Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Mal dezembro chegou e deu início a uma loucura de consumo em todo lugar. Começou em casa, até tia Filoca entrou na onda:

− Tá todo mundo louquinho para gastar. Até eu vou fazer umas comprinhas. Mas não sou como essas consumistas descabeladas!

De fato, a época das festas e gastos chegou com tudo. É um tal de fazer listinhas de compras, de parentes, amigos e até colegas. Para estes tem normalmente o indigitado “amigo secreto”, uma fórmula inventada para economizar, com uma diversão embutida para a hora da entrega.

Aliás, esses amigos secretos –às vezes nem amigos são– apresentam seus inconvenientes: a Maricota ganha um presentinho −um mimo disse a amiga− e logo comenta com outros:

− Esse presentinho que ganhei não chegou a custar o mínimo combinado de cem reais! Fiquei no prejuízo, pois gastei muito mais com o presente que eu dei!

E o que dizer dos indefectíveis bolões de loterias de todo fim de ano? Antigamente era o bilhete de Natal da loteria federal. Hoje tem uma profusão de jogos. É constrangedor, alguns dos organizadores pressionam:

− Você não vai ficar de fora, né? Conheço um cara que não entrou no bolão e deixou de embolsar uma bolada. Acredita que ficou deprimido e foi dessa para melhor em menos de ano? Não aguentou todos os colegas de serviço ficarem numa boa e ele suando para pagar boletos.

Daí, você fica quase obrigado a entrar no tal bolão. Vai que ganha, né?

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As festinhas de fim de ano são outra preocupação, e haja dinheiro. É dos colegas de serviço, dos amigos da academia, da turma do condomínio, dos pais da escola das crianças. Assim vai, tudo nesse mês representa algum desembolso!

Sem considerar os gastos exorbitantes da ceia e almoço de Natal, bem como da festinha de última hora de Réveillon. Isto porque você vai arcar com a maior parte das despesas se o evento for na sua casa.

Em alguns lares por aí –ressalvo que não se sucede conosco– acontece algo não muito engraçado. Na hora de escolher o que cada um traz, já vem aquela espertinha que se adianta:

− Deixe a salada comigo! Vou fazer uma caprichada. Mentirinha, sua danada, aparece aquela saladinha bem mixuruca, disfarçada com alguns enfeites. Se não pegar a escolha matreira, oferece levar a sobremesa. Na hora, vem aquela bem baratinha ou sem nenhum trabalho. Como um bolinho ou o indefectível pudim de doce de leite.

APOIO / SUPERBAIRRO

Nas bebidas, outros truques, geralmente daqueles que bebem bem:

− Ei, pessoal, trouxe umas cervejinhas da boa. Onde é que eu ponho?  Vai ver, é Malt 90 ou nessa linha.

É um mês estressante mesmo. O que dizer das propagandas para você comprar e viajar? Um bombardeamento diário, querem empurrar algo na sua goela abaixo. Fraudes mil. Nesse passo, não há décimo terceiro que aguente!

Você na verdade já está de olho nas despesas de janeiro, que vêm bem feias: férias, matrículas, IPVA, IPTU, lista de materiais, tudo reajustado.

Para culminar, dezembro é o mês em que aqueles prestadores de serviço que você normalmente não vê nem a sombra vêm assombrá-lo todos os dias. É o lixeiro, a coleta seletiva, o carteiro, vigilantes, varredores de rua e outros. Outro dia apareceu um gari e sem cerimônia já foi dando o preço da gorjetinha de Natal:

− Tio, este ano a caixinha é só cinquenta pila!

Tia Filoca já foi advertindo, no seu jeito rabugento:

− A gente quer dar um cartão de boas festas ou um panetone, mas esses estafermos não aceitam, gente. Querem é grana de caixinha. Comigo, não.  Se algum estafermo insistir, vai ver é o mimo de uma vassourada bem dada!

 

José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.