Foto / Célia Paccini/Arquivo pessoal

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Amado por muitos, embora não seja unanimidade, o inverno chegou. A estação deve ter temperaturas mais baixas do que no ano passado, mas não estará entre os mais rigorosos já vistos na região Sudeste, pelo menos.

Rigoroso ou não, é tempo de invernada; aquele período no qual os fazendeiros recolhem as criações para piquetes mais protegidos ou currais fechados. A ideia é evitar que percam energia e peso no esforço para resistir aos rigores do clima.

As plantas, por sua vez, começaram a se preparar desde os meses de outono, transformando a verdejante clorofila em nitrogênio, deixando nas folhas apenas carotenos e xantofilas, responsáveis pelos tons avermelhados que criam lindas paisagens. O nitrogênio, armazenado com cuidado, será o grande responsável pela força da planta para a brotação na primavera.

Ursos, morcegos, marmotas, ratos silvestres e muitos outros animais também levam muito a sério o nome da estação e passam meses hibernando. Assim, ficam a salvo de jornadas perigosas e geladas em busca de alimentos escassos.

Aquecidos em suas cavernas e tocas, dormem longamente, poupando forças e aguardando que a primavera desperte as folhas verdes, os insetos, a vida.

Tudo muito de acordo com a definição ancestral, em Latim, do nome da estação: tempus hibernus, ou tempo de hibernar, de ficar quieto em casa, de poupar energia, de se proteger, de sossegar o facho. Vale para todos que fazem parte da natureza, nós humanos inclusive.

Este ano, mais do que nunca. A caminhada tem sido longa, desgastante, desanimadora, mas tudo indica que estamos perto da linha de chegada, que a nossa hibernação forçada até nas estações quentes e luminosas está chegando ao fim.

E é isso que faz incompreensíveis, para quem tem mais visão e juízo, as imagens de aglomerações em Campos do Jordão, em São Paulo, aos primeiros sinais de baixas temperaturas, no início de junho.

Antes mesmo da chegada oficial da estação, a suíça brasileira, meca dos endinheirados, já estava lotada de pessoas grudadinhas, sem máscara, bebendo e confraternizando como se não houvesse amanhã. Bom, com atitudes coletivas como esta pode não haver mesmo, infelizmente, para muita gente.

Ok, não somos animais ou plantas. Fabricamos casacos aconchegantes, cozinhamos comidinhas reconfortantes, curtimos saborear um bom vinho e chocolate quente é tudo de bom.

Além disso, o comércio precisa muito de apoio. Então, não precisa hibernar. Vai, mas vai com cuidado. Use máscara, mantenha o distanciamento. Mesmo que veja um grupo aglomerado, não precisa embarcar. Como diziam as mães (talvez ainda digam) durante as restrições impostas na adolescência, você não é todo mundo.

Aproveita a dormência da estação e vai com calma. Parafraseando o mestre Drummond, abusadamente, é dentro de você que a primavera cochila e espera desde sempre, e vai chegar. Respeita e confia. Bom inverno.

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.