No início da noite de um dos domingos mais tranquilos da história das eleições em São José dos Campos, os 730 mil habitantes da cidade conheceram os 21 vereadores eleitos –muito mais reeleitos que eleitos– e quatro dos seis candidatos a prefeito ficaram fora do jogo.
No dia 27 ficará definido se o prefeito para os próximos quatro anos será Anderson Farias (PSD) ou Eduardo Cury (PL). A boa notícia é que os dois já foram testados no cargo, o primeiro por pouco mais de dois anos e o segundo por oito anos, e ambos tiveram seus governos bem avaliados pela população.
Além disso, como insistiu o petista Wagner Balieiro durante a campanha, são “farinha do mesmo saco”, ou seja, fizeram parte do mesmo grupo político por mais de 20 anos. Agora, irão travar um duelo em que um sai vencedor e o outro volta para casa.
Eleição tranquila
Entre as 8h e as 17h, o que se viu em todo o município foi um clima de absoluta tranquilidade. Em torno dos locais de votação, a movimentação de eleitores foi estranhamente baixa. Até os tradicionais “santinhos” jogados ao chão para atrair votos de eleitores indecisos estiveram ausentes em quase todas as regiões da cidade.
No final da apuração, ficou comprovado que não havia razão para temer uma fuga recorde de eleitores em São José. Embora alta, a abstenção de 24,75% nesse primeiro turno foi menor que os 26,87% registrados no primeiro turno de 2020. Mesmo assim, foi maior que a média do país, com 21,7% que não compareceram para votar.
Sem surpresa
Totalizados os votos para prefeito, a ida de Anderson e Cury para o segundo turno não foi surpresa. Desde antes do início da campanha já se sabia que os dois seriam fortes candidatos. O que não se sabia era se Cury realmente iria disputar a eleição e, quando ele entrou, alterou todo o cenário traçado pelos concorrentes.
As pesquisas eleitorais mexeram com os nervos de candidatos, apoiadores e eleitores. No início, deram Eduardo Cury como líder, depois viram Anderson Farias se aproximar. Até que, na metade do mês de setembro, uma delas ateou fogo nas campanhas ao apontar um empate técnico entre Dr. Elton (União) e Anderson, sendo que o médico estava numericamente à frente por 23% a 20%. Anderson chegou a questionar o resultado, mas a consulta registrada no TSE continuou valendo, apesar da ameaça de contestação.
Ao embolar Dr. Elton e Anderson, a pesquisa tornou os 20 últimos dias de campanha emocionantes. Empolgado, Elton foi para cima do prefeito tentando lhe tirar o lugar no segundo turno. Já Anderson tratou de mudar a estratégia e tornou-se mais agressivo com os adversários próximos. As campanhas se mantiveram assim até que as três últimas pesquisas do primeiro turno recolocaram as coisas como no início: Anderson e Cury mais à frente, com o Dr. Elton praticamente sem chances.
Veio a votação de domingo e, com ela, uma última e grande surpresa. Os dois candidatos que foram para o segundo turno eram os esperados, mas a distância entre os dois –de 50 mil votos– não foi prevista por nenhum analista. Anderson ficou em primeiro com 39,66% dos votos válidos (144.061), Cury em segundo com 25,96% (94.947) e Dr. Elton em terceiro com 19,89% (72.745). Em quarto, ficou Wagner Balieiro (PT), com 11,67% (42.679 votos), em quinto Prof. Wilson Cabral com 2,38% (8.710) e, em sexto lugar, Toninho Ferreira (PSTU) com 0,45% (1.659 votos).
A partir de agora, saem de cena os demais candidatos a prefeito e a vereador e a disputa vai se resumir a Anderson x Cury ou Cury x Anderson. Um dos dois irá governar a cidade entre 2025 e 2028. Você arrisca um palpite?
Candidatos agradecem
Veja a seguir a manifestação dos seis candidatos a prefeito de São José depois do anúncio do resultado.
Anderson Farias
https://www.instagram.com/reel/DAze90rv4IJ/?igsh=djl3c3ZmNHZubWsx
Eduardo Cury
https://www.instagram.com/reel/DAzXMIhvTBv/?igsh=aHFkczBxeDhqN2Q0
Dr. Elton
https://www.instagram.com/reel/DAzpk7dutgj/?igsh=MTJydzA5ZWl3OWdhaw%3D%3D
Wagner Balieiro
https://www.instagram.com/reel/DA00vO1vOro/?igsh=MXZ3YnpvM25kcW5wbA%3D%3D
Prof. Wilson Cabral
Toninho Ferreira
https://www.instagram.com/reel/DAyittCvpap/?igsh=aXYzcG44NmljdWMw
Na Câmara, baixa renovação
Como tem ocorrido nas eleições para o Poder Legislativo em geral, a renovação de nomes é baixa. Em São José dos Campos, não foi diferente. Das 21 cadeiras, 15 continuarão sendo ocupadas por vereadores reeleitos, com apenas seis caras novas no grupo. A taxa de renovação, portanto, foi de apenas 29%.
Os novatos são, por ordem de votação: Carlos Abranches (Cidadania), Cláudio Apolinário (PSD), Senna (PL), Sidney Campos (PSDB), Sérgio Camargo (PL) e Gilson Campos (PRD). Mesmo assim, Camargo já foi vereador e agora retorna à Câmara.
Os reeleitos, também por ordem de votação: Amélia Naomi (PT), Fabião Zagueiro (PSD), Thomaz Henrique (PL), Roberto Chagas (PL), Fernando Petiti (PSDB), Marcão da Academia (PSD), Zé Luís (PSD), Renato Santiago (União), Juliana Fraga (PT), Rafael Pascucci (PSD), Roberto do Eleven (PSD), Lino Bispo (PL), Marcelo Garcia (PRD), Milton Vieira Filho (Republicanos) e Rogério do Acasem (PP).
As maiores bancadas serão a do PSD, com seis vereadores, e a do PL, com cinco. Em seguida, vêm PRD, PSDB e PT, com dois vereadores cada, e Cidadania, PP, Republicanos e União, com um vereador cada.
PALANQUE
Por dois votos
Quase inacreditável. A diferença entre as votações de Sérgio Camargo e Shakespeare Carvalho, ambos do PL, foi de apenas um voto. O primeiro obteve 3.465 votos e o segundo, 3.464. A legislação diz que em caso de empate entre dois candidatos, se elege o mais velho. Ou seja, faltaram dois eleitores para que Shakespeare retornasse à Câmara, onde já ocupou a presidência. Apenas um voto a mais daria empate e Sérgio Camargo continuaria com a vaga por ser mais velho que o concorrente. Esta vai ficar na história.
A cara do Brasil
Os partidos que formam o chamado Centrão avançaram na hegemonia entre os prefeitos do país depois da eleição de domingo. Juntos, PSD, MDB, PP e União Brasil, os quatro primeiros, conquistaram mais da metade das prefeituras, ou seja, mais de 3.000 eleitos no primeiro turno. PL e Republicanos, partidos de direita, ocuparam a quinta e sexta posição, seguidos de PSB (7º), PSDB (8º), PT (9º) e PDT (10º).
Ainda falta a definição de várias capitais e cidades médias que foram para o segundo turno. Mas a cara política do país não vai mudar: tem maioria que vai do conservadorismo à extrema direita.
Futuro garantido
Em São José, dois dos candidatos nesta eleição trouxeram uma boa perspectiva para o cenário político. O Dr. Elton (União) entrou na disputa para valer e quase chegou lá. Agora retorna à Assembleia Legislativa e tem tudo para voltar a disputar a prefeitura daqui a quatro anos, mais experiente e corrigindo rumos.
Outra cara nova é o professor Wilson Cabral (PDT), que apesar de ser figura conhecida em movimentos como o ambientalista, só agora mostrou disposição para disputar a Prefeitura. No seu agradecimento aos eleitores (veja acima), Cabral adiantou que não pretende se distanciar do jogo político. A cidade ganha com isso.
Reconstrução
Enquanto isso, a esquerda joseense conseguiu marcar posição na campanha, sendo propositiva e realista nas suas propostas. Wagner Balieiro (PT), pelo desempenho que alcançou em debates, sabatinas e nas ruas, teve menos votos do que merecia. Mas, como disse a presidente nacional petista, Gleisi Hoffmann, o PT é um partido em reconstrução. Balieiro fez a sua parte.
Já o candidato Toninho Ferreira (PSTU) cumpriu o papel de defender as teses da esquerda, os movimentos populares e benefícios para a população como a tarifa zero no transporte e a ampliação da regularização fundiária. É um nome necessário na política local.
TOQUE FINAL
“A política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça.”
Aristóteles
Filósofo grego
*Texto atualizado às 10h37 do dia 8/10/2024 após revisão ortográfica e de estilo e inclusão de vídeo do candidato Prof. Wilson Cabral.