Centro de Bragança Paulista. Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Ao ler esta coluna, quem me conhece profissionalmente pode pensar que raios estou fazendo em um espaço que pretende dedicar-se à decoração e à jardinagem. Mas explico que não é tão estranho assim, não para mim que no primeiro dia de aula do curso de Jornalismo, lá se vão quase cinco décadas, fui parar sem querer em uma aula de Arquitetura. Estava gostando muito do tema e do professor de História da Arte, e só no final da aula me dei conta de que estava na sala e no curso errados. Até hoje penso se não deveria ter me aquietado por lá.

Para não pensarem que está aqui a falar uma completa neófita no assunto, faço uma rápida regressão aos meus primeiros contatos com a arquitetura e a decoração, e a paixão que me despertaram ainda na infância. Entre os 7 e 16 anos morei em Bragança Paulista, cidade que integrou o ciclo do café no século XIX. Com as culturas chegaram os grandes proprietários, os chamados barões do café, e suas famílias que na cidade construíram casas e mansões nos estilos belle époque, art nouveau, art déco, clássico e colonial português. Casarões e palacetes se espalharam pela cidade e na área rural, com as sedes das fazendas, além dos prédios públicos que seguiam os mesmos estilos.

O belle époque era o que mais me fascinava. As casas nas ruas centrais, revestidas de paralelepípedos, eram um verdadeiro pout-porri de detalhes, cores e elementos rebuscados. Os gradis de ferro que contornavam as escadas sinuosas nas entradas, quase sempre de mármore, eram trabalhados com entalhes que formavam florões e arabescos, um trabalho executado por artistas serralheiros. Me encantavam os pisos de ladrilho hidráulico, as janelas com vitrais coloridos ou com motivos florais estampados em jato de areia. A foto em preto e branco mostra a praça central da cidade na década de 1950, não muito diferente do que me lembro nos anos 1960 quando lá morei.

Uma das casas que mais me impressionava era a residência e local de trabalho do dentista de nossa família. O consultório ficava na sala principal, que me parecia enorme, e a cadeira dos pacientes ficava bem no meio da sala, colocada de forma insólita no meio de adornos e cores em profusão. Talvez ali eu tenha perdido o medo de dentistas, pois com tantas distrações visuais, mal prestava atenção no motorzinho que fazia um barulho medonho. Procurei uma sala semelhante no Pinterest e achei a foto colorida que ilustra este texto. Era bem parecida, embora as poltronas nessa foto sejam contemporâneas.

Foto / Pinterest

Essas imagens se alojaram em minha memória pelo fascínio que me causavam, e é claro que na época não tinha noção alguma sobre arquitetura e decoração. Mas foi lá, naqueles primeiros anos da minha vida, que o gosto pela beleza de ambientes interiores e pelos jardins começou a nascer.

Bragança Paulista, como outras cidades que vivenciaram o ciclo do café, além de São Paulo, e do Rio de Janeiro (essa por ser a capital do País), também prezavam as praças e os jardins, então inspirados nos modelos europeus. Assim também comecei a notar a importância dos espaços públicos ocupados por jardins devido à beleza e ao bem-estar que proporcionam. Pena que muito disso se deteriorou, ainda que nos últimos anos tenhamos voltado a valorizar esses espaços.

A relação entre a natureza, os jardins e os espaços que habitamos está presente desde que se tem registro na história humana. As formas orgânicas na arquitetura, até nas construções mais primitivas, sempre buscaram trazer para os ambientes interiores as formas, os contornos e as cores da natureza. Os telhados das casas em diferentes partes do globo se amoldam às condições climáticas de cada região. O ninho, a toca, a oca, a tenda, o iglu e as casas, desde as mais simples até os palácios, trazem conforto e aconchego quando, mesmo que de forma sutil, refletem a natureza que as cercam.

Mas podem ficar tranquilos que aqui não vamos tratar de decoração e jardinagem somente como história ou como licença poética. A ideia é, a cada semana, trazer algum tema específico que possa interessar aos leitores, como as opções e escolha de estilos, uso das cores, tendências e novidades na decoração e jardinagem.

O espaço que habitamos e a natureza que nos cerca assumiram uma importância enorme nos últimos tempos, sobretudo após a pandemia do Covid-19. Ficar e estar bem em casa passou a ser não apenas uma opção, mas uma necessidade imposta pelo risco da doença. Os espaços abertos, jardins e parques públicos, embora sempre fundamentais, são agora necessários como templos de devoção ao nosso bem-estar físico e mental. Não é modinha, não é frescura. Habitar um ambiente que nos traga paz e aconchego passou a ser um luxo maior do que qualquer outro bem de consumo. Nessa coluna vamos tratar a decoração e a jardinagem por essa ótica, do bem-estar humano, da convivência social e de nossa relação atávica com a natureza.

 

> Fabíola de Oliveira é jornalista há 43 anos e tem doutorado em jornalismo científico pela USP. Aposentada do INPE, onde era responsável pela área de comunicação, foi depois professora e coordenadora do curso de jornalismo da Univap. Desde a infância é apaixonada por decoração e jardinagem.