WAGNER MATHEUS
As fases vermelha e emergencial da pandemia no estado de São Paulo estão provocando uma crise sem precedentes no segmento dos bares e restaurantes. SuperBairro visitou estabelecimentos na região do centro novo e encontrou desolação, ansiedade e, em alguns casos, revolta.
Apesar de a maioria dos empresários e comerciantes ouvidos concordar que os governos municipal e estadual devem adotar medidas duras para enfrentar a pandemia de covid-19, eles aguardam o próximo dia 11, quando esperam poder ao menos reabrir as portas com 40% de ocupação.
Resultado nulo
O ano tem sido difícil para o comércio em geral. Entre 16 de janeiro e 4 de fevereiro, a fase vermelha fechou tudo, menos as atividades essenciais. Depois, entre 5 de fevereiro e 14 de março, houve pouco mais de um mês com fase laranja e restaurantes podendo ocupar até 40% de seus lugares.
Porém, desde 15 de março até agora, seguiram-se novamente a fase vermelha e a fase emergencial, que está prevista por decreto até o próximo dia 11. Nada indica, até o momento, que a região do Vale do Paraíba poderá voltar à fase laranja, devendo prosseguir, no mínimo, na vermelha.
Apesar do sacrifício do comércio e serviços, o Vale marcou média de 45% de isolamento (46% em São José) durante o período emergencial, quase o mesmo que o registrado no final do ano passado, fora da fase vermelha, quando a média ficou em 42%, segundo o Centro de Contingência ao Coronavírus de São Paulo.
Aposta no drive-thru
Até o final da semana passada, 712 comerciantes haviam obtido autorização para montar drive-thru nas vias públicas. A medida foi apresentada pela Prefeitura de São José dos Campos como uma alternativa para minimizar os impactos econômicos da pandemia, uma vez que, na fase emergencial, ficou proibida a retirada de produtos no balcão, restando as opções de delivery ou drive-thru, com entrega diretamente no veículo.
O que se viu, na prática, foi o comércio de maior porte aderindo à mudança, embora a desobediência às regras possa ser vista em toda a cidade. As principais violações são as vendas diretamente a consumidores sem uso de veículo e o atendimento por frestas de portas entreabertas.
Ansiedade, críticas e esperança
Na região do SuperBairro, comerciantes e empresários, ouvidos nos últimos dias, demonstraram ansiedade pelo momento que estão vivendo, mas esperança de que em breve as portas reabram e as vendas voltem a subir.
Buxixo GastroBar
(Avenida Anchieta, Jardim Esplanada II)
Sem poder receber os clientes, o Buxixo fechou nos dias de semana e tem funcionado só aos sábados e domingos com carnes assadas servidas por delivery ou drive-thru.
“O movimento do fim de semana não mudou, a nossa clientela é fiel”, disse o proprietário Renato Gambin, que trabalha no local com sete funcionários. Ele se cadastrou na Prefeitura para poder abrir o drive-thru.
“A gente entende que o momento é difícil, eles [o governo] estão fazendo o que podem”, opinou.
Pizza Me
(Avenida Barão do Rio Branco, Jardim Esplanada)
A pizzaria foi montada há três meses, quando ainda era possível a ocupação de 40% dos restaurantes, mas nem deu tempo, veio a fase vermelha e a Pizza Me teve que atender somente por delivery. Agora, na fase emergencial, montou drive-thru.
“Estamos tentando suportar esse período de pandemia, mas ainda nem pudemos abrir o salão”, queixou-se a proprietária Márcia Diniz. “Estamos esperando o que virá no futuro, nem sabemos como é a experiência de ter o salão aberto.”
A Pizza Me trabalhava com entrega pelo ifood e retirada no balcão. Agora, na fase emergencial, o acesso ao balcão foi substituído pela entrega nos automóveis.
Quiosque Pôr do Sol
(Avenida Anchieta, Jardim Nova América)
Segundo Lucas Vicente da Silva, 28 anos, um dos proprietários do tradicional trailer de água de coco na avenida da orla do Banhado, o movimento de vendas se manteve nos finais de semana, mas houve queda nos dias úteis.
“O drive-thru tem ajudado um pouco, mas nosso movimento de ciclistas e pessoas a pé era bem grande”, explicou Lucas. “Bem no início da pandemia, no ano passado, até junho o movimento caiu demais, depois foi crescendo um pouco e se estabilizando, e hoje está suportável”, revelou.
Quanto ao comportamento das pessoas que insistem em comprar fora do sistema drive-thru, o comerciante disse que o estabelecimento tem sido rigoroso: “Tem gente que respeita, tem gente que não, mas nós estamos fazendo a nossa parte”.
Casa de Massas Vila Ema
(Avenida Heitor Villa-Lobos, Vila Ema)
André Luiz Rovella, 43 anos, é proprietário de um dos estabelecimentos mais tradicionais da Vila Ema e bairros vizinhos –com 33 anos de portas abertas– e trabalha principalmente com produtos para consumo no domicílio. Mas queixou-se bastante do momento que o comércio está vivendo.
“No nosso caso, de março de 2020, quando começou a pandemia, até hoje, a queda no faturamento gira em torno de 50%”, afirmou. “Com o drive-thru e o delivery nesta fase emergencial, a queda chega a 70%.”
Segundo André, a “culpa” pela redução nas vendas não é só da proibição de entrada na loja: “As pessoas estão sem dinheiro e evitando comprar fora, meu movimento no drive-thru acontece mais no horário de almoço e, praticamente, só com marmitex”.
A empresa colocou funcionários de férias e ainda não houve cortes, mas, segundo o proprietário, se a situação continuar assim, vai ser preciso rever o quadro de pessoal.
Capital da Vila e Parrilla del Capital
(Avenida Anchieta, Jardim Nova América)
Distantes cerca de 100 metros um do outro no valorizado corredor gastronômico da avenida Anchieta, os dois restaurantes estão sofrendo profundamente durante a fase emergencial, quando nem os 40% de ocupação das casas é permitido. Charles Henrique Rosa, 30 anos, um dos proprietários, reclamou dos critérios adotados.
“O drive-thru não funciona e, além disso, é ridículo o cliente não poder entrar para retirar seu pedido, mas nós podermos sair e entregar nos carros”, criticou. “Isso não faz sentido, o risco é maior.”
A avaliação do empresário é que a queda de faturamento, em comparação com o período anterior à pandemia, ficou em torno de 50% enquanto os clientes podiam ocupar até 40% dos lugares.. “Mas quando chegou a fase vermelha e a emergencial e o acesso aos salões foi fechado, o movimento desabou cerca de 90%”, disse.
“Estamos esperando reabrir para recuperar pelo menos os 40% que tínhamos quando as casas podiam receber clientes”, completou Charles. “Queremos reabrir para retomar a vida.”
> Texto atualizado às 22h32 do dia 5 de abril de 2021.