Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Wisława Szymborska

 

Se os eleitos dos deuses morrem cedo,

o que fazer do resto da vida?

A velhice é como um abismo

já que a juventude é o cume.

Daqui não saio.

Continuarei jovem ainda que numa perna só.

Com bigodes fininhos

como o guincho de um rato

me agarro ao ar.

Nessa posição renasço continuamente.

Não conheço outra arte.

Mas serei sempre eu:

as luvas mágicas,

na lapela a roseta da primeira mascarada,

o falsete dos manifestos juvenis,

o rosto do sonho da costureira com um crupiê,

os olhos que eu gostava de pintar retirados

e de espalhá-los como ervilhas de uma fava,

pois vendo isso tremiam as coxas mortas

da rã pública.

Espantem-se também vocês.

Espantem-se, por cem barris de Diógenes,

que eu o venço em ideias.

Rezem

o recomeço eterno.

Isto que seguro nos dedos

são aranhas que mergulho na tinta nanquim

e atiro na tela.

Estou no mundo outra vez.

Floresce um novo umbigo

na barriga do artista.

 

* Tradução da Regina Przybycien

 

Wisława Szymborska foi uma escritora polonesa ganhadora do Prêmio Nobel de literatura em 1996. Poeta, crítica literária e tradutora, viveu em Cracóvia. Wislawa nasceu em 2 de julho de 1923, em Kórnik (Polônia) e morreu em 1º de fevereiro de 2012, em Cracóvia (Polônia). Fonte: Wikipédia

> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.

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