror que poucos teriam estômago de ver, mas que infelizmente existe.

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O que fazer?

Em geral, o acumulador vive em estado de constante negação da realidade. Na verdade, ele realmente acredita que está ajudando e que os animais estão bem, vendo a si mesmo como salvador e protetor deles.

Eles também vivem dizendo que precisam dar um jeito na situação e não sabem explicar como ela fugiu do controle, mas é tudo da boca pra fora, para que as pessoas não fiquem perturbando e dizendo o que eles devem fazer. Alguns chegam a ficar agressivos com as pessoas que insistem em questioná-los, ou até mesmo ajudá-los.

E quando aparece alguém querendo adotar um de seus bichinhos, essa pessoa inventa uma desculpa e não prossegue com a doação do animal porque isso já faz parte do seu transtorno mental. Essa pessoa não consegue se desfazer do que julga ser apenas dela.

Se você conhece alguém com as características de um acumulador de animais, seja persistente e mantenha o foco sempre nos animais, eles precisam de ajuda e muitas vezes você pode ser a única pessoa que conseguirá fazer a diferença para eles!

Você pode registrar um Boletim de Ocorrência de maus-tratos. Algumas cidades têm delegacias de bem-estar animal, mas você pode registrar o B.O. de maus-tratos em qualquer delegacia.

Denuncie o acumulador para outros órgãos, como o Ministério Público (MP), que é responsável por processar crimes ambientais. Outra providência é chamar a Vigilância Sanitária, que pode e deve intervir em casos de acumuladores.

Aliás, existem municípios que possuem grupos de apoio aos acumuladores, tanto de coisas como de animais. Esses grupos fazem toda a diferença na vida dessas pessoas, que recebem apoio de vários profissionais para começarem uma vida nova.

Outra coisa que você nunca, jamais –eu disse jamais– deve fazer é entregar um animal para uma pessoa que se diz protetora, mas é uma acumuladora. Se isso acontecer, saiba que você é cumplice no sofrimento desse ser indefeso.

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Não vale a intenção

Quase não existem pesquisas que investiguem o transtorno da acumulação. Algumas indicam que o transtorno de acumular animais geralmente está associado a problemas de relacionamento, perda de ente querido, carência, e que os animais suprem essa deficiência na vida da pessoa.

Essas pessoas também sofrem de um desligamento emocional tão grande, sem enxergar a situação como ela realmente é, a ponto de não sentirem o cheiro do xixi ou das fezes dos animais esparramados pelo quintal ou dentro de casa. Pior que isso é não enxergarem a dor pela qual o animal está passando.

Mesmo que a intenção seja a de fazer o melhor –e ninguém duvida disso–, nenhum animal merece ficar confinado num lugar que possa lhe causar dor e sofrimento. E mesmo que esses acumuladores não sejam pessoas más, e sim pessoas doentes, que necessitam de tratamento (se for o caso, até de forma compulsória), temos que ter em mente que os animais são seres totalmente indefesos e se não forem as pessoas de bem olharem por eles, cuidarem deles, eles não sobrevivem.

E você, se considera uma pessoa de bem?

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.